Música

Talento no DNA

Caetano e filhos retornam a BH para show no KM de Vantagens Hall, dia 16

Por Raphael Vidigal
Publicado em 07 de dezembro de 2018 | 16:04
 
 
 
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Se, como reza o ditado, um é pouco, dois também não foi número suficiente para atender a saciedade do público belo-horizontino. Não por outro motivo, após uma apresentação inicial no Palácio das Artes, em outubro do ano passado, e de figurar como atração do Breve Festival, no Mirante BH, em agosto último, Caetano Veloso e filhos estão de volta à capital mineira – desta vez, os quatro ocupam o palco do KM de Vantagens Hall, em uma experiência que, em seu bojo, enseja uma homenagem às mães da prole do baiano, Dedé Gadelha (genitora de Moreno) e Paula Lavigne (de Zeca e Tom Veloso).

“Sinto esse show como uma experiência mística”, aponta Caetano, ao Pampulha. “É a nossa reunião sobre um palco, com toda a carga de energia cultural que nos envolve. Muito vem do Recôncavo, da minha origem familiar. Meu pai e minha mãe produziram muita luz. E vejo isso expandindo-se em nossas vidas”.
O cantor e compositor compara o feitio da empreitada ao de uma oração. “Procuramos tocar certo, mas não é uma exibição de músicos. É um compartilhamento de oportunidade de iluminação. Nesse sentido, contrapõe-se à atmosfera raivosa do Brasil e do mundo de hoje”, pontua o artista, que recentemente fez um forte desabafo em relação ao assassinato, a facadas, do mestre Moa do Kantendê, em outubro, após uma divergência política.

Indagado sobre o que mudou na estrutura do espetáculo desde sua estreia, Caetano esclarece: “O essencial é mantido. A estrutura visual, a forma do roteiro, tudo. Mas é claro que a passagem do tempo traz mais domínio do já estruturado e também novas ideias. Alguns arranjos foram mudando. E às vezes sai uma canção ou entra uma novidade”. Caetano lembra que, em meio à turnê, em conversa com o filho, Zeca, se lembrou de uma música antiga de Gilberto Gil, desconhecida, que fala de Moreno Veloso e de Preta Gil, quando eles eram criancinhas. “Na hora do show, cantei. Nem tinha planejado fazer isso, foi surpresa para todos – até para mim”, admite.

No entanto, acrescenta. “Fiz isso só naquela noite e não voltei a fazer nos shows subsequentes. Na última volta ao Rio, resolvi cantá-la de novo. Foi bacana porque Francisco, filho de Preta, estava na plateia, e eu não sabia”, diz, referindo-se a um dos netos de Gilberto Gil.

Se a presença desta canção é incerta no set list da apresentação em BH, a que terminou dando título ao show, “Ofertório”, é garantida. “Ela foi feita para a missa de aniversário de 90 anos de minha mãe (Dona Canô, falecida no Natal de 2012). Ela é que diz o essencial do show. Escrevi as palavras como se estivessem sendo ditas por minha mãe – e agora me servem para eu falar dos meus filhos”.

As citadas mães dos garotos são homenageadas por meio das músicas “Eu Não Me Arrependo” (composta para Paula Lavigne) e “Ela e Eu” (para Dedé). O público local que já assistiu ao show se lembra que um dos momentos mais surpreendentes do espetáculo é quando Zeca Veloso interpreta uma composição de sua autoria, “Todo Homem”. Outro momento que, indubitavelmente, terá seu bis nessa nova oportunidade.

“Já faz uns três anos (que a compus)”, conta Zeca. “Era verão, estava com Tom, meu irmão, e um amigo. Os dois foram à praia e eu fiquei tocando a progressão de acordes da primeira parte da música. Terminei escrevendo a letra e fiquei muito entusiasmado. Era muito sincera e sentida, mas bem construída, como sempre quis fazer, mas nunca tinha conseguido”.

O refrão, emenda ele, veio logo depois, “melodia e letra quase juntas”. “Escrevi a segunda parte na praia, fui procurar Tom para mostrar a primeira e não o achei…”, rememora o moço, hoje com 26 anos. O pai coruja endossa o talento do filho. “Zeca me surpreendeu com melodias muito pessoais e cheias de sentimento”.

Outro momento que mobiliza plateias é quando o caçula Tom (21 anos) dança, empolgado. “Tom toca bem, ouve bem, compõe bem e escreve letras muito bem. Mas nunca tínhamos tido o hábito de tocar juntos. Ou de compor juntos”, diz o pai.

O primogênito da prole já é mais “íntimo” do público. Aos 46, Moreno Veloso é referenciado como “um milagre” pelo pai pelo fato de, aos 9 anos, ter feito a letra de “Um Canto de Afoxé Para o Bloco do Ilê”. “Depois fizemos ‘Sertão’, que ele gravou no (projeto) ‘Moreno+2’. E ele me presenteou com ‘How Beautiful Could a Being Be?’”.

Sobre trabalhar com os três, Caetano exulta: “Parece outra coisa, não é como fazer com outros parceiros. Eles são extensões de mim na minha cabeça”.

Ofertório
Caetano, Moreno, Zeca e Tom Veloso. KM de Vantagens Hall (av. Nossa Sra. do Carmo, 230). Dia 16 (domingo), às 20h. A partir de R$ 130 (pista, arquibancada, 3º lote)

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