Artes Cênicas

‘Catulli Carmina’ feito em BH

Núcleo de Música Coral da UFMG dá sequência à trilogia “Trionfi, de Carl Orff

Por Jessica Almeida
Publicado em 07 de dezembro de 2018 | 17:01
 
 
 
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Se em “Carmina Burana”, cantata cênica montada pelo Núcleo de Música Coral (NMC) da UFMG em 2016, o diálogo com a contemporaneidade parte de temas relacionados à nossa política, como a crítica às instituições de poder, em “Catulli Carmina”, nova produção do NMC, que fica em cartaz no Sesc Palladium no próximo fim de semana (14 a 16), essa conexão é feita a partir da discussão sobre a questão da monogamia.

“(O espetáculo) fala exatamente desse grande problema que diferencia o amor da paixão. A paixão como desejo da posse do objeto amado e o amor que é uma coisa em que você pode não necessariamente querer a propriedade disso”, explica Ernani Maletta, diretor geral da montagem. “É uma discussão mega contemporânea vai atravessar nossa vida. Quando chegaremos ao ponto em que as pessoas não vão confundir amar alguém com querer a propriedade desse alguém? A monogamia é uma regra social, não um instinto nosso”.

Ao todo, estarão no palco 150 artistas, entre cantores, atores e instrumentistas, sob regência do maestro Arnon Sávio Reis de Oliveira. “Catulli Carmina” faz parte da trilogia “Trionfi”, do compositor alemão Carl Orff (1895-1982). Além de “Carmina Burana” e “Catulli Carmina”, fecha o ciclo “Trionfo di Afrodite”. O compositor trabalhou a partir de poemas e textos dramáticos escritos séculos antes para criar a trilogia. Especificamente em “Catulli Carmina”, Orff se baseou em 12 poemas de Catullus, poeta inovador e sofisticado que viveu na Roma de Júlio César. Em seus versos, Catulo expressa com sinceridade e sensualidade sua paixão pela aristocrata Clodia, tratada sob o pseudônimo de Lésbia. “Catulo escreveu esses poemas para sua amada, mas criou uma ficção. Na criação dele, ela é uma prostituta que tinha vários homens e não admitia ser só do que amava”, explica o diretor.

Continuidade
Para criar a o aspecto cênico de “Carmina Burana”, Ernani se inspirou no filme homônimo de 1975 do diretor Jean Pierre Ponnelle (1932-1988), sua principal referência visual da obra. No caso de “Catulli”, essa referência não existe. “É uma obra bastante rara, há poucas apresentações dela, é muito difícil, complexa, não é muito conhecida nem feita. Por isso não tivemos como escapar de algumas imagens que vieram do ‘Carmina’”, diz.

Aliás, como era de se esperar, as produções foram pensadas de modo contínuo. Por isso, a apresentação atual começa com uma citação de trechos da anterior. “As pessoas na época do ‘Carmina’ comentavam que não tinham tido oportunidade de ver e conhecer a obra toda. O ‘Catulli’ muito menos. Quando pensamos em fazer, então propus de abrirmos com esse pequeno prólogo, mas não vai ser algo deslocado. É uma citação que vai se transformar. Ao público vai parecer que há uma relação muito íntima entre uma e outra, a continuação de uma grande reflexão sobre várias questões”, afirma.

O diretor afirma que o grupo tem a intenção de montar também a terceira parte da trilogia, mas ressalta que vontade não é a única coisa necessária. “Um trabalho como esse que envolve muita arte e pesquisa, depende muito do trabalho e envolvimento de todo mundo nesse lugar, da universidade, das pessoas. Estamos vivendo um momento em que precisamos saber o que vai acontecer conosco, pra saber de que forma vamos existir. O desejo de continuar sempre existe. Mas não posso garantir nada” conclui.

Catulli Carmina
Núcleo de Música Coral da UFMG – 20 anos
Direção geral: Ernani Maletta
Sesc Palladium (r. Rio de Janeiro, 1.046, centro, 3270 – 8100). Entre os 14 e 16. Sexta e sábado, às 21h; domingo, às 18h. R$ 20 (inteira)

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