HUMOR

'5X Comédia', o clássico repaginado 

Encenado nos anos 1990, “5X Comédia volta capitaneado por Bruno Mazzeo e conta com grande elenco de humor da TV brasileira

Por Alex Bessas
Publicado em 25 de novembro de 2017 | 04:00
 
 
 
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Uma peça que levou cerca de 450 mil espectadores ao teatro já merece ser chamada de clássico? Para Bruno Mazzeo, sim. É desta maneira, portanto, que ele se refere a “5X Comédia”, espetáculo que circulou nos anos de 1990 em um formato diverso e que reunia grandes nomes da humor. Marcante, assistir a apresentação foi “fundamental” para a formação artística do humorista. E é ele que, agora, catalisou esforços para a nova e remodelada montagem, que chega a Belo Horizonte nos próximos sábado (2) e domingo (3).

Dado um hiato de quase 20 anos desde a última encenação de “5X Comédia”, retornar com o espetáculo era desejo antigo da produtora Monique Gardenberg. Na versão original, o projeto foi assumido por sua irmã, Sylvia (1960 – 1998). Agora, foi do contato com Mazzeo que o projeto tomou corpo. “Foi uma peça muito importante, foi quando vimos toda aquela geração, gente como Andréa Beltrão, Denise Fraga, Pedro Cardoso, Luiz Fernando Guimarães, Fernanda Torres, Evandro Mesquita... juntos em cena”, lembra o humorista. Para ele, “voltar com a montagem é a chance de trazer outra vez a peça para quem não viu esse clássico da dramaturgia cômica”.

Mas, detalhe: para a concepção da nova versão, o grupo não se prendeu ao que já havia sido feito. “A gente se utilizou do formato, mas de forma completamente livre. Em nenhum momento sentimos necessidade de remeter às antigas apresentações”, explica. Como exemplo da versatilidade dessa formatação, lembra que na peça que vem para BH há modificações. “O Luis (Miranda) vai entrar no lugar do Lucinho (Mauro Filho), o que só prova como cabem atualizações”.

A peça

Em cena, cinco atores do humor reconhecidos pelo grande público e que têm entre si uma relação de afeto e um histórico de parcerias na TV e no cinema: Bruno Mazzeo, Debora Lamm, Fabiula Nascimento, Thalita Carauta e Luis Miranda se revezam no palco, sem se encontrar, em esquetes diversas. Cada uma delas, diga-se, escrita por um autor diferente.

Interpretando uma Branca de Neve que se sente deslocada da vida de princesa no mundo contemporâneo, Debora Lamm vive uma personagem criada por Julia Spadaccini. Bruno Mazzeo, por sua vez, interpreta texto de Antonio Prata, em que desempenha o papel de um pai de primeira viagem em um dia a dia insone. Roteiro de Bruno Kosovski, Thalita Carauta é uma eterna aspirante a atriz. 
 
Único a escrever seu próprio texto, Luís Miranda apresenta a personagem Sheila, uma socialite que odeia o Brasil – e que é sucesso no projeto “Terça Insana”. A personagem menos realista é vivida por Fabiula Nascimento: uma arara vermelha que vive em um petshop, criação de Jô Bilac.
 
“Muitos dos autores nem se conhecem, eles não receberam nenhuma instrução sobre o que o texto devia falar, em nenhum momento conversaram entre si...”, conta Mazzeo. Mas, se a diversidade de histórias e personagens faz com que a apresentação pareça carecer de coesão, bem, não é o que acontece na prática. “Às vezes, o público vai notar que algumas citações se repetem... São textos independentes, mas que têm uma mesma enfermaria”, diz, reforçando que há pontos de interseção entre as apresentações. “É uma geração que está muito conectada em pensamento”, assegura. Por isso, “o espetáculo é também sobre as coisas sobre as quais queremos falar”.
 
Além dos assuntos comuns, que refletem sobre questões da contemporaneidade e o cenário do Brasil atual, dá liga ao conjunto de esquetes a íntima relação dos atores. “Nós somos todos amigos, é um projeto de galera”, pontua Mazzeo. “Tem ali a nossa visão de mundo, o que para nós significa a comédia”, diz, lembrando que essa relação se vê na prática. “Embora sejam monólogos, quando um está em cena, os outros quatro ficam na coxia, torcendo que dê tudo certo, dando uma força mesmo”.
 
A coesão, claro, é mérito também do diretor Hamilton Vaz Pereira, que dirigiu as três versões anteriores. “Ele conseguiu dar unidade ao espetáculo respeitando a individualidade de cada artista”, algo que Mazzeo considera uma façanha e tanto.
 
BH do rock
 
Presente em “5X Comédia”, onipresente na série global “Filhos da Pátria”, escrita por Bruno Mazzeo, o momento atual do país é passado em revista sob a ótica do humor. Mas, em conversa, o tom é também de seriedade.
 
“Nunca imaginei que com 40 anos, em 2017, ainda estaríamos discutindo homofobia, racismo e a volta da censura!”, indigna-se. E é quando fala do último tópico que se dobra a elogios à capital mineira. “Não me surpreende vindo de BH”, afirma em referência à criação da Frente Nacional de Combate à Censura, lançada na cidade na última terça-feira (21). “É um lugar muito conectado, não é à toa que seja uma das poucas cidades onde ainda há rock’’n’roll”, completou, insistindo na necessidade de defesa às artes. “Quem vai nos ver, quem vai assistir qualquer manifestação artística, está resistindo com a gente a essa agenda de atrasos”.
 
O artista defende que o humor é a melhor perspectiva para fazer pensar em um ambiente de discursos prontos – algo que diz ter aprendido com mestres como seu pai, Chico Anysio (1931 – 2012) e Jô Soares. Por isso, se mantém escrevendo, “que é o que eu gosto mesmo de fazer”. Além de seguir viajando com “5X Comédia” em 2018 e já pensar em uma segunda temporada para “Filhos da Pátria”, Mazzeo ainda se dedica ao roteiro de um novo filme. “Vou abordar essa solidão da internet, essa necessidade de viver uma vida mais para o outro que para você...”, adianta ele.
 
5X Comédia
Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1046, Centro). Dia 2 (sábado), às 21h, e 3 (domingo), às 19h. A partir de R$ 50 (Plateia 3, inteira).


 

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