Combate ao Aedes

Tecnologia reduz transmissão de dengue, zika e chikungunya

Biofábrica vai produzir mosquitos com a bactéria Wolbachia para colaborar para a redução da transmissão de arbovírus urbanos, o que impede a disseminação de dengue, zika e chikungunya


Publicado em 09 de agosto de 2021 | 03:00
 
 
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Uma bactéria presente em 60% dos insetos se tornou uma das grandes apostas para controlar doenças como dengue, febre do zika vírus e febre chikungunya. Chamado de Wolbachia, o microrganismo consegue impedir o desenvolvimento desses vírus dentro do mosquito Aedes aegypti, que não a possui naturalmente. E uma biofábrica que vai desenvolver o Aedes com a Wolbachia será construída pela Vale, em Belo Horizonte, para atender os 22 municípios da bacia do rio Paraopeba afetados pelo rompimento da barragem B1.

Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e líder do método Wolbachia no Brasil, Luciano Moreira conta que estudos apontaram que as áreas na Indonésia que receberam o mosquito com a bactéria tiveram redução de 77% na incidência da dengue. Em Niterói (RJ), a tecnologia é utilizada desde 2015 e chegou a reduzir em 60% os casos de chikungunya – o projeto também é desenvolvido na capital mineira, no Rio de Janeiro, em Petrolina (PE) e Campo Grande (MS).

“O método Wolbachia consiste na liberação de Aedes aegypti com Wolbachia para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais e seja estabelecida uma nova população destes mosquitos, todos com Wolbachia, e assim colaborar para a redução dessas doenças”, explicou. Com expectativa de ser iniciada neste mês, a obra da biofábrica vai durar 15 meses e receber R$ 10,7 milhões da Vale. Já a implementação do projeto pela Fiocruz e o World Mosquito Program (WMP), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde, terá investimento de cerca de R$ 57,1 milhões com recursos do acordo global de reparação.

Segundo o pesquisador, a estrutura terá capacidade total de produzir cerca de 4 milhões de mosquitos por semana, que começam a ser liberados quatro meses após a entrega. “A implementação completa do método Wolbachia nos 22 municípios tem duração prevista de cinco anos após o início das operações. É uma estratégia segura, eficaz e autossustentável para o combate da dengue, zika e chikungunya. Contudo, ressalto que este é um método complementar às demais ações de controle”, enfatizou o especialista.

Ampliação em outros municípios. O secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, disse que o método Wolbachia vai ajudar a complementar as ações de controle das doenças transmitidas pelo<FI10> Aedes aegypti </FI>em Minas Gerais. A expectativa é que a ação seja ampliada para outros municípios fora da bacia do Paraopeba. “Após esse tempo de produção necessário e a transferência de tecnologia, esperamos conseguir ampliar essa metodologia para todo o Estado. Como ainda não existem vacinas aprovadas, esse método é uma opção a mais para evitar a transmissão desses vírus”, concluiu.

Drones ajudam a combater a dengue na Grande BH

Como 80% dos focos do mosquito Aedes aegypti são encontrados dentro de casas ou quintais, os drones passaram a ser grandes aliados na eliminação dos criadouros. Os equipamentos ajudam a mapear locais com potencial de proliferação do inseto, como imóveis vazios, telhas e lajes, e, com a autorização dos proprietários, são usados para lançar produtos que combatem as larvas em lugares de difícil acesso. Por isso, a Vale tem apoiado prefeituras da região metropolitana a implantar o projeto, embora não se trate de um impacto decorrente do rompimento.

As ações para ajudar no enfrentamento da dengue, zika e chikungunya já acontecem em Brumadinho desde 2019 e foram ampliadas para a capital mineira no ano passado. Ao todo, o investimento da empresa só em Belo Horizonte é de R$ 7,8 milhões, com duração de 24 meses. A operação é coordenada e fiscalizada pela Secretaria Municipal de Saúde.

Por meio dos drones, a cidade é mapeada com o apoio dos agentes de combate a endemias das prefeituras, e os criadouros, tratados com o mesmo larvicida utilizado pelas prefeituras, recomendado pela Anvisa, Opas e OMS. É uma substância que não é tóxica e não gera nenhum prejuízo ao meio ambiente. Segundo a Vale, a iniciativa não interfere em demais ações desenvolvidas nos municípios e também não substitui as inspeções semanais para eliminar os locais de proliferação, como pratos de vasos de plantas, caixas-d‘água destampadas e calhas entupidas.

Cuidados com animais silvestres e domésticos em sete fazendas

Em sete fazendas localizadas em Itabirito, Itabira, Barão de Cocais e Brumadinho, que também contam com um hospital veterinário, cuidado e atenção são dedicados aos animais. Sejam silvestres, domésticos ou de produção, todos recebem tratamento conforme os protocolos sanitários e de manejo recomendados pelas autoridades e órgãos ambientais. 

Encaminhados das áreas impactadas ou de comunidades evacuadas para as fazendas, cerca de 400 cães e gatos receberam o tratamento necessário e estão à espera de um novo lar. Por conta da pandemia, os eventos presenciais de adoção estão suspensos, mas os interessados podem conhecer os animais pelo site www.vale.com/melevapracasa, que já recebeu cerca de 20 mil visitas – só em 2021, 40 animais foram adotados.

Além disso, as estruturas atendem animais silvestres impactados pelo rompimento, encontrados em áreas de obras ou até em situação de risco nas comunidades – ao todo, já foram reintegrados à natureza mais de 120 animais, principalmente aves, segundo a bióloga e analista de meio ambiente Cristiane Cäsar, da Vale. “Todas as atividades levam em conta o bem-estar do animal para garantir que tenha um ambiente adequado para a espécie exibir seu comportamento natural. Os treinamentos para reintegração também seguem um padrão para não causar estresse”, resumiu.

Técnica inédita no mundo

Por meio de uma parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV) e uma tecnologia inédita no mundo, a Vale está resgatando o DNA de plantas nativas e criando cópias para acelerar o reflorestamento da área impactada em Brumadinho. Mudas que poderiam levar mais de oito anos para florescer iniciam esse processo em até 12 meses, o que contribui efetivamente para acelerar a recuperação da biodiversidade local,

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