Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

Hoje diferente de amanhã

Zema tem muitas razões para estar preocupado

Por Vittorio Medioli
Publicado em 12 de junho de 2022 | 03:00
 
 
 
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Quando faltavam três meses para as eleições de 2018, Romeu Zema era conhecido por menos de 5% do eleitorado, e apenas 1% votaria nele em Minas Gerais. Todos sabem, mas vale a pena repetir, que Zema deixou fora do segundo turno o governador em exercício, Fernando Pimentel, e, apesar dos prognósticos, quando faltavam quatro semanas para o veredito do segundo turno, estava na prática “derrotado”. Mesmo assim, aniquilou o adversário com 72% dos votos válidos. Multidões de eleitores mudaram de ideia e por razões que afloraram na última hora. 

As experiências precedentes, até a última, de 2018, devem despertar certa atenção, pois favoritismo neste momento pode ser uma miragem que, ao se aproximar da eleição, muda drasticamente, e o que se via era uma ilusão. Surge hoje que o resto da campanha poderá ser diferente de uma marcha triunfal para o líder das pesquisas atuais e muito depende dele. 

Aliás, a posição de liderança, numa análise pontual dos dados fornecidos pela pesquisa publicada na última semana pelo DATATEMPO, revela ingredientes fortíssimos para redobrar os cuidados de Romeu Zema. 

O principal adversário de Zema é Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte, mas pode ser ele mesmo, por erros e superficialidades, a entregar a cadeira a Kalil. 

O ex-prefeito de Belo Horizonte ganha de Zema por ampla margem na região metropolitana, a mais populosa e uma espécie de fundo de bateia. O que quer dizer? Onde os dois possuem o mesmo índice de conhecimento, Kalil vence. Nas regiões onde o conhecimento dele cai verticalmente, Zema abre larga vantagem. O trunfo de Zema pode esvaziar-se porque, até o final de campanha, o debate aumentará a notoriedade de quem tem menos, como aconteceu com o próprio Zema em 2018, prevalecendo outros fatores mais complexos e determinantes. 

Outra razão que deve aumentar as atenções de Zema está na grande massa de votos não “decididos”, cerca de 50% dos eleitores que o preferem numa pesquisa estimulada. Isso está muito ligado à notoriedade que Zema tem em relação aos demais concorrentes. Ninguém sonha em votar em quem não conhece. Existe, portanto, ampla volatilidade de intenção numa grande parcela dos eleitores dele, cerca de 3,5 milhões de votantes, que não encontram motivo firme para escolher Zema. São eleitores potenciais, que precisam ser conquistados.   

Quer dizer que o atual governador não deu motivações fortes, marcantes, conquistadoras, que atingissem mais profundamente e cativassem os eleitores. Ele continua a reclamar dos governos anteriores, talvez em excesso, fato que, transcorridos três anos e meio, não tem mais muito apelo, soa como pretexto, já ao menos deveria lembrar algo que fez, que “construiu”. O que os olhos possam ver e a mente não esquecer. 

No lado oposto, sombreia assustadoramente o brilho de Zema não um candidato ao governo do Estado, mas Lula, candidato a presidente, que, por uma grande parcela dos entrevistados (apesar da inegável corrupção escancarada pela Lava Jato e dos bilhões devolvidos ao erário), deixou marcas sociais. Para a população de baixa renda, maior parcela do eleitorado, Lula é visto com saudade. 

Verdade é que na época dele se registrava uma expansão, nunca vista, da economia mundial, e o Brasil surfava na onda, ao contrário da retração provocada pela pandemia ultimamente, mas, a torto e a direito, essa fatia de eleitores que votam em Lula e em Zema tem razões diferentes e mais fortes para seguir Lula. 

Zema colocou em dia o pagamento do salário dos servidores, mas nem com isso os servidores votam nele em sua maioria; nestes, ele sofre um engajamento contrário maiúsculo. Paradoxalmente, onde os eleitores que seu governo atingiu positivamente, sofre derrota. 

A maioria de intenções de votos pode ser definida “contrária à lógica”. 

A pesquisa mostra que, no cenário mais real, quando entram em campo as coligações, o favoritismo de Zema literalmente evapora, e são os eleitores “enraizados” de Lula que migram para Kalil e lhe dão uma vitória arrebatadora de 40% contra 24%. Sem Lula no páreo, Zema ganha de 45% a 23%. 

Qual dos dois cenários prevalecerá? Na eleição o apoio de Lula a Kalil pode ser escondido, desfeito, enterrado? 

Não parece possível, e isso marca, assim, uma provável vitória dele. 

Zema tem muitas razões para estar preocupado. 

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