No cinema de Alfred Hitchcock, o suspense e o medo quase sempre vêm da identidade trocada. Já nos filmes de Brian De Palma, assumidamente influenciado pelo mestre do suspense, o terror também advém de percepções distorcidas da identidade. Mas elas acontecem dentro do próprio personagem: é o protagonista que se debate entre a boa pessoa que ele acredita ser e o lado negro prestes a ebulir dentro dele. Esse traço pode ser conferido nos três filmes que o Cine Humberto Mauro exibe neste sábado (21), na mostra “O Fascínio do Medo” (confira roteiro nesta página).
Em “Irmãs Diabólicas”, primeiro sucesso da carreira do diretor, esse conflito de identidade é representado bem claramente nas duas irmãs siamesas do título. Vividas por Margot Kidder (“Superman”), elas passam a alimentar uma rivalidade nada saudável após serem separadas.
“Trágica Obsessão”, por sua vez, é uma homenagem declarada do cineasta a Hitchcock. A trama reproduz a premissa de “Um Corpo que Cai”, com o protagonista obcecado por uma mulher idêntica à sua esposa falecida.
Mas o grande clássico do dia é mesmo “Carrie, A Estranha”. Além de ter introduzido várias das marcas registradas do diretor, como o uso da tela dividida, o filme é o melhor exemplo dos protagonistas de De Palma que, perturbados pelo olhar alheio, voyeurístico e julgador, e por suas próprias identidades fragmentadas, respondem de forma violenta, resultando em um espetáculo de violência puramente cinematográfico. Para quem não conhece o trabalho do cineasta, é uma bela introdução.