Se as pesquisas de intenções de voto servissem de verdade, quando faltam 11 meses para a escolha do novo presidente, teríamos agora um quadro um tanto desalentador.
O Brasil voltaria a ter Lula, desta vez diminuído pelas denúncias de corrupção, e com seus ex-generais presos em Curitiba, ou um Jair Bolsonaro, que de governo tem poucas e vagas noções.
Duas candidaturas com discursos extremos. Um querendo se vingar das ofensas e acusações, mostrar assim que não é o que dizem dele. Certamente não mais o “Lulinha paz e amor” que encantou o povo em seu melhor momento. A alternativa dele tem como mote varrer o lulopetismo até o último vestígio e implantar um regime autoritário militarista.
São candidaturas sem propostas mínimas de governo, apenas acenos fortes e marcas pessoais, exacerbadas pelo messianismo de alguém que de messias não tem a face nem o carisma.
Tanto uma como a outra emanam vingança e mostram ser inábeis para conciliar, aglutinar, estabilizar, levar para além do mar vermelho seu povo exilado da modernidade. A exaltação dos defeitos e dos vícios do oposto atesta a carência de virtudes de estadistas que possam preencher o que mais se exige de um condutor da prosperidade de uma nação.
As alternativas visíveis e preferidas neste momento apontam para um governo “sindical” ou outro “militar”. A maior parte da nação não quer nem um, nem outro. A pluralidade e o equilíbrio são condições sine qua non. Disso pode se crer que esse quadro ainda apresenta-se aberto a mudanças. Falta um intérprete do pensamento mais comum.
Nenhum dos dois, Lula ou Bolsonaro, é de consenso. Marcados por rejeição espantosamente superior às intenções de voto, não garantem ao eleitor a promoção de um Brasil moderno, confiável, estável. A intolerância e o porrete despontam nos discursos dirigidos ao MTST ou às Forças Armadas. Nisso a sociedade plural, a majoritária, continua fora, assim como quem trabalha e sua a camisa para se manter e contribuir com 40% do que produz para o Tesouro Nacional.
O Brasil dos extremismos de direita ou de esquerda não será o Brasil da normalidade, da harmonia. Num horizonte, mais que fortes contrastes, é preciso ter segurança jurídica, a vontade de reformular a burocracia, de gerar modernização, de instalar confiabilidade que atraia investimentos e progresso.
Existem hoje mais dúvidas e temores, uma angústia nacional de que o país continuará fora do rumo certo.
A popularidade e as intenções de agora não significam necessariamente votos em outubro de 2018. O sentimento da nação é de enjoo com o mundo oficial. A revolta contra a impunidade, o Congresso Nacional e parte do Judiciário provoca a intolerância. Grande parcela é levada a imaginar: “Se a esquerda não funcionou, vamos para a direita”. A história nos faz lembrar que os grandes momentos de crescimento, em qualquer tempo e nação, se deram em governos que, como o de Juscelino Kubistchek, tinham programas e metas e abominavam o confronto. Conciliavam e davam segurança ao cidadão. Não perdiam tempo com adversários e, com grandeza, sabiam transitar entre os opostos sem perder de vista a meta.
Já disse nesta coluna, há dois meses, que Bolsonaro cresceria nas intenções de voto. De 16% já está em 25%, apenas três pontos atrás de Lula. Considerando ainda a forte rejeição de 39% atribuída ao petista, pode-se imaginar que, exatamente por esse sentimento contrário e na ausência de uma alternativa no horizonte, o ex-oficial do Exército poderá ultrapassar o ex-presidente.
Embora essas pesquisas signifiquem o esgotamento da tolerância com a classe política, estão ainda longe de se concretizar em 2018. Bolsonaro, neste momento, deve agradecer a Lula como principal motivo de seu portentoso avanço e torcer para que assim se cristalize a próxima campanha.
Caso Lula venha a ser impedido de concorrer por condenação em segunda instância, o quadro desfavorecerá Bolsonaro. O clima eleitoral com um radical preso enfraquecerá o outro.
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