MÚSICA

Unidos pela 'fina melancolia'

Teresa Cristina apresenta show em homenagem a Cartola na próxima sexta (26), espetáculo segue formato intimista com voz e violão

Por Jessica Almeida
Publicado em 06 de maio de 2017 | 03:00
 
 
 
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Era para ser um projeto pequeno: um show de meia hora no Real Gabinete de Leitura Português, no Rio de Janeiro, no início de 2015. O cachê não era alto e a infraestrutura teria de ser toda providenciada por ela. Mesmo assim, Teresa Cristina, 49, se esmerou o máximo que pôde para realizá-lo. A resposta do público foi tão positiva que o trabalho cresceu, virou uma gravação para plataformas de streaming e depois também CD e DVD. Seu maior e mais recente desdobramento é uma turnê pela Europa com Caetano Veloso. 
 
Um dos trabalhos mais ricos da carreira da cantora, o show “Teresa Cristina Canta Cartola” vai ser apresentado na próxima sexta (26) em Belo Horizonte, no Teatro Bradesco. A apresentação abre a edição 2017 do projeto Uma Voz, Um Instrumento, que trará shows intimistas à cidade.
 
A relação de Teresa com a obra do compositor começou nos anos 1980. “Já tinha ouvido ‘As Rosas Não Falam’ e ‘O Sol Nascerá’ quando era mais nova, mas estudar com atenção, ler as músicas e conhecer o compositor, só fui fazer próximo da morte dele. Desde então, eu sempre tive uma admiração muito grande e passei a reconhecê-lo como um gênio. Quando eu comecei a cantar samba (no início dos anos 2000), tive mais admiração ainda. Nessa época, eu comecei a descobrir suas músicas desconhecidas”, conta. Outro ponto importante pra que se estabelecesse a relação é que Cartola é um grande ídolo de Paulinho da Viola, por sua vez, alguém que Teresa admira muito.
 
Acompanhada do violonista Carlinhos Sete Cordas, a cantora canta canções como “O Mundo É Um Moinho”, “Ao Amanhecer”, “Disfarça e Chora”, “Tive Sim” e “Acontece”. “O show sempre é uma obra em aberto. A gente começa o espetáculo sempre com o roteiro definido e com uma maneira de cantar já estabelecida. Mas ele já mudou porque o Carlinhos sempre traz novidades e levadas diferentes, minha relação e emoção com as músicas também mudaram com o tempo, e nós inclusive nos arriscamos em mudanças de interpretação só com um olhar. Nossa cumplicidade aumentou”, analisa. “É engraçado, porque eu já estou fazendo esse show há muito tempo e ainda o sinto muito vivo. Mesmo agora, na Europa, onde eu me apresento com Caetano apenas durante meia hora, parece que eu comecei a fazer ontem”.
 
Aproximação
 
Teresa e Carlinhos vêm praticamente direto dos shows europeus para a apresentação em BH. E foi graças ao projeto que a relação entre ela e o tropicalista foi estreitada. “Nos conhecíamos de antes e ele me sugeriu que colocasse minha assinatura na interpretação das canções. Quando foi me ver nesse show ele percebeu que segui sua recomendação e se emocionou com meu canto”, lembra. A emoção resultou num texto em que Caetano diz que “os sambas de Cartola surgem mais precisos e mais tocantes do que nunca” e consequentemente no convite da gravadora norte-americana Nonesuch que os dois se apresentassem juntos pela Europa. “A oportunidade de me apresentar em tantos lugares do mundo ao lado dele é uma coisa que eu nunca esperei. Nem nos meus maiores sonhos”, diz.
 
Além de Caetano Veloso, o crítico de música Mauro Ferreira também ficou impressionado com a leitura de Teresa Cristina sobre a obra de Cartola. Para ele, as canções do sambista encontraram nela uma intérprete ideal, uma vez que ambas as vozes compartilham do que ele chama de “fina melancolia”.
 
“Acho que a melancolia existe na obra do Cartola de um jeito muito pontual. Está exposta, por exemplo, na melodia ou nos caminhos que ele leva para chegar as conclusões que ele tira a partir das canções (ou não tira conclusão nenhuma)”, comenta. “Eu sempre me considerei uma pessoa bem melancólica, mas eu não sei de onde vem isso. Pode ser por eu ser pisciana, por ser tímida, por gostar de ser solitária e fazer muita coisa sozinha, não sei... A melancolia é um sentimento que não é estranho a mim. Eu sempre tendo a gostar das músicas mais tristes. Não que eu não goste de música animada, eu adoro! Mas aquela música que me toca, que me faz querer ouvir de novo e correr atrás dela, é sempre uma música triste”.
 
Teresa Cristina canta Cartola
Projeto Uma Voz Um Instrumento
Teatro Bradesco (r. da Bahia, 2.244, Lourdes, 3516-1360). Dia 26 (sexta), às 21h. R$ 130 (inteira)

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