Vittorio Medioli

Vittorio Medioli

Empresário e político de origem italiana e naturalizado brasileiro, Vittorio Medioli está em seu segundo mandato como Prefeito de Betim. É presidente do Grupo SADA, conglomerado que possui mais de 30 empresas que atuam em diversos segmentos da economia, como logística, indústria, comércio, geração de energia e biocombustíveis, além de silvicultura, esporte e terceiro setor. É graduado em Direito e Filosofia pela Universidade de Milão. Em sua coluna aborda temas diversos como economia, política, meio ambiente, filosofia e assuntos gerais.

O TEMPO

Inércia que dói

Redação O Tempo

Por Vittorio Medioli
Publicado em 17 de julho de 2016 | 03:00
 
 
 
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Em 2015 estive no Palácio do Planalto junto a um grupo de representantes de entidades sindicais. Apresentamos ao governo federal o Plano de Renovação de Frota (PRF), que teria três objetivos igualmente relevantes para o país e salvaria Dilma da queda.

O primeiro dos objetivos: retirar de circulação, inicialmente, a cada ano, veículos com mais de 25 anos de uso, impróprios para a segurança no trânsito e, ainda, emissores de elevadas quantidades de CO². A troca seria incentivada por meio de bônus de R$ 8.000 por veículos leves e de R$ 40 mil por pesados, levando para uma reciclagem correta os veículos mais obsoletos, com a fragmentação de todos os seus componentes. Por tabela, se gerariam milhões de toneladas de matéria-prima para as indústrias, economizando recursos naturais. Entrariam também no moedor os veículos que acabam por “morrer” em áreas públicas e privadas com grave prejuízo ao meio ambiente. No plano de reúso entrariam uma montanha de pneus e as baterias encaminhadas aos centros de reciclagem dentro dos veículos. A logística passaria a ser “reversa”, aproveitando caminhões que voltam atualmente vazios para as montadoras. Teríamos, assim, um plano nacional eficiente e articulado que surgiria para combater o Aedes aegypti, que prolifera nos resíduos sólidos abandonados, provocando a dengue e a doença causada pelo zika, que se manifesta terrivelmente na microcefalia de inocentes.

Se a primeira razão é nobre, a segunda, com a implementação, já atrasada, do Plano de Renovação de Frota, é a reativação da produção industrial, realizada pela troca do carro poluidor por um novo, predisposto para baixa emissão e consumo. A consequência óbvia será a geração de milhares de empregos nas indústrias, pondo um fim à recessão.

Apenas em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, desde o início do ano atingiram a condição de desempregados cerca de 8.000 trabalhadores, em decorrência da queda de 40% da produção automotiva desde 2013. Nos últimos seis meses, cerca de 3.500 CNPJs deram baixa, e 400 lojas fecharam. Por outro lado, aumentou a criminalidade a nível insuportável para a população.

Não bastassem essas catástrofes sociais, a decisão de implantar o PRF provocaria o que mais precisam os erários, com um aumento de arrecadação de R$ 50 bilhões diretamente na cadeia automotiva e um reflexo de outros R$ 100 bilhões na indução de atividades econômicas derivadas. Isso se contraporia à queda de receitas públicas, que deixou o cobertor curto e furado para agasalhar as demandas ampliadas pela crise. As prefeituras e os Estados tentam hoje fechar equações impossíveis, cortando até o imprescindível para a população.

O Plano de Renovação de Frota adicionaria no mercado, já em seu primeiro ano de efetivação, 750 mil veículos de passeio e 60 mil caminhões novos. Exatamente nessa categoria de pesados a redução de CO² seria gigantesca, em relação de 1 por 40. O PRF é autossustentável, seria suficiente adicionar R$ 0,09 por litro de combustíveis e lubrificantes derivados de petróleo, gerando um fundo de R$ 10 bilhões por ano. Valeria a pena para criar mais de 700 mil empregos, R$ 150 bilhões em receitas e um retorno ao crescimento.

Tudo está pronto e equacionado, com projeções, vistas e revistas, com leis redigidas e justificativas de clareza meridiana. E o que falta? Competência e visão de Estado, interesse pela população desempregada e castigada.

O governo federal de Dilma Rousseff teria tido nisso sua salvação, e agora o de Michel Temer trilha o mesmo caminho. Não possuem técnicos habilitados, entre os milhares de cabides de empregos, que consigam enxergar o óbvio. Sem olhos para enxergar o óbvio, demonstram que os governos são montados para desfrute do poder, e não para apoiar a sociedade.

A Lava Jato se transformou num compêndio de criminalidade e de baixezas, que, somadas à incompetência, deixam um quadro sombrio a nossa frente. Nem o prato feito e temperado os governos sabem aproveitar.

Nem uma simples assinatura são capazes de dar para ajudar a salvar a pátria. O Brasil afunda, assim, com timoneiros que vivem de festa perdendo-se na navegação. 

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