ARTES CÊNICAS

A dança cotidiana de Brasília 

Cia de dança brasiliense chega em BH com espetáculo Vinil do Asfalto, o trabalho reflete sobre a sonoridade da cidade e suas formas de ocupação

Por Jessica Almeida
Publicado em 03 de dezembro de 2016 | 03:00
 
 
 
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Natural de Brasília, o bailarino, ator e coreógrafo Edson Beserra deixou a cidade aos 23 anos para se dedicar à dança. Integrou companhias como a Quasar, a Deborah Colker e o Grupo Corpo, e acabou por retornar à terra natal em 2010, após quase 15 anos fora. Quando voltou, encontrou uma cidade transformada. “Fiquei um pouco impressionado com o quanto havia crescido, mudado. Eu andava muito a pé, coisa que não é comum aqui, e passei a absorver a cidade de maneira diferente. Perceber como se dá a ocupação da cidade, que não tem esquina nem gente na rua, mas, ao mesmo tempo, as pessoas estão em trânsito o tempo todo. Notei esse fluxo e quis escrever um pouco dessa história”, diz.

Assim nasceu o espetáculo de dança “Vinil de Asfalto”, que o coletivo Edson Beserra e Seu Composto de Ideias apresenta aqui, em Belo Horizonte, no início da semana (dias 5 a 7). Além de Beserra, Lavínia Bizzotto e Marcos Buiati compõem o elenco, e a trilha sonora é do compositor e engenheiro de som Tomás Seferin. Esta, porém, foi acrescentada posteriormente ao desenho coreográfico. “Entrei no estúdio com a proposta de trabalhar com base nas impressões, perspectivas sobre Brasília, e a trilha vir depois”, afirma. “Foi bem difícil para os bailarinos que estavam comigo à época – e até para mim, que vinha do Grupo Corpo, onde o que chega primeiro é a música. Ao mesmo tempo, foi incrível, consegui deixar que meu corpo reagisse aos impulsos muito de dentro para fora. E depois, quando a música chegou, foi um processo de adaptação”.
 
Sons de carros, cigarras, vozes, vento, ondas de eco e reverberação são misturados a melodias de instrumentos de cordas, como piano, violão e violino. Fragmentos da cidade, registrados pelo próprio Edson Beserra ao lado de Cássio Sader, além de trechos do cotidiano de um entroncamento em Taguatinga, são projetados durante o espetáculo, ressaltando peculiaridades do comportamento brasiliense nas ruas.
 
Identificação
 
Apresentado fora de Brasília, “Vinil de Asfalto” causou exatamente a reação que o coreógrafo pretendia em egressos da cidade. “Para mim, foi muito forte perceber que amigos que não vivem mais lá entenderam exatamente o que eu estava propondo em termos de pausa, respiração, tempo de apreciação. É uma orquestração mesmo, regida pelo silêncio, o reencontro e o desencontro. E em quem nunca foi a Brasília, vi uma curiosidade, uma vontade de conhecê-la”, conta. “Acredito que o espetáculo amadurece e se rejustifica justamente com essas impressões”.
 
Convidado a fazer um exercício sobre como seria um espetáculo com a mesma premissa, mas de olhar voltado a Belo Horizonte, Beserra, que morou aqui por quase oito anos, quando fez parte do Grupo Corpo, arrisca: “Tenho uma imagem muito emblemática da cidade, de quando cheguei pela primeira vez. Fui de ônibus, e subi a Afonso Pena desde a rodoviária até a praça da Bandeira. Acho que ali tem um ‘saladão’, com muito material a ser pesquisado, um centrão que desemboca na classe média alta. Daria um contraponto superbacana”, diz o bailarino, que está retornando à cidade pela primeira vez desde que deixou o Corpo, em 2008. “Estou louco para voltar”.
 
Vinil de Asfalto
Edson Beserra e Seu Composto de Ideias
Espaço Cultural Ambiente (r. Grão Pará, 185, Santa Efigênia, 3241-2020). De 5 (segunda) a 7 (quarta), às 20h. Entrada gratuita (retirada de ingressos no local, uma hora antes da apresentação)

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