MÚSICA

As histórias de Elomar e filho

Espetáculo “Muntano o Mondengo ocupa o palco do Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube nas próximas sexta (20) e sábado (21)

Por Patrícia Cassese
Publicado em 14 de julho de 2018 | 03:00
 
 
 
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De certa feita, João Omar perguntou ao pai, o consagrado músico Elomar Figueira Mello, porque ele seguia insistindo tanto em pequenas batalhas. O violonista (e também violoncelista) referia-se, no caso, à série de adversidades com a qual os dois se depararam na tentativa de apresentar um concerto em uma pequena cidade, situação que se repetia amiúde. A resposta, João nunca mais esqueceu: “Pelo menos, teremos histórias para contar”.

Não por outro motivo, se há uma espinha dorsal nos projetos que os unem – e, agora, os trazem mais uma vez a BH – , essa poderia ser sintetizada pela palavra “resistência” – principalmente visando a sobrevivência e a difusão de uma cultura que, ano após ano, vem sendo duramente solapada no país: a do sertão e de todos os signos que orbitam neste universo, como o vaqueiro, o tropeiro ou o nativo.

Depois de uma apresentação em São Paulo, em março último, agora é a vez de Belo Horizonte receber o concerto “Muntano o Mondengo”, que ocupa o palco do Teatro do Centro Cultural Minas Tênis Clube nas próximas sexta (20) e sábado (21).

No caso, o projeto se sustenta sobre a figura do tropeiro. “Meu pai está em uma fase na qual está compondo óperas em menor porte, como ‘Faviola’, feita não para orquestra, mas para flauta, violão e violoncelo, formação que, para ele, é uma espécie de ‘redução de orquestra’. E que, na verdade, se aproxima muito de ‘O Auto da Catingueira’, sua primeira ópera”, analisa.

Em cena, portanto, os dois músicos vão colocar seus violões a serviço de uma narrativa que se alinha à dos trovadores, em particular, aos que disseminavam histórias do período que vai da Idade Média à Renascença. “E, entre algumas canções, também toco alguns solos do meu projeto ‘Ao Sertano’ (no qual ele repassa a obra do pai para o violão). Mas a música dele, mesmo para o violão, evoca muito a labuta do campo, tudo que diz respeito a esse universo”, avalia.

João Omar conta que, apesar de seguir sendo um compositor voraz, Elomar tem optado por ficar cada vez mais recluso em sua fazenda. “Ele é um autor cada vez mais raro. É difícil de sair, atualmente, faz poucas apresentações – mesmo ainda tendo muita energia. Mas ele está com seus 80 anos, e, assim, viajar acaba sendo cansativo. No entanto, Belo Horizonte é um lugar para o qual ele gosta muito de ir”, afiança. 

A reclusão citada pelo filho também se espraia na decisão, tomada já há algum tempo, de não conceder mais entrevistas à imprensa. “Ele é uma pessoa anti-imagética, por isso, essa resolução. Mas, apesar de ser de difícil acesso, continua sendo uma pessoa muito brincalhona”, sustenta.
<CW-10>João Omar, vale dizer, acompanha o pai desde sempre. Hoje, aos 48 anos, ressalta que a convivência segue sendo um aprendizado constante. “Ele se preocupa muito em cantar e tocar bem. Às vezes, diz que está velho, mas rebato que não. O violão dele é bem elaborado e sua música, muito imagética – é como se você pudesse contar uma história com o canto. Aliás, certa vez, um italiano disse que uma definição acertada para ele seria a de um cantastorie, um cantador de histórias”.

Em tempo: a expressão ‘Muntano o Mondengo’, faz referência aos versos da canção “Na Quadrada das Águas Perdidas”, também título do segundo álbum de Elomar, gravado nos estúdios do Seminário Livre de Música da Universidade Federal da Bahia, em dezembro de 1978. 

 

Muntano o Mondengo 
Centro Cultural MTC (rua da Bahia, 2244, Lourdes). Dias 20 (sexta) e 21 (sábado), às 20h. R$ 100 (inteira) 

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