Literatura

BH tem segunda edição da Clic

Reunindo as poetas Ana Elisa Ribeiro, Brisa Marques, Estrela Leminski, Alice Ruiz e o escritor Lourenço Mutarelli, BH recebe 2ª edição do Circuito de Literatura e Cafés

Por Patrícia Cassese
Publicado em 06 de outubro de 2018 | 06:00
 
 
 
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Uma xícara de café fumegante, um petit four para acompanhar... E literatura a mancheias. Neste sábado (6) e na próxima quinta-feira (11), Belo Horizonte recebe as duas etapas da segunda edição do Circuito de Literatura e Cafés, o Clic, que ocupa o Floresça Café, em Santa Efigênia, e o novo A Central, na Praça da Estação. A programação deste sábado tem início às 14h, com uma mesa redonda reunindo as poetas Ana Elisa Ribeiro, Brisa Marques (também diretora artística da Rádio Inconfidência) e Estrela Leminski – esta última, filha dos também poetas Paulo Leminski (1944-1989) e Alice Ruiz.

Já na quinta-feira, é a vez de o paulistano Lourenço Mutarelli, 54, lançar por aqui seu mais recente livro “O Filho Mais Velho de Deus e/ou Livro IV” (Companhia das Letras). A obra é um desdobramento inesperado de um outro projeto: há 11 anos, Mutarelli foi convocado pela mesma casa editorial para participar da série “Amores Expressos”. Nela, o escritor viajava para outro país comprometendo-se a transmutar a experiência em um romance. 

De pronto, Mutarelli pensou em uma cidade de Portugal, mas acabou acatando a sugestão de ir a Nova York. “Porque, do grupo de convidados (17, ao todo), eu era o único que não conhecia a cidade”, relembra. A experiência, porém, não foi exatamente arrebatadora. “Na verdade, foi bem frustrante. A minha impressão era a de estar em uma cidade temática. Talvez pelo fato de a gente absorver tantas referências de imagens dali, principalmente por meio do cinema, parecia que, ao vivo, tudo era menor”.

Outra imagem que vem à cabeça do autor em relação à Big Apple é a de um imenso shopping center. “Um shopping hipster (risos). O lado bom é que amo música, e, à época, havia a oferta de muitos CDs que eu não achava aqui, no Brasil”. A vivência, porém, não gerou o aguardado romance. Ou melhor, até gerou um livro, que o próprio autor pontua não ter sido a sua escrita mais feliz. “Ocorre que nós, convidados, tínhamos que entregar um resumo da obra, de cinco páginas, com começo, meio e fim, descrição de personagens. Mas isso é antinatural na minha escrita. Quando escrevo, não posso saber o que vai acontecer”, pontua. 

O ano de 2008, portanto, Mutarelli reconhece que passou “travado”. “E um ano e pouco depois, entreguei o livro, que, na verdade, era ruim. O Thiago Nogueira, meu editor à época, foi muito cuidadoso, fez muitas observações de coisas a alterar. Mas acabei achando que, se fosse mexer, iria piorar, e deixei pra lá. Como tinha outros projetos a tocar com a editora, fomos fazendo”.

Há cinco anos, Lourenço se flagrou com outra ideia. “Que não tinha nada a ver com aquele resumo citado”. E levou quatro anos para chegar ao ponto final da nova obra. “Mas, veja, o fato de ter gastado todo esse tempo nada teve a ver com bloqueio”, pondera ele, que, na verdade, se enfronhou em várias pesquisas. “Adorei o processo, o resultado. Aí, entreguei (os originais) em abril do ano passado, mas como a fila (de lançamentos) estava grande, na Companhia, saiu este ano”.

Em cena, um personagem – um homem mediano, quase desprezível – que vai para a Nova York pós-11 de Setembro, é convidado a entrar em um programa de proteção à testemunha e também está às voltas com uma irmandade, a Cães Alados, que acredita na existência de seres reptilianos – na verdade, extraterrestres. 

Processo
Em Nova York, naquele 2007 ainda impactado pelos atentados de seis anos antes, Mutarelli se estabeleceu no hoje badaladíssimo Brooklyn. “Mas, à época, os artistas ainda estavam começando a migrar para lá, fazendo seus lofts para servirem de ateliês ou para morar. No entanto, ainda era periférico. Tanto que, muitas vezes, à noite, quando eu voltava de táxi, o motorista dizia, antes: ‘Olha, só vou até ali, depois, é por sua conta’. Na verdade, só tive problema uma vez, com a polícia, que me estranhou, mas não deu em nada. Mas era interessante a região”.

E mais...
Em novembro, as obras de Mutarelli estarão expostas em uma das unidades do Sesc São Paulo. “Vai ter um pouco de tudo. Dou oficinas no Sesc Pompeia há sete anos, então, vai ser um apanhado geral, desde quadrinhos a coisas relacionadas ao teatro, cinema... E também as pinturas que tenho feito”. As telas do paulistano, na verdade, começam a tomar forma como colagens. “São narrativas, histórias de vida que preciso colocar para fora, mas que, na verdade, não quero que ninguém saiba. Então, não tenho uma preocupação estética. Faço a colagem e depois pinto sobre ela – tenho postado algumas dessas obras no Instagram”.

Além da exposição, ainda para este ano estão previstas as estreias de dois filmes que contam com a sua participação, “Música Para Ninar Dinossauros”, de Mario Bortolotto, e “Sick, Sick, Sick”, de Alice Furtado. Mutarelli que já teve obras adaptadas para o écran (caso de “O Cheiro do Ralo”, por exemplo) e também atuou em “Que Horas Ela Volta”, filme de Ana Muylaert. 

Há quatro anos sem vir a BH (“antes ia com mais frequência, em eventos como o Festival Internacional de Quadrinhos”), ele celebra a oportunidade de rever amigos e marcar ponto em um de seus destinos preferidos por aqui: o edifício Arcangelo Maletta.

Clic
- Conversa com Estrela Leminski, Brisa Marques e Ana Elisa Ribeiro: Floresça Café (Rua Rio Grande do Norte, 311). Neste sábado (6), às 14h. 
- Conversa com Lourenço Mutarelli: A Central (Praça Ruy Barbosa, 104). Dia 11 (quinta), às 18h. Entrada gratuita. Seu novo livro será vendido no local. 

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