Literatura

Rubens Paiva lança livro em BH

Autor do icônico “Feliz Ano Velho (1982) vem à cidade participar do Sempre Um Papo

Por Patrícia Cassese
Publicado em 19 de outubro de 2018 | 16:11
 
 
 
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As lembranças de como foi arrancado de seu habitat natural são vagas. Teria sido em Sumatra? Bornéu? Fato é que o início de “O Orangotango Marxista”, nova investida literária de Marcelo Rubens Paiva, já flagra o personagem citado no título em um laboratório brasileiro. Chegado de um centro de reabilitação africano, após ser resgatado de traficantes, o animal fica sob a tutela da ruiva Kátia, uma estudante de biologia que torna-se objeto de idolatria do símio.

E se a cumplicidade dos dois só faz se solidificar com o passar do tempo, um incidente desencadeia na transferência do primata para um zoológico no interior de São Paulo. Lá, dá continuidade às suas não raro mordazes análises sobre aqueles que nomina como “macacos nus” – trocando em miúdos, nós, humanos.

“O Orangotango Marxista” (Alfaguara) é o motivo que traz o paulistano, hoje contabilizando 59 anos de vida, de volta à capital mineira: nesta segunda (22), o autor do icônico “Feliz Ano Velho” (1982), entre outros títulos não menos bem-sucedidos, participa do projeto “Sempre um Papo”. Nele, além dos habituais autógrafos, conversa sobre esse inusual personagem que, na primeira parte de sua trajetória em terras tupiniquins, aproveita a noite, em função da gaiola sem trancas, para calibrar o intelecto com a leitura de obras de Marx, Engels e Kant. Ou, vá lá, Batman.

O embrião de toda essa empreitada, Marcelo confirma ter sido as visitas à casa do sogro, que reside em Americana, justamente em frente a um zoo. Atiçado pela curiosidade, o escritor, dramaturgo e jornalista percorreu algumas vezes as alamedas do local para confirmar, estupefato, a triste rotina daqueles animais cerceados de liberdade a observar visitantes que, por seu turno, pareciam estar mais interessados em seus celulares.

Instigado, partiu para uma série de pesquisas. “Estudei tudo: os macacos do novo mundo, os do velho mundo, os macaco-prego, que a gente encontra nas matas brasileiras... Mas também os grandes símios, como o chimpanzé e o gorila. Todos, de certa maneira, estiveram ligados ao homem há milhões de anos, para depois se separarem na evolução”. E por que, então, a escolha recaiu sobre um orangotango? “Na verdade, dos grandes símios, ele só não é mais inteligente que o homem. Mas sua memória às vezes chega a ser superior à nossa”, explica Marcelo.

No livro, seja no laboratório ou no zoo, em meio a situações bisonhas como os nomes ridículos que os animais recebem ou os maus tratos imputados ao colega gorila, o orangotango esquadrinha o homem moderno que, vale dizer, na sua perspectiva, também vive – ainda que simbolicamente – preso.

“Ando muito de metrô e ônibus e vejo as pessoas cada vez mais presas ao celular, vivendo um cotidiano virtual, em suas bolhas, jaulas, e esquecendo-se do real”, lamenta o autor, que, por outro lado, reverbera na obra (sim, o título também já avisa) a noção de utopia contida no pensamento de Karl Marx, a quem considera um injustiçado. “Mas não estou fazendo (no livro) uma apologia ao marxismo, e sim falando da filosofia dele e de questões que julgo relevantes em nossa sociedade”, diz o hoje pai de Joaquim e Sebastião (do casamento com a filósofa Silvia Feola) e também articulista do jornal “O Estado de S. Paulo”.

Marcelo Rubens Paiva lança livro na Biblioteca Pública Estadual (Pça da Liberdade), na segunda (22), às 19h30, com entrada franca.

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