Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

De Nero ao Petrolão

Entendem viver a serviço do dinheiro, e não da harmonia e do bem da humanidade

Por Vittorio Medioli
Publicado em 14 de abril de 2019 | 04:30
 
 
 
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Para o “Arbiter Elegantiarum”, Petrônio, grande mestre de cerimônia na corte de Nero no século I d.C., “habes, habeberis”, ou “um homem vale aquilo que possui”.

A máxima petroniana continua valendo, e valeu tragicamente no Brasil dos últimos tempos. Podemos reconhecer sua presença nas maiores desgraças, não só de Nero, mas também dos últimos presidentes brasileiros, atolados no escândalo do petrolão. Tudo por ter, e nada por ser. Ser útil, respeitado, lembrado com admiração, amado.

Petrônio escreveu o “Satyricon” e cravou assim, na história, as façanhas do rico Trimalchionis, um riquíssimo romano, que organizava banquetes suntuosos, varando madrugadas, entre prazeres concedidos por iguarias e bebidas, drogas e perfumes, exibições sem limites de gastos, ousadia e perversão.

O ponderado Horácio discordava dos excessos: “Marfim, mármore, berloques, estátuas, pinturas, prataria, roupas finas não são tudo. Muitos (homens) passam sem tais coisas, e tem outros que sequer se preocupam com elas” (Epistulae, II.2.180).

Nos dias atuais, o valor das posses é reconhecido tão universalmente que dispensa recomendações e leva os incultos a se medirem pelos esbanjamentos.

Nas dissertações sobre a felicidade, Arthur Schopenhauer sustenta: “É mais sábio ter como meta a manutenção de nossa saúde e o cultivo de nossas faculdades que a aquisição de riqueza (que levam a prazeres passageiros). Embora não devamos negligenciar a aquisição do que é necessário e apropriado, riqueza, no sentido estrito, isto é, grande superfluidade, pode realizar pouco pela nossa felicidade. Muitas pessoas ricas são infelizes porque carecem de qualquer cultura mental, de qualquer conhecimento e, portanto, de qualquer interesse objetivo que poderia qualificá-las para atividades intelectuais”.

Pondera ainda: “Os indivíduos são mil vezes mais preocupados em se tornarem ricos que na aquisição de cultura, embora seja quase certo que aquilo que somos contribui muito mais para a nossa felicidade que aquilo que temos. Então, vemos muitos trabalhando incessantemente (por falta de melhor opção) para ampliar a riqueza que já possuem. Além de dominar o estreito horizonte para esse fim, não sabem nada; suas mentes estão em branco e, consequentemente, impassíveis (e obscurecidas) de quaisquer outras influências. Os prazeres mais elevados, aqueles do espírito, lhes são inacessíveis, e em vão tentam substituí-los pelos fugidios prazeres dos sentidos, aos quais se entregam ocasionalmente com pouco gasto de tempo, mas muito de dinheiro”.

Para o filósofo alemão, “com boa sorte, no fim de suas vidas terão como resultado uma enorme quantidade de dinheiro, que então deixam para seus herdeiros, seja para ampliá-la ainda mais ou esbanjá-la. Tal vida, embora exercida com grande seriedade e um ar de importância, é tão tola quanto tantas outras que têm um chapéu de burro como símbolo”.

A história se repete, com insolente frequência, no presente. “Habes, habeberis” é que dita a hierarquia de pessoas estultas que consideram “ter” bens e riquezas (imerecidas e inúteis) – possuídas pelos sentimentos mais evanescentes. Em comum, desprezam a importância de “serem” personalidades úteis, saudáveis e sábias. Entendem viver a serviço do dinheiro, e não da harmonia e do bem da humanidade. Perdem-se e desgastam-se em competições para ter o que nunca usarão.

“O dinheiro é uma felicidade humana abstrata; por isso, aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira felicidade humana dedica-se completamente a ele”, conclui Schopenhauer.

Quer ser feliz? Pense menos no dinheiro e mais em você. A vida pode ser uma obra de arte.

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