Artes cênicas

Reino dos Falabella 

Em família - Peça escrita por Rogério Falabella tem direção das filhas Cynthia e Débora

Por Jessica Almeida
Publicado em 25 de abril de 2015 | 03:00
 
 
 
normal

Quando se tornou avô, o ator, diretor e autor de teatro Rogério Falabella – que também tem experiência em publicidade, cinema e televisão – quis fazer algo que, apesar de sua longa carreira (de mais de 60 anos), nunca tinha feito: explorar o universo infantil. “Nos primórdios, quando trabalhava na extinta TV Itacolomi, escrevi alguma coisa para o público jovem, mas a ideia de fazer uma peça infantil veio com o nascimento da minha neta, Irene”, conta. Daí surgiu “O Rei e a Coroa Enfeitiçada”, espetáculo que faz única apresentação em BH neste sábado (25), no Cine Theatro Brasil.

Da criação da história até a estreia nos palcos, foram quase dez anos – e mais duas netas! Nesse período, nasceram também Nina, 5, e Lis, 2, filhas, respectivamente, de Débora e Cynthia, que assinam a direção da peça do pai. “Quando terminou de escrever, ele me mostrou o texto e eu, que já fiz muito teatro infantil, fiquei encantada. A Débora também gostou e nós brincamos: ‘quem sabe, um dia, a gente não dirige?’, lembra Cynthia. “Entre termos a ideia, começar a colocar em prática, viabilizar patrocínio, casar agendas, estreamos no segundo semestre de 2014”, em São Paulo, onde ela e Débora moram.
 
“O Rei e a Coroa Enfeitiçada” é uma comédia infantil musicada. Se passa em Felizlândia, povoado governado pelo rei Nicolau, que é simples e bondoso. Ele e a rainha estão felizes pelo casamento de sua filha, a princesa Irene, quando Duque arma um plano para tomar o trono de seu irmão, presenteando-o com uma coroa que o faz mudar de personalidade. “A princesa se chama Irene, mas meu pai diz que ela representa as três netas, é uma obra que fica para elas”, diz Cynthia. “Mas a história toda é muito da nossa família, misturamos referências nossas, não é simplesmente um reino antigo”. 
 
Além das alusões às vivências pessoais do autor e das diretoras, o espetáculo também tem pinceladas de atualidade e cultura pop, para torná-lo mais próximo do público infantil. Há menções, por exemplo, a aplicativos como WhatsApp e Instagram, e à saga “O Senhor dos Anéis”. 
 
Didático e político
Para Rogério, falar para as crianças foi um desafio. “Há palavras que a gente considera corriqueiras e elas não conhecem. Apanhei bastante porque me policiava para ser didático, sem ser chato”, conta. O autor também quis incluir questões relacionadas à política. “O texto também fala da responsabilidade de quem governa um país e de como é importante o povo ser esclarecido”.
 
As irmãs tiveram total liberdade criativa para conceber todo o espetáculo, já que o pai preferiu não participar do processo. Estreantes na direção, Cynthia e Débora – que já haviam atuado juntas em uma montagem de “A Serpente”, de Nelson Rodrigues – trouxeram novamente a sintonia que têm fora do palco para dentro dele.
 
“Foi uma direção muito feliz, concordamos na maioria das escolhas, temos um humor muito parecido”, Cynthia ressalta. Contemporânea, a peça tem identidade visual inspirada nos filmes de Wes Anderson, coreografias que remetem às lideres de torcida norte-americanas e músicas que vão do rock ao reggae, passando por outros estilos – estas últimas, aliás, foram concebidas com a ajuda do músico Chuck Hipolitho, ex-marido de Débora e pai de Nina.
 
Cynthia costuma brincar que a família delas é “A Casa das Sete Mulheres”, em referência à soma dela com Débora, sua irmã mais velha Junia, as três meninas e sua mãe, a cantora lírica Maria Olympia. Assim como ela e Débora foram influenciadas pela relação dos pais com as artes, as netas, apesar da pouca idade, também já dão sinais de afinidade com o ambiente. “A Irene faz aulas de dança na escola do Grupo Corpo e gosta bastante. A Nina tem uma coisa muito comunicadora, acho que pode se tornar atriz”, diz Rogério. 
 
Mesmo Lis, a mais novinha, parece seguir os passos dos mais velhos. “Eu a levo para os ensaios desde antes da estreia e é inacreditável como ela presta atenção, acho que ela não vai escapar”, conta Cynthia. “Nós as deixamos livres, mas é difícil escapar, elas estão crescendo nesse ambiente”. 
 
Única sessão
O autor da peça só lamenta que seja apenas uma apresentação na cidade natal dos idealizadores. Mas Cynthia garante que vão tentar voltar a BH. “Temos um plano de circulação, nossa vontade é voltar a BH, ir ao Rio, ficar mais um tempo em São Paulo. Só que, antes, precisamos conseguir patrocínio”, justifica.
 
O Rei e a Coroa Enfeitiçada
Dir.: Cynthia e Débora Falabella
Cine Theatro Brasil (r. dos Carijós, 258, centro, 3201-5211). Neste sábado (25), às 17h. R$ 40. 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!