O ano automotivo começou movimentado, o vazamento de um comunicado interno enviado por e-mail aos funcionários e assinado pelo presidente da General Motors Mercosul, Carlos Zarlenga, deixava claro nas entrelinhas que os acionistas não estão satisfeitos com as operações da montadora na região e a seguir assim, sem lucratividade que justifique novos investimentos, o futuro será incerto. A notícia caiu como uma bomba no mercado. Como assim? A GM vai fechar no Brasil?
Este, sem dúvida, foi o maior dos questionamentos. Mas a priori é bom informar que no mundo corporativo não tem lugar para amadores. O executivo, na verdade, nada mais fez que repercutir uma manifestação de sua superior, a presidente mundial da corporação, Mary Barra, que aproveitou o momento de divulgação do balanço anual da companhia para demostrar insatisfação com os resultados auferidos com as fábricas no Mercosul. Objetiva e direta a executiva disse: “não vamos continuar investindo para perder dinheiro”. Para um bom entendedor fica claro que se não acontecer uma reviravolta nos negócios fica considerada a possibilidade de encerrar a produção e fechar as fábricas. Mas isso serve para a GM e para toda empresa privada que produz visando lucro e não o faz para acumular prejuízos, como acontece em muitas empresas estatais. Sem revelar valores, Zarlenga confirmou que a GM vem trabalhando no vermelho desde 2016 e que a situação precisa ser revertida neste ano, para isso, o momento, na fala do executivo, “vai exigir sacrifício de todos”.
Os que não acompanham os movimentos da poderosa indústria automobilística ficarão sem entender como uma empresa líder de vendas no Brasil há três anos, com o carro mais vendido (o Chevrolet Onix), pode vir dando prejuízo há quase três anos consecutivos. A resposta padrão é a de que automóveis compactos tem baixa lucratividade e nem os altos volumes produzidos conseguem aumentar a lucratividade da operação como um todo. E agora? Um plano que visa reestruturar as operações de duas unidades fabris, a de São José dos Campos, interior de São Paulo e da matriz, em São Caetano do Sul, está sendo negociado, a bem da verdade a situação da planta de São José é mais critica, a fábrica foi excluída de recentes investimentos anunciados pela companhia e hoje produz, apenas, a picape S-10, que tem expressivo resultado no mercado e a Trailblazer, com baixo volume de produção.
Não custa lembrar que a GM já deixou a Europa, ao vender para PSA (Peugeot/Citroen) as operações da Opel, braço americano da companhia no Velho Continente e que, no último trimestre do ano passado e tornou púbico o plano de reestruturação da empresa, que propôs o encerramento das atividades em cinco plantas nos Estados Unidos e demissão de mais de 14 mil trabalhadores. Dentro deste contexto torna-se curiosa a declaração de presidente mundial da General Motors, Mark Reuss, cargo de mais alta patente na companhia, que anunciou um plano que propõe uma grande renovação da gama de produtos para os próximos anos e que dentro destra estratégia a região da América do Sul seria contemplada. Se fosse um jogo de carta, teria maior chance de bater os que apostarem que prevalecerá o bom senso de todas as partes envolvidas. Afinal, o que importa é deixar o leão vivo e o cabrito não morrer de fome.