Artes cênicas

Quando a beleza é o antídoto 

Redação O Tempo

Por Jessica Almeida
Publicado em 01 de agosto de 2015 | 03:00
 
 
 
normal

Desde criança, a improvisadora e bailarina Nicolle Vieira, 30, tem um sonho recorrente. Nele, vê uma menina fugindo de soldados nazistas e morrendo nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Este triste episódio da história da humanidade sempre despertou seu interesse e, ao longo da vida, ela devorou livros e filmes sobre o assunto. Há alguns anos, após uma viagem de sua avó à Polônia, descobriu que é descendente de judeus alemães/poloneses. Embora seus antepassados tenham vindo para o Brasil muito antes do nazismo, a informação a fez questionar se teria algum parente distante que viveu os horrores do Holocausto.

Toda essa vivência acumulada aflorou durante uma residência artística de formação para coreógrafos que a bailarina fez na cidade alemã de Stolzenhagen, divisa com a Polônia. E ali nasceu o embrião de “Perfume”, solo que ela estreia na próxima sexta (7), no Galpão Cine Horto. “Ao fim da residência, fiz um exercício solo, que, a princípio, seria sobre outro assunto. Mas estar ali naquela região e ouvir relatos de pessoas mais velhas que viveram a Grande Guerra me fizeram voltar a esse tema”, conta. “Antes de retornar ao Brasil, visitei o campo de concentração de Auschwitz e, ao voltar para o apartamento em que estava hospedada, escrevi o espetáculo inteiro”.
 
De volta ao seu país de origem, ela contatou os músicos do duo instrumental Marcella The Post Modern (Lucas Soares e Fred Calazans), com quem já havia trabalhado, para fazer a trilha ao vivo e convidou Dudude Herrmann para dirigir. “Como é um tema forte, que mexe comigo, eu achei que ia ser muito difícil ficar dentro e fora. Então, chamei a Dudude, que também trabalha com improvisação, não só para dar um suporte, mas um refinamento”, explica. “Além de tudo, ela tem uma forma de trabalho um pouco mais teatral que eu não tinha desenvolvido”.
 
Busca de sentido 
Entre muitas pesquisas, uma das maiores fontes de inspiração de Nicolle foi o livro “Em Busca de Sentido”, do psicoterapeuta austríaco Viktor E. Frankl, que foi um judeu sobrevivente do Holocausto. “Ele criou uma linha da psicologia chamada logoterapia, que trabalha na busca do sentido da vida. E ‘por que continuar vivendo?’ é uma pergunta minha: por que as pessoas resistiam naquela miséria toda, naquele desespero, o que as fazia continuar lutando, insistindo pra permanecer vivas. Por isso, esse livro orientou todo o nosso trabalho”, diz. 
 
“Perfume” busca, portanto, encontrar poesia onde ela é menos óbvia. “É muito fácil ver poesia no que é bonito, mas a dor, a dificuldade, o sofrimento também são situações em que podemos buscá-la”, conclui Nicolle. 
 
A bailarina e improvisadora tem um roteiro subjetivo e uma estrutura de textura de movimento definidos, mas o que ela vai fazer, de fato, no momento do solo, está sempre em aberto, como explica a diretora Dudude Herrmann. “É um risco, mas também é uma provocação dela enquanto artista, de fazer o tempo valer, se colocar ali na íntegra pra fazer essa comunicação direta com o público”, diz, ressaltando as experiências de improvisação que Nicolle teve na Itália, Espanha e França, inclusive com a improvisadora francesa Claire Filmon.
 
Perfume
Com Nicolle Vieira. 
Dir. Dudude Herrmann.
Galpão Cine Horto (r. Pitangui, 3.613, Horto, 3481-5580). De 7 a 9 de agosto. Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h. Entrada gratuita (retirada de senhas meia hora antes do início do espetáculo. Interessados podem reservar pelo e-mail perfume.espetaculo@gmail.com)</CW>
 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!