Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

Apenas um

Como definir Elon Musk?

Por Vittorio Medioli
Publicado em 29 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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Como definir Elon Musk? Certamente é um desalinhado, um visionário, um personagem de Isaac Asimov, de Júlio Verne, um inconformista, um empresário que não depende de ajudas do Estado e a ele não se curva. Deve ter bem mais. 

Um incômodo para os políticos em geral. Ele define Joe Biden, presidente dos EUA, como “marionete das meias molhadas em versão humana”, mas enxerga em Bolsonaro algumas virtudes e aqui esteve para ouvi-lo com satisfação. 

É um entusiasta da liberdade, não do liberalismo “londrino”, como alguns o definem, nem do liberalismo brega que paga R$ 300 a uma empregada do Mucuri. 

O liberalismo ortodoxo procura minimizar ou ignorar o lado social, humano. Ele o exalta em seu mais alto nível e o descreve como o farol de suas escolhas: “Minha primeira preocupação é a humanidade”, não o lucro. 

Já esteve várias vezes à beira da falência; quando ganhou algo, ousou investi-lo integralmente em novas fronteiras, pulando de galho em galho para onde a necessidade de evolução e conquistas o atraíam. 

Hoje ele prepara o desembarque e a colonização do planeta Marte. 

Defende a experimentação prática como forma de acelerar os avanços. Arrisca. Tem um cabedal de conhecimentos enorme, forjado em estudos ecléticos e profundos, declara-se também entusiasta do esotérico Tolkien – autor de “O Senhor dos Anéis”. 

Com apenas 51 anos e um patrimônio de U$ 300 bilhões, ele age como um “enviado”, um “Cristóvão Colombo”, um avatar. 

Ele apostou em cinco direções: exploração espacial (e colonização), energia sustentável, internet, inteligência artificial e capacidade de reprogramar o código genético humano, ou genoma. 

Sentindo-se nas mãos de burocratas de cepa socialista, ideólogos antimercado, pró-impostos e pró-regulação, depois de uma rusga com o mundo oficial, migrou seus empreendimentos para o Texas. Foi preciso uma acusação retumbante dos reguladores do Estado da Califórnia, que processaram Musk por suposta discriminação de funcionários negros pela Tesla. As acusações fizeram com que a empresa, agora com capitalização de US$ 1 trilhão (valor suficiente para quitar a dívida pública brasileira), migrasse para Austin, no Texas. 

O bilionário Musk não é como Jack Dorsey, do Twitter, não defende praticamente nenhuma das causas que agradam a “pessoas que pulam em todas as causas sociais do dia”. 

Ele, na briga pró e contra a vacina, postou: “Os não vacinados estão correndo riscos, mas as pessoas sempre fazem coisas arriscadas”. E ainda: “Acredito que devemos ter cuidado com a erosão da liberdade”. Viva a liberdade. 

Não esconde sua aversão ao populismo, à politicagem, à burocracia, à regulação autoritária: “Os políticos e burocratas não eleitos, que roubaram nossa liberdade, devem ser cobertos de piche e penas e ser expulsos da cidade”. 

A intervenção que transfere recursos dos mais produtivos para os menos produtivos, segundo ele, “finge fazer o bem, quando na verdade causa danos”. 

Ainda afirma: “O verdadeiro socialismo (aquele que ele pratica) busca o maior bem para todos”. E descarrega sua contrariedade: “Aqueles que afirmam ser ‘socialistas’ geralmente são deprimentes, não têm senso de humor e frequentaram uma faculdade cara”. Sem poupá-los, comenta: “O destino adora ironia”. 
Quanto a graduação e doutorado? “Completamente inúteis, só servem para se divertir”. Mas ele anunciou sua intenção de fundar uma nova universidade, o Instituto de Tecnologia & Ciência do Texas, em resposta às tradicionais instituições. 

Recentemente postou: “O velho mundo morre em uma chama de esplendor”. E, para deixar uma ideia, transcreveu uma passagem de Barbara Tuchman tirada de “As Armas de Agosto”: O espetáculo da manhã de maio de 1910 foi maravilhoso, quando nove reis compareceram ao funeral de Eduardo VII da Inglaterra. A multidão, esperando em silêncio e admirada, vestida de preto, não conseguia segurar suspiros de admiração. Três por três, os governantes caminharam pelos portões do palácio, com capacetes emplumados, tranças douradas, vestes carmesim e joias brilhando ao sol. Depois deles vieram herdeiros, altezas imperiais, rainhas – quatro viúvas e três governantes – e um punhado de embaixadores de países sem coroas. Juntos, eles representaram setenta nações na maior reunião de realeza e patente já vista em um lugar e, de sua espécie, a última. O sino abafado do Big Ben marcou nove horas quando a procissão deixou o palácio, mas no relógio da história estava o tramonto do velho mundo, o sol estava se pondo em uma chama de esplendor que nunca mais seria vista. 

