Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

Brant, amor a Minas

Se é verdade que as 23 pessoas exoneráveis “ad nutum são inúteis ao Estado, por que não foram demitidas anteriormente?

Por Vittorio Medioli
Publicado em 14 de agosto de 2022 | 03:00
 
 
 
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Custa-me acreditar. Ato do governador Romeu Zema dispensou no dia 10 de agosto, faltando uma semana para o início da campanha eleitoral, todos os assessores do gabinete do seu vice-governador, Paulo Brant (PSDB-MG). Até o mínimo que representaria o decoro do segundo homem mais importante do Estado de Minas foi retirado. Perdeu todos. Secretária, segurança, motorista, assessores. Nunca se viu algo assim, comparável a um ato insano de “führer” alemão. 

Brant deverá, a partir de amanhã, sentar-se à recepção do seu gabinete para receber visitas e ligações, responder a toda e qualquer demanda que uma vice-governadoria atende. Perdeu até o mínimo para exercer as prerrogativas do cargo relevante e constitucional que ocupa. Foi tirado de cena. 

A decisão representa uma explosão discricionária de poder. Reafirma a intolerância, a incapacidade de administrar dentro da legalidade e da harmonia que são deveres de um governante. Como no caso do Rodoanel, em que os prefeitos que defendem a integridade de sua gente, de suas atividades econômicas e do simples viver são intimidados e descartados sem qualquer cerimônia, apenas por defenderem o respeito de uma população.  

Quem age assim provavelmente acredita governar um feudo, em que se impõe apenas o seu desejo e interesse, mesmo que seja contrário ao da maioria e daqueles que pensam diferente.   

Um gesto considerado inimaginável, ausente na história republicana, e num Estado outrora reconhecido como um exemplo para os demais. 

Revela-se de uma forma inusual, arbitrária, patrimonialista, intimidadora, sem relação com o interesse público e com o bom senso. 

Uma tosca retaliação pela recente decisão de Paulo Brant de aceitar o convite de participar da campanha de outro candidato do seu partido, como vice. 

Brant de certa forma também ocupa um cargo conquistado nas urnas, e o governador tem que respeitá-lo, sem atitudes que desarticulem suas atividades, mesmo em época eleitoral, agora concorrendo com ele em outra vertente. Este pode ser um abuso de poder para penalizar adversários, tirando dele a possibilidade de exercer suas prerrogativas. 

Se é verdade que as 23 pessoas exoneráveis “ad nutum” são inúteis ao Estado, por que não foram demitidas anteriormente? 

A extinção de cargos que acompanham um candidato no exercício do cargo eletivo, que o submete ao constrangimento, inviabilizando até o simples atendimento de ligações e correspondências, das quais ele é credor por parte do Estado, representa um abuso desleal. 

Olhando pelo prisma do interesse público, uma medida como esta afirma que por 3 anos, 8 meses e 10 dias o governador manteve 23 pessoas em cargos desnecessários? 

Aparentemente, os gastos anteriores a partir da emissão foram classificados como “inúteis” ao Estado. 

O que vemos é um atentado político, um gesto imoral de represália por inviabilizar com suas decisões o que a Constituição estabelece: a impessoalidade e o interesse público no exercício do governo. 

Brant, numa breve e serena conversa comigo, não usou qualquer palavra ofensiva ou revoltada, limitou-se a dizer que lamentava pelos 23 assessores demitidos e suas famílias. Ficou extremamente preocupado com o destino de Minas Gerais, exposta ao risco da intolerância, do rancor, do revanchismo, do despreparo para respeitar a liberdade. 

Nesse vexame quem perde é o autor da decisão que reduz Minas a um “território” sem lei, a uma republiqueta das bananas. 

Ele estava tolerante e tranquilo, mesmo com a forma de demitir que parece aplicada a uma empregada por um tosco patrão, sem agradecimento pelos bons serviços prestados, pela fidelidade e até por um irrepreensível silêncio, apesar de todos os constrangimentos suportados nos últimos anos. E isso no Estado que reverencia, em sua bandeira, a liberdade como algo sagrado. 

Paulo Brant é de uma família de intelectuais, artistas, políticos que fazem parte da história de Minas e do Brasil, exemplos de respeito, engajamento corajoso nos momentos mais decisivos para deixar nossa terra melhor. 

Se tem pessoas em Minas que já mostraram amor ao Estado, e de forma alguma merecem uma agressão tresloucada, são ele e sua valorosa família. Solidariedade. 

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