SEMENTE DA TERRA

Canto solidário 

Com ingressos esgotados, Bituca volta aos palcos com canções que reverberam grito pela causa indígena, show acontece neste sábado (25)

Por Patrícia Cassese
Publicado em 25 de março de 2017 | 03:00
 
 
 
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Uma palavra basta a Milton Nascimento ao ser perguntado se a música segue sendo uma forma de resistência. “Sempre”, diz, peremptório, o cantor e compositor, que volta a Belo Horizonte com um propósito pra lá de especial: estrear a turnê “Semente da Terra”, que traz todas as credenciais para se tornar um marco na carreira deste ícone da MPB – a má notícia é que os ingressos já estão esgotados.

 
O título da empreitada embute um significado especial: trata-se da tradução para o português do nome Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi, com o qual Bituca foi batizado em 2010 pelos índios Guarani, em cerimônia capitaneada por 37 nhanderus (lideranças rezadoras) e realizada em Campo Grande.
 
Aliás, a capital do Mato Grosso do Sul tem um lugar especial no coração deste “mineiro”: foi lá que nasceu o filho de Bituca, Augusto Kesrouani. Na verdade, atualmente, Augusto reside em Juiz de Fora, onde estuda – o que fez Milton, aos 74 anos, trocar o Rio de Janeiro, onde morava desde os anos 80, pela cidade. “Como estava decidido a passar um tempo sem fazer shows, me mudei para lá – e estou gostando muito”, frisa.
 
Bem, a pausa nos shows foi interrompida, para sorte dos fãs que garantiram o ingresso para a apresentação deste sábado (25), no Palácio das Artes. “Quando resolvemos fazer essa turnê, logo pensei em BH”, diz ele. “Ano passado, fiz uma participação especial aí, num show promovido pelos professores da UFMG, a convite do (músico) Wilson Lopes. Foi muito bonito, a banda era demais. E fiquei com vontade de fazer um show”, admite ele, que agora entrega ao público um espetáculo que se norteia pelo posicionamento, principalmente no que diz respeito à questão indígena.
 
E com isso, a conversa se desloca mais uma vez para a região Centro-Oeste, onde Milton inclusive passou o Natal passado. E para a palavra “resistência”. Milton Nascimento não esconde o quanto a situação dos índios, em particular os que estão na região fronteiriça ao Paraguai, o tem deixado abalado. “Na verdade, não estive na zona de conflito, mas em Campo Grande, onde é possível encontrar com lideranças e discutir ideias. A situação no território Guarani Kaiowá é de guerra.
 
Então, cada um tem que ajudar como pode. Nós decidimos que vamos ajudar uma escola de música indígena em Caarapó, ali mesmo, no MS. Vamos vender camisetas juntamente ao Projeto Vivart (na verdade, as camisetas da coleção #vivartcourage já estão à venda no site vivart.com.br), e repassar parte da renda a eles. Mas quem quiser doar instrumentos, livros de música e investir na escola, basta mandar uma mensagem para qualquer uma das minhas redes sociais”, diz Milton, que diz ter dois pilares para se sustentar em tempos nos quais a esperança não se espraia como antes. “Otimismo e amizades”.
 
 
Repertório
 
“Semente da Terra”, o show, tem direção musical de Wilson Lopes. Foi ele, aliás, junto ao irmão Beto Lopes, também músico, que apresentaram Milton à voz da mineira Bárbara Barcellos. Deu liga. Tanto, que a cantora foi convidada a dar o ar da graça no show. 
 
 
Produtor musical de Milton, o campo-grandense Danilo Nuha deu o start para o repertório. “O set list começou a ser levantado pelo ‘Japa’ (apelido de Nuha), mas depois acabamos discutindo todos juntos, Wilson, Augusto e eu. Mas, claro, sempre fica alguma de fora. Quando se tem grandes parceiros, como eu tive, é difícil montar repertório. Afinal, 40 discos são uma vida”. Entre as pérolas, estão “O Cio da Terra” (Milton e Chico Buarque), “San Vicente” e “Coração Civil” (Milton e Fernando Brant), “Fé Cega, Faca Amolada” e “Nada Será Como Antes” (ambas de Milton e Ronaldo Bastos).
 
Milton Nascimento
Grande Teatro do Palácio das Artes (avenida Afonso Pena, 1537. Neste sábado (25), às 21h. 
Ingressos esgotados. 

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