Para comentar o mundo em guerra, usa Tolkien: “Não podes combater o inimigo com a mesma arma dele sem se transformar, também, no inimigo”. 

Aposta: “No longo prazo, vamos conseguir a energia do sol e do vento. E precisamos pensar positivamente sobre a energia nuclear, não a tradicional. Fiquei surpreso com países que abandonaram recentemente a energia nuclear”. 

Ele mostra-se assustadoramente pessimista quando trata da inteligência artificial, “mais perigosa que armas atômicas”. 

Ainda revela uma obsessão: “Não temos mais filhos suficientes”. Talvez por isso ele já tenha sete herdeiros das três últimas esposas. 

Com a ideologia de gênero: “Eu apoio absolutamente as pessoas trans, mas todos esses nomes que as definem são um pesadelo estético”, escreveu Musk. 

Para o politicamente correto: “O fanatismo do politicamente correto obscura a cultura, é uma das maiores ameaças à humanidade”, ainda a deixa “dividida e odiosa”, é “um vírus mental”. 

Para o chefe da Tesla, as pessoas que pensam “correto” colocam em risco a comédia: “Há muitos tabus e propaganda. E não é divertido”. 

Se os bilionários do Vale do Silício se dedicam à pesquisa para derrotar a morte, não excluindo o uso do CRISPR, uma ferramenta de edição de genes incrivelmente poderosa e eficaz, mas acusada de eugenia, ele reflete: “Devemos alterar a espécie para tornar a humanidade menos suscetível a vírus? Parece uma vantagem maravilhosa, especialmente no meio da pandemia. Mas que tal tentar se livrar da surdez ou da cegueira? E os deprimidos? Por que não ir mais longe e permitir que os pais melhorem seus filhos, dando-lhes um QI maior, músculos mais fortes, maior altura e um tom preferido de pele e cabelo?” 

Elon Musk criou Neuralink, neurotecnologia de fronteira. O dispositivo é um implante, um link, que é montado no cérebro humano por meio de fios conectados a regiões cerebrais associadas ao movimento. 

Musk alertou que a inteligência artificial é “potencialmente mais perigosa do que as armas nucleares”, sugerindo que seu investimento foi feito porque ele estava “preocupado com o rumo da tecnologia”. Ele também ajudou a criar um laboratório de pesquisa em inteligência artificial, o OpenAI. Mas declarou que a inteligência artificial poderia ser a causa “mais provável” de uma terceira guerra mundial, em resposta ao presidente russo, Vladimir Putin, que disse que o primeiro líder global em inteligência artificial “se tornaria o governante do mundo”. 

Porém, Musk vê a inteligência artificial como causa de destruição do trabalho: “Definitivamente haverá uma interrupção do trabalho, porque os robôs serão capazes de fazer tudo melhor do que nós... Quero dizer, todos nós. Isso é assustador”. 

Compara a adoção da inteligência artificial à “invocação do diabo”. “Estamos caminhando rapidamente em direção a uma superinteligência digital, que supera de longe qualquer ser humano”. Mark Zuckerberg reagiu a essa afirmação sombria de Musk como “irresponsável”. De troco, Musk respondeu que “a compreensão do colega sobre o assunto é limitada”. E pagou, assim, para que o documentário “Do You Trust This Computer?” fosse disponibilizado gratuitamente no YouTube. “É um tema muito importante e vai afetar nossas vidas de maneira que nem podemos imaginar agora”. 

Tuitou: “Se o colapso alarmante na taxa de natalidade continuar, a civilização realmente morrerá com um gemido nas fraldas para adultos”. O comércio de fraldas se inverteria, assim, no apagar das luzes, de infantis para geriátricas. 

Ele explicou a um repórter que as pirâmides populacionais invertidas levam a situações econômicas insustentáveis: “Tudo estaria prestes a desmoronar, o mundo não suportaria”. 

Para ele, temos muitas pessoas no planeta, mas essa preocupação na realidade é uma visão ultrapassada. O maior problema que o mundo enfrentará em 20 anos será o colapso da população. Não a explosão. 

“Se as pessoas não têm mais filhos, a civilização é obrigada a desmoronar, lembre-se disso”. Musk voltou a falar nas redes sociais: “Deveríamos estar muito mais preocupados com o colapso da população”. 

Ele procura e acredita em novas fronteiras em Marte, que a humanidade poderá colonizar. 

De Musk tem apenas um. 

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