Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

Opinião

Correntes alternadas

Por Vittorio Medioli
Publicado em 21 de janeiro de 2024 | 03:00
 
 
 
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Sem um oposto nada chega à percepção humana. É a escuridão o contraposto que permite identificar o que é luz. Uma se faz imprescindível para atenuar os princípios, características e forças da outra; uma ilumina, aquece e ativa, outra escurece, esfria e repousa. Tanto uma quanto a outra, sem a existência de um contrário, seriam capazes de arrasar o mundo, ou pelas chamas, ou pelo gelo.

A cultura chinesa acredita na presença de um par de forças ou princípios fundamentais do universo, ao mesmo tempo antagônicos e complementares, em perpétua oscilação de predominância (supremacia relativa ou passageira do yin ou do yang), presentes nas manifestações orgânicas, psicológicas e sociais do ser humano e na dimensão inorgânica da natureza. Assim define o “I Ching”: “O yin-yang é a representação do princípio da dualidade, onde o positivo não vive sem o negativo e vice-versa”.

Se entrarmos na esfera política, encontramos, historicamente, o enfrentamento de opostos. Situação e oposição. Os antagônicos e suas derivações são benéficos por representar o freio do outro e conter em parte seus excessos.

O fortalecimento de um não depende apenas do que há de bom nele, mas especialmente do que há de ruim no opositor, aliás, foi essa ruindade que determinou as grandes mudanças e revoluções. Confirma que “não tem mal que deixe de acontecer para o bem”.

A exploração dos pecados de um nem sempre é realizada com eficácia pelo lado oposto, pois o subjugado raramente tem condições de reagir à altura. Registra-se que a reviravolta acontece mais frequentemente de dentro, “interna corporis”, como afirmavam os romanos, decorrente de desavenças intestinas. Intrigas que dificultam o funcionamento coeso tendem a piorar os resultados práticos. Por essa razão, aumentam a aflição das multidões e as motivam a reagir.

O povo tende a se aproximar do lado oposto àquele que lhe gera sofrimento e migrar para ele, como reação natural, como legítima defesa de seus interesses.

Reconheceu na última semana, nas redes sociais, o maior teórico e farol do Partido dos Trabalhadores (PT), José Dirceu: “Se analisarmos a situação da direita, não só parlamentar e eleitoral, também diretórios, territórios e militância, os partidos de direita cresceram e estão ficando fortes… Hoje o Brasil está muito politizado e em disputa político-cultural. E a direita está ganhando”. Dirceu concluiu que o PT “precisa repensar sua estratégia diante desse panorama”.

Ele traduz para português claro uma situação que está exposta e indisfarçada. Militância espontânea sobra à direita, o que lhe falta é organização política, a mesma que sobra ao PT e o mantém hegemônico.
Vive mais do carisma de Lula e do que ele representa em camadas sociais mais carentes, contudo encontra os entraves do clientelismo gigantesco, tanto para agradar às exigentes coligações partidárias que o levaram a criar 38 ministérios, contra os 22 de seu antecessor, quanto para agradar a suas bases sociais, que querem sentir no “estômago” as melhorias.

O PT, muito atual na fundação, entrou no vácuo aberto por uma direita, naquela época, ultrapassada, que por sua vez se desatualizou, e o partido agora enfrenta uma direita que vem evoluindo com o crescimento das tecnologias e do bem-estar e parece mais sintonizada com as aspirações da sociedade.  

O desafio de Dirceu é grande, até porque os ciclos são alternos, e quem está no poder tende a se acomodar.

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