PAMPULHA

Desconexão 

Redação O Tempo

Por Bárbara França
Publicado em 27 de agosto de 2016 | 03:00
 
 
 
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Pedro Cardoso, 54, resolveu reencenar “O Autofalante”, que chega ao Palácio das Artes no próximo fim de semana (dias 3 e 4), sob a única justificativa de que “está mais atual do que nunca”. O monólogo, escrito e encenado pelo ator pela primeira vez em 1993, fala de um homem desempregado à espera de uma ligação que confirme ou não sua aprovação para uma vaga. A questão é que não se sabe se essa possibilidade existe. Não se sabe, inclusive, nem se existe a vaga de emprego ou se tudo não passa de um delírio desesperado desse homem. “O espetáculo aborda a conexão com a realidade ou a sua ausência. ‘O Autofalante’ fala ainda da falta de voz que o cidadão tem no mundo moderno. É aí que quero chegar quando falo de sua atualidade”, comenta. 
Para Cardoso, “desconexão” pode ser a palavra para descrever o sentimento dos brasileiros com o momento presente, de crise econômica e política. Algo que o ator sentiu mais fortemente após a sessão de votação sobre o impeachment da presente Dilma Rousseff no Congresso Nacional, em abril deste ano.
“Aquele acontecimento foi de compreensão muitíssimo difícil. Pensa bem, todas aquelas pessoas envolvidas em suspeita de envolvimento em corrupção defendendo algo em nome de Deus, da família… Tudo aquilo deixou a população desamparada. Ficamos todos com um sentimento muito estranho, como se estivéssemos morando não na nossa casa, mas em outro lugar”, observa Cardoso, contando que foi depois desse dia que ele resolveu que de fato montaria “O Autofalante” novamente. 
Em comparação à montagem de 23 anos atrás, o espetáculo que será apresentado na capital, segundo o ator, tem como diferença a inserção de projeções, por exemplo, da referida votação. “Trazemos várias imagens que contextualizam no momento atual. Temos lá o espetáculo dantesco que foi aquele dia no Congresso Nacional, mas também temos outras imagens que refletem a nossa experiência cotidiana através da TV. Já reparou como a TV produz uma imensa falta de sentido? É uma experiência angustiada, assim como a experiência que vive o personagem da peça”, comenta o ator, que, no entanto, faz uma ressalva. “Eu falo assim sério desses assuntos, mas sou muito mais divertido no palco. Trata-se de uma comédia”. Palavra de quem deu vida ao hilário taxista Agostinho Carrara por 13 anos pela série global “A Grande Família”. 
Teatro
Apesar de tantos anos dedicado à TV, Cardoso é crítico ao modus operandi televisivo e diz ser o teatro o lugar onde encontra verdadeiramente a liberdade que precisa para criar. “A TV é regida por interesses econômicos. No Brasil, eu não conheço nenhum artista que tenha feito obra de arte em TV. No teatro, onde não tem publicidade, é diferente. Nele, é possível a experimentação, a reflexão acerca do cotidiano sem outros interesses, afirma o ator.
 
O Autofalante
Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro, 3236-7300). Dias 3 e 4 de setembro (sábado, às 21h e domingo, às 19h). A partir de R$ 80 (plateia superior - inteira). 
 

 

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