MÚSICA

Sua excelência, o bandoneón 

Rufo Herrera apresenta nova composição e convida Otto Hanriot e Francisco Cesar para show na programação do VAC, dia 25

Por Patrícia Cassese
Publicado em 20 de janeiro de 2018 | 04:00
 
 
 
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Rufo Herrera é uma referência quando o assunto é o bandonéon. Aos 84 anos, o argentino (nascido em Córdoba, mas radicado desde 1963 no Brasil) já soma mais de sete décadas dedicadas ao instrumento que, criado por um alemão, encontrou terreno fértil para reverberar na região sul do país e nos vizinhos banhados pelo rio da Prata, por conta do fluxo migratório gerado a partir da Europa, no final do século XIX e início do passado. 

Do alto de seu virtuosismo, o afável artista compõe a programação musical do Verão Arte Contemporânea (VAC) com um concerto que, na verdade, oferece ao público o resultado sonoro da junção de três bandonéons. “Variacões Ad Libitum”, a mais recente obra de Herrera, também convida ao palco os instrumentistas Otto Hanriot e Francisco Cesar. A apresentação será no Memorial Minas Gerais Vale, na próxima quinta (25), com entrada franca, mediante distribuição prévia de botons.
 
A obra é composta de uma maneira semialeatória: os motivos musicais podem ser combinados entre os três instrumentistas de uma maneira quase infinita – daí o título, posto que o termo em latim “ad libitum” significa algo como “a bel prazer”. “Cada apresentação pode ser diferente, são módulos que podem ser combinados de forma distinta”, destaca. 
 
A apresentação terá como convidada especial a soprano Isabella Santos e conta com o suporte de projeções de Lucas Morais. Além da composição citada, o roteiro agrega obras de nomes como Astor Piazzolla.
 
Bom momento
 
Rufo Herrera conta que a obra “Variações Ad Libitum” foi considerada oficialmente concluída em setembro último. “Na verdade, comecei a trabalhar sobre ela no início do ano passado, mas, como tive um problema na vista, foi necessário dar um tempo para me dedicar ao tratamento. Atrasou um pouco”.
 
Entusiasmado, o músico argentino fala sobre o bom momento que o instrumento vem vivenciando na Europa – não sem antes retomar a própria trajetória do bandonéon, cujo nome, aliás, deriva do alemão Heinrich Band (1821-1860), um de seus aperfeiçoadores. 
 
“Sua primeira função era acompanhar corais nas igrejas”, esclarece. Mais tarde, lembra Rufo, os ventos da industrialização na Alemanha fizeram com que o custo fosse barateado, tornando o instrumento mais acessível. Entre o final do século XIX e início do século passado, a imigração alemã para Argentina fez com o bandonéon angariasse sucesso por lá, tornando-se, num segundo momento, o instrumento referência do tango. 
 
No curso do século XX, no entanto, o próprio tango passou por um momento de declínio, retomando fôlego com as inovações implementadas por Astor Piazzolla (1921-1992). 
“Piazzolla e Alejandro Barletta (1925-2008) contribuíram para o instrumento evoluir para outra linguagem, a de concerto, o que fez com que várias portas se abrissem”, narra Herrera, acrescentando que, atualmente, são vários, os conservatórios europeus que estão oferecendo cursos de bandoneón, em países como França, Japão ou Holanda. “Então, essa obra (“Variações Ad Libitum”) vem motivada pelo próprio ressurgimento do bandoneón”. 
 
Rufo Herrera também ressalta a importância de se ter obras escritas para o bandonéon. “Entre os compositores da minha geração, por exemplo, o único que teve editora foi Piazzolla. Assim, obras de vários autores feitas para o bandonéon não foram editadas. Há, claro, obras editadas que não foram escritas para bandonéon, mas transcritas. Por isso, com esse ressurgimento, considero que é preciso produzir material”, advoga.
 
Ele também cita o advento da internet como um facilitador para a divulgação dessas obras. “É diferente: antes, a composição ia para a gaveta mesmo, e muitas vezes a família (do autor) não se interessava (em editar). O fato é que hoje existe a internet, então, não preciso me preocupar com editora. Eu gravo e já posso disponibilizá-la, e é justamente isso que vai acontecer com ‘Variações’. Esse concerto, aliás, já está gravado em vídeo, só falta editar. E, assim que isso concluir essa etapa, vai para o meu site”, anuncia.
 
 
 
Rufo Herrera
Programação do Verão Arte Contemporânea
Memorial Minas Gerais Vale (praça da Libertade, 640, funcionários). Dia 25 (quinta), às 19h. Entrada franca. *Retirar boton uma hora antes do evento, limitado a um boton por pessoa.
 

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