Anos 60

Uma festa de arromba

Depois de conquistar o público no eixo Rio-São Paulo, documentário-musical chega a capital mineira

Por Patrícia Cassese
Publicado em 26 de maio de 2018 | 03:00
 
 
 
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O espetáculo “60! Década de Arromba”, que chega à capital mineira no próximo final de semana, revela, em seu subtítulo, o gênero ao qual filia-se: um “Doc. Musical”. 

Que fique claro, pois: a montagem, que reúne 24 cantores-atores em um elenco capitaneado pela diva Wanderléa, não é um musical aos moldes convencionais, afins a uma escola que, tendo a Broadway como celeiro, também angariou fãs no Brasil.

Aliás, cumpre dizer que foi exatamente a possibilidade de se aventurar em um novo formato que atraiu a cantora ícone da Jovem Guarda. “Já há algum tempo o Frederico Neder (produtor e diretor) queria trabalhar comigo e, inicialmente, me sondou sobre a ideia de um musical”, rememora a eterna “Ternurinha”, que, no entanto, titubeava. “Porque esse formato demanda muito tempo de preparo”, confessa ela, que corta um dobrado para cumprir sua agenda de shows e teria que pensar uma nova logística. “Então, ficamos meio que ‘namorando’ durante um ano”, brinca.

O que fez a cantora capitular foi justamente a readequação do projeto. Em vez de um musical tradicional, “Década de Arromba” entra em cena dispensando, por exemplo, o calço de uma dramaturgia – assim, não há diálogos. Em contrapartida, se vale de uma série de recursos inerentes aos documentários – fotos, vídeos e depoimentos reais – para colocar os anos 60 em repasse. “Essa solução me agradou muito. Seria eu fazendo eu mesma, e (o projeto) lembraria todos os grandes acontecimentos dos anos 60, como a chegada do homem à Lua”.

Não fosse suficiente, Wanderléa também se encantou pelo esmero na produção. Dirigido pelo já citado Reder, com roteiro e pesquisa de Marcos Nauer, o espetáculo se vale de 20 cenários, 300 figurinos e dez toneladas de materiais de cenário, luz e led. “São cento e tantas perucas. E três caminhões de 11 m para viajar pelo país”, completa uma entusiasmada Wanderléa.

“O Frederico é uma pessoa muito criteriosa, optou por viajar com o espetáculo (Brasil afora) no formato original. Tudo com muito cuidado para que seja apresentado em outras praças como foi no Rio e São Paulo”, acrescenta. O diretor confirma: “Isso é importante dizer. Porque, geralmente, quando um espetáculo assim viaja, vai numa versão mais reduzida. Mas a gente não diminuiu nada. Elenco, cenários... É 100% o que foi para Rio e São Paulo”.

Trajetória

É preciso salientar que, ao contrário do que alguns podem deduzir a partir da informação da presença de Wanderléa no elenco, a montagem de “60! Década de Arromba – Doc. Musical” não tem como enfoque a Jovem Guarda. Ou apenas o movimento. Na verdade, insere-se em um projeto maior, uma espécie de “saga”, que pretende dividir a história do país em vários espetáculos, cada um retratando uma década, e pinçando dela um elemento icônico para nortear a narrativa – no caso dos anos 60, a TV. 

Ou seja, outras montagens virão, na sequência. “Não tem ‘Harry Potter’?”, brinca Frederico. “Então, vamos fazer uma saga. Essa primeira, devemos finalizar em julho, e em outubro já devemos estrear a de 70. Mas o ideal seria que a gente pudesse ter todas (em cartaz, simultaneamente) para que o público pudesse assistir em ordem cronológica, pois é a arte tentando contar a história. Agora, é preciso dizer que os personagens também estão na plateia. Porque o que temos visto é que a plateia comenta o espetáculo como se estivesse na sala de sua casa. Aliás, os patrocinadores estão muito felizes (com o retorno)”, brinda. 

Wanderléa emenda: “Há pessoas que assistem mais de uma vez. O público participa demais, cantando tudo. O espetáculo passeia por várias fases da música brasileira a partir dos anos 50, passando por Bossa Nova, Jovem Guarda... E é um repertório que está na memória afetiva das pessoas”.

Estruturação

O prólogo de “60! Década de Arromba” localiza-se no ano de 1922, lembrando a chegada do rádio no Brasil. Na sequência, flagra o advento da televisão e, num segundo momento, da popularização do aparelho, ocorrida na década de 1960. A partir daí, os acontecimentos do período são colocados em repasse por meio de mais de cem canções, dos mais diversos gêneros.

Um dos marcos históricos citado na montagem, diz Marcos Nauer, é a revelação do lado oculto da Lua. Apesar de registrado pela sonda soviética Luna 3 em 1959, o pesquisador lembra que a repercussão do evento se deu mesmo no início dos anos 60. “Neste período, é impressionante o número de músicas que tinham a lua como tema, como “Banho de Lua” (“Tintarella di Luna”)”, aponta. Anos depois, o homem pisava pela primeira vez na Lua. 

E sim, “Banho de Lua” está no roteiro, que inclui também canções estrangeiras, como “Blue Moon”, “La Bamba”, “Je Ne Regrette Rien”, “Yellow Submarine” e “I Say a Litlle Prayer for You”. Das nacionais (incluindo versões), estão: “Biquíni de Bolinha Amarelinha”, “Beijinho Doce”, “Lata D’ Água”, “Travessia”, “Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores”, “Era um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones”, “Ponteio”, “Nós Somos Jovens”, “Filme Triste”, “Prova de Fogo”, “Pare o Casamento”, “Calhambeque”... 

Wanderléa conta que faz seis entradas no palco, “em momentos estratégicos do espetáculos, e com figurinos distintos”. “Tive a sorte e a felicidade de, nos anos 60, fazer muito sucesso”, reconhece. Não sem motivo. Para Frederico, Wanderléa foi uma precursora do feminismo no Brasil, com suas ousadias e pioneirismos. “E, artisticamente, foi, àquela época, meio que uma mistura de Anitta, Ivete Sangalo e Marília Mendonça”. Ah, sim. Ele também diz que, convivendo com a diva, passou a entender porque ela era chamada de Ternurinha. “Ela é um presente em nossas vidas, atende público, entende de tudo... Como diz Erasmo Carlos, uma Madre Teresa de Calcutá”, conclui.

 

60! Década de Arromba
Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046). Dias 1º (sexta) e 2 (sábado), às 20h30, e 3 (domingo), às 18h. A partir de R$ 50 (inteira, para plateia III) 

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