Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

Atiradores de pedras

Poder-se-ia viver um momento bem diferente no Brasil, mas será preciso aguardar novas crises, sofrimentos, atrasos, desgraças, num país que tem pressa de crescer, melhorar, alinhar-se com os novos tempos

Por Vittorio Medioli
Publicado em 16 de maio de 2021 | 03:00
 
 
 
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Não consigo, nem com todo esforço, assistir mais que um minuto de cobertura jornalística da CPI da Covid. Não interessa o canal de TV. Nessa paródia bufa, não há imparcialidade, vontade de esclarecer. Aproveita-se, no meio da maior tragédia dos últimos cem anos, tirar diretamente proveito político e eleitoreiro. Adotam-se métodos que fizeram sucesso em outros tempos, quando as motivações eram sustentadas por uma moralidade “natural”, quando os parlamentares eram de maior quilate. Na miudeza atual, se aniquilou a intenção de ajudar a encontrar saídas; propor soluções, nem pensar. Mas o repúdio maior dos espectadores imparciais é aos atores escalados para revirar as vísceras dos “condenados por antecipação”. A imunidade parlamentar, nota-se, é (ab)usada com agressividade, bazófia, truculência, atrofia intelectual e nanomoralidade. As limitações patéticas dos atores fazem das circunstâncias um espetáculo horripilante. Os inquisidores, ávidos de notoriedade, mostram-se dublês de Tomás de Torquemada, à procura de um sacrílego pretexto para condenar à fogueira os convidados e o presidente da República. Exercitam-se em prolixos e fátuos solilóquios, que ocupam tempo desnecessariamente.

Desperdiçam tempo de uma vida que passa depressa e não deixará para a posteridade, além de uma folha corrida, realização alguma.  

Embora o governo se equivoque na procura de soluções práticas e factíveis, o Congresso não mostra capacidade de propor soluções, de aproveitar-se das prerrogativas legais que possui. Apenas críticas destrutivas, algumas abestalhadas, e discussões patologicamente inúteis.  

Vivemos, por renúncia dos demais Poderes, no “Império do STF”, que ocupou o vácuo deixado pela desmoralização do Poder Legislativo, pelas fraquezas do Executivo, penalizados pelas improbidades, incompetência e rastejante analfabetismo político que esqueceu seu compromisso com o bem da população.    

Mas o que deixa intragável essa CPI são, em especial, as qualidades dos atores. Como dizia o Mestre, “quem está sem pecados, atire pedras”, e a sabedoria popular paralisou os presentes, mas o Congresso é o contrário. O primitivismo ético faz com que se atirem centenas de pedras pelos notórios pecadores sentados em seus castelos de areia.    

Com essa cobertura de CPI, a mídia perde; quem ganha são Netflix, Prime e YouTube, que servem de refúgio à intragável representação dos senadores.     

Poder-se-ia viver um momento bem diferente no Brasil, mas será preciso aguardar novas crises, sofrimentos, atrasos, desgraças, num país que tem como prioridade a pressa de crescer, melhorar, alinhar-se com os novos tempos.  

E o que dizer do profundo contentamento que poderia nascer de estarmos no caminho certo, dirigidos pela verdade, caridade e compaixão? Por compreendermos claramente a meta e a estrada que nos são dadas, e sabermos que o poder de ser útil aumenta em nós, e que a nossa natureza inferior vem perdendo pouco a pouco sua intensidade?  

E quão pouco se tem lido e ouvido, também, dos raios de alegria que caem sobre quem avança rumo aos níveis superiores de consciência e da glória celestial que acalma as almas puras. Mais ainda, da serenidade que as tempestades terrenas não abalam quando uma personalidade sincera se orienta pelo bem de todos. Quando é que não se perderá mais tempo e vida em intrigas mesquinhas e abusos da boa-fé dos inocentes?  

Para alguém que entrou no caminho devotado ao bem, como deveria ser um político, opções que nada custam e gratificam imensamente, bastaria uma firme vontade interior, o autocontrole nas escolhas. Nada paga a serenidade em equilíbrio; nem mesmo as tristezas abalam mais, são vistas e sentidas como momentos necessários e até concedem um prazer na hora da superação.   

Que ninguém se desespere por imaginar a tarefa grande demais para si. O que o homem fez, outro homem pode fazer, e, exatamente na proporção que dermos auxílio àqueles que podemos ajudar, nós teremos ajuda e satisfação.  

Apesar de este texto parecer um devaneio, a humanidade neste começo de milênio se encontra numa aceleração nunca experimentada, e uma onda está por vir para varrer castelos de areia.

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