Pesquisa

‘Estressômetro’ pode reduzir número de pessoas deprimidas

Aparelho em desenvolvimento na USP medirá nível de estresse, que atinge 70% dos brasileiros

Por Raquel Sodré
Publicado em 28 de março de 2015 | 03:00
 
 
 
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Ter tranquilidade virou luxo. Uma pesquisa do International Stress Management Association (Isma) revelou que 70% dos brasileiros sofrem estresse no ambiente de trabalho – isso sem contarmos o trânsito, o salário que não chega ao fim do mês e tantas outras preocupações. Com um dado tão contundente, pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas e Computacionais da Universidade de São Paulo (ICMC-USP) resolveram criar um estressômetro.

O dispositivo será composto por um smartwatch, que será conectado a um smartphone. Ambos terão um software para captar sinais indicadores de estresse. Esses parâmetros serão analisados pelo próprio programa, que vai gerar um relatório.

“O estressômetro pode ser comparado a um medidor de glicose no sangue, que permite a própria pessoa monitorar como está sua saúde no dia a dia. A grande diferença, porém, é que ninguém precisa saber que você está monitorando o seu estresse”, explica o professor Jó Ueyama, coordenador da pesquisa, que é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A previsão é que o aparelho chegue ao mercado em dois anos.

A ideia é conseguir diminuir o número de pessoas que desenvolvem um quadro depressivo por conta da sobrecarga de estresse. “Dado o número de pessoas nessa situação, se conseguirmos diminuir esse número em 10%, já ficaremos satisfeitos”, diz o professor.

Quando estiver pronto, o estressômetro poderá ser de muita ajuda para pessoas como a analista de pesquisas Rosali Lima, 37. Mãe de Maria Clara, 6, que tem dificuldades de locomoção, e atualmente desempregada, ela está à beira de um ataque de nervos. “Estou sempre muito agitada, ansiosa, me irrito com bobagens”, conta. E, quando o estresse bate, ela perde as estribeiras. “Grito, berro, choro muito. Já quebrei portas, janelas, joguei objetos no meu marido”.

Rosali não se orgulha da sua reação ao estresse e está tentando remediar, mas ela sente ainda estar longe do estágio “zen” que gostaria. “Faço controle com psiquiatra. Deveria fazer com psicólogo também, mas o SUS é uma vergonha. Tomo quatro medicamentos para tentar me controlar, e gostaria de fazer uma atividade relaxante, como ioga, mas sem dinheiro fica impossível”.

Gestão dos 'estouros' é uma questão de saúde
Fazer a gestão do estresse é não só uma questão de facilitar o convívio social, mas de saúde. Pesquisas relacionam o estresse crônico ao desenvolvimento de depressão e também a condições que vão da asma a doenças dermatológicas, passando por alergias e problemas imunológicos e cardíacos.

Segundo Georgina Alves Vieira, doutora em psicologia social, o primeiro passo para administrar o estresse é identificar seus fatores. “Você tem que analisar não as questões externas, mas os seus sentimentos diante da situação”.

Depois, alguns “macetes” podem ajudar a diminuir a tensão. “Identifique ações e pessoas que desencadeiam o estresse e tente evitar a situação, organize-se para ter intervalos para si mesmo, não se cobre por ser o que é, tente aprender com os erros do passado sem se apegar a ele e desconecte-se: o mundo é mais que um smartphone” – são algumas dicas de Georgina. (RS)

A difícil luta diária
Proprietária de uma clínica de fisioterapia e estética, estresse é o que não falta para a empresária Renata Martins de Freitas, 31. “O que mais me irrita no trabalho é eu explicar alguma coisa (para um funcionário) e a pessoa repetir o mesmo erro depois”, conta.

Quando isso acontece, seu instinto controlador dispara. Em vez de explicar novamente a tarefa e delegar a função, Renata prefere fazer ela mesma. O resultado é óbvio: se cansa, se irrita e não resolve o problema a longo prazo. Em casa, as coisas não são muito melhores. O marido de Renata é vítima constante dos ataques de estresse da mulher. “Nele, eu ‘solto os cachorros’, coitado. Acho que é porque tenho mais liberdade com meu marido do que com outras pessoas que me estressam. Tem dias que eu fico até procurando uma briga e faço de tudo, até brigarmos”, diz.

Ciclo vicioso - Sua relação com o estresse é causa de – adivinhe – mais estresse, uma vez que ela não está bem resolvida com sua forma de lidar com as coisas. “Depois da crise, vem uma ressaca moral...”, confessa. Já sabendo disso, ela tenta se controlar, mas o resultado é bem diferente do que ela havia imaginado. “Antes de sair de casa, a primeira coisa que penso é que não vou me estressar. Mas é a conta de eu terminar esse tipo de pensamento e acontecer alguma coisa que me irrita”, revela.

Renata tem tentado entender sua relação com os fatores estressores e melhorar suas atitudes diante de situações adversas. Ela conta que, há sete anos, faz terapia e essa é a principal questão que trabalha nas sessões. Além disso, ela se propôs a fazer atividades físicas e meditar. “Meu foco tem sido não deixar os fatores externos me tirarem do controle”, finaliza.(RS)

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