No primeiro episódio do Tempo Hábil Entrevista, conversamos com o infectologista e professor de clínica médica da Faculdade de Medicina da UFMG Mateus Westin sobre o que há de conclusivo sobre o uso de medicamentos como a hidroxicloroquina e a cloroquina no tratamento da Covid-19.
A discussão é motivada por falas dos presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, que fizeram aumentar o interesse por essas substâncias, não só nas buscas na internet, como também nas farmácias, o que comprometeu, inclusive, a rotina que quem precisa utilizá-los de maneira contínua – pessoas com lúpus ou artrite reumatoide, por exemplo.
Na conversa, falamos também sobre o porquê de a Organização Mundial da Saúde (OMS) ter recomendado que não se usasse o ibuprofeno no tratamento dos sintomas da Covid-19 e depois voltado atrás, e também sobre a relação do novo coronavírus com medicamentos para controle de diabetes, hipertensão e insuficiência cardíaca, além do como devem proceder as pessoas que fazem uso desses remédios.
Leia um trecho da entrevista:
O que existe, hoje, de indício de que a cloroquina e a hidroxicloroquina possam ser usadas no tratamento da Covid-19?
Em relação à cloroquina e à hidroxocloroquina, o que se tem, não só de hoje, mas de outros tempos, é que ambas têm alguma ação antiviral e um efeito imunomodulador, ou seja, de modificar a forma como o sistema imune de cada pessoa responde a infecções, inclusive a infeções virais. E, no caso do coronavírus, houve resultados de inibição da replicação viral in vitro, ou seja, em testes laboratoriais fora do contexto clínico das pessoas que tenham adoecido. Isso motivou estudos iniciais e ainda muito incipientes com a hidroxocloroquina, especificamente, que se mostrou mais ativa do que a cloroquina. E saiu, recentemente, na semana passada, o estudo francês, em Marseille, mostrando que usar a cloroquina em pacientes infectados pela Covid-19, pelo coronavírus, propiciou uma menor replicação viral e um clareamento viral no sexto dia de doença. Ou seja, comparativamente a quem não usou, parece que houve mais rápida eliminação do vírus.
Isso não significa muita coisa, porque o que a gente precisa saber é se as pessoas vão progredir menos pra gravidade da doença, progredir menos para o óbito consequente à gravidade, se vão se internar menos, se vão ficar menos dias no hospital, se vão ficar com menos tempo de ventilação mecânica, se vão ou não precisar de ventilação mecânica. Esse estudo francês não mostrou nada disso, foi feito com um número muito pequeno de pessoas, então ele apenas abre uma nova perspectiva pra que outros estudos sejam feitos.
O que a gente tem de concreto hoje é que existe uma possibilidade de que cloroquina ou hidroxocloroquina sirvam para tratar ou eventualmente até prevenir a infecção, mas nós não temos autorização pra uso em contexto fora de projetos de pesquisa. Já existem projetos de pesquisa internacionais cadastrados no ClinicalTrials.gov e já existem alguns processos e projetos de pesquisa em território nacional que vão estudar o efeito desse medicamento. Só no contexto de protocolo de pesquisa que ele deve ser utilizado.
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