Na segunda-feira (18 de novembro), Carlos Viana (Podemos) retorna ao Senado após ter se licenciado para se candidatar à Prefeitura de Belo Horizonte. Em sua volta, o senador pretende tratar como prioridade as pautas envolvendo a regulamentação de Inteligência Artificial no país e a reforma tributária. Em conversa com a reportagem de O TEMPO, Viana ainda fez um balanço sobre sua campanha para as eleições de 2024 e comentou sobre sua relação com o Podemos após ter enfrentado desavenças com o partido no processo de candidatura para o pleito.
Confira, abaixo, a entrevista completa.
O senhor retorna ao Senado no próximo dia 18 de novembro. Qual a expectativa para sua volta, qual será a prioridade do seu mandato neste final de ano e início de 2025?
A nossa prioridade para este ano é terminarmos a nossa Comissão Especial sobre Inteligência Artificial. Eu sou o presidente da Comissão, o relatório está sendo finalizado. A expectativa é de que a gente consiga votar uma regulamentação para essa questão da Inteligência Artificial até o final dos trabalhos legislativos agora em dezembro. O relator, senador Eduardo Gomes, de Tocantins, nós temos conversado bastante sobre a necessidade de agilizarmos já no dia 18. Os trabalhos se encerram no dia 14, mas estamos pedindo ao presidente da casa a prorrogação dos serviços por mais quatro meses, mas a expectativa é de votarmos o relatório da Inteligência Artificial já em dezembro. Outra questão é a chamada reforma tributária, que voltou ao Senado e que está agora já na fase final, porque a revisão é nossa, é dos senadores. Nós temos ali uma série de pontos que foram modificados pela Câmara, inclusive o aumento da alíquota do IVA, que, ao que parece, chegará a 28,5%. Nós precisamos trazê-lo de volta aos 26%, como estava estipulado anteriormente. Isso vai exigir muito trabalho do relator e também daqueles que o acompanham. Há uma preocupação muito grande dos empresários mineiros, especialmente da Federa Minas, que reúne as associações comerciais do Estado, sobre a questão de se colocar o simples em risco, o simples que é uma forma de tributação muito importante para os pequenos e microempresários. Eu acredito que esses dois assuntos serão prioridade para as discussões até dezembro. Naturalmente, a questão das emendas, tanto de bancada quanto impositivas, os valores delas e a utilização com transparência, que também deverá na próxima semana ser resolvido ,no mais tardar na semana da minha volta, em 18.
Além desses projetos que estão em andamento, tem algum novo que o senhor pretende apresentar ao retornar ao Senado?
Tem. Eu tenho analisado com muita atenção essa questão das redes sociais que estão, hoje, influenciando de uma maneira muito negativa em alguns aspectos, até mesmo a vida política do país. A corrupção no passado, o conceito de corrupção que nós temos é a questão de desvio de dinheiro público, de obras e por aí vai. Mas hoje, quando um parlamentar usa as redes sociais para desinformar a população, a meu ver, essa também é uma forma de corrupção. Eu vou colocar isso em discussão no Senado sobre nós começarmos, inclusive, a tratar como crime de corrupção e impossibilidade de reeleição aqueles que forem condenados divulgando informações falsas por rede social. Eu acredito que nós precisamos, na política, começar a raciocinar com clareza o limite entre denúncias, que é uma obrigação do parlamentar, a fiscalização, mas a utilização de informações e dados incorretos para que a população possa tomar decisões, o que acaba atrapalhando até mesmo o processo democrático. Essa será uma discussão que eu quero levar até a Comissão de Constituição e Justiça assim que retornar ao Senado, para que a gente possa elaborar um projeto nesse sentido.
A BR-381 sempre foi um tema muito caro ao senhor. Há alguma questão que o senhor considera que precisa ser priorizada no momento, nesse processo de concessão para a iniciativa privada?
O projeto que o governo Lula privatizou, 99% dele estava pronto desde o governo passado, na era Bolsonaro. Eu critico o Bolsonaro em vários aspectos, vários pontos, mas há outros que eu preciso elogiar. Na questão, por exemplo, da infraestrutura e da economia, o governo foi muito bom. A infraestrutura deixou soluções importantes para um segundo mandato que acabou acontecendo na eleição do ex-presidente Lula. A questão da 381, por exemplo, o projeto que foi leiloado agora, recentemente, com sucesso, é o quarto projeto. Nós trabalhamos três, eu trabalhei pessoalmente em três diferentes projetos, um infelizmente não foi possível por conta do Covid e outros dois não tiveram interessados porque nós, na época, eu fiz questão de manter o pedágio em um valor de R$ 12,50, o máximo para pistas duplas. O projeto que veio agora deixou livre para que as empresas interessadas pudessem dizer qual seria o pedágio ideal. Nós vamos ter um pedágio de quase R$ 25 por trecho, ou seja, o dobro, o que acabou gerando interesse, mas vai pesar muito mais no bolso dos mineiros. O importante é que tenha essa segurança, porque o pedágio é a solução. E a preocupação do trecho Caeté-Belo Horizonte, que é o trecho mais complicado que nós tiramos do projeto para privatização, e que agora está ganhando 20 quilômetros no trecho mais perigoso que é Caeté-Ravena. Eu tenho conversado muito com o ministro Renan Filho, antes da licença, eu tive várias reuniões com ele sobre as concessões em Minas Gerais e eu estou satisfeito, a meu ver, foi inteligente do governo Lula manter um projeto que veio da era Bolsonaro e que era o melhor para Minas Gerais. Nós conseguimos resolver também a questão da 040. É bom lembrar que a 040 foi privatizada na era Dilma, foi um desastre a privatização, nós não conseguimos fazer avançar uma das rodovias principais, conseguimos a devolução, na época já, ainda, do ministro Tarcísio, do Rio para Belo Horizonte. Depois a 262, que é Betim-Uberaba, estava com problema judicial, conseguiu-se também um acordo para devolução e Minas está vivendo um momento muito bom na questão da infraestrutura. A questão das ferrovias, por exemplo, o marco das ferrovias, eu fui correlator dele, hoje Minas pode, com tranquilidade, esperar investimentos, porque nós não temos mais concessão de rodovias, nós temos privatização dos trechos, ou seja, a empresa pode propor a construção sem precisar das autorizações além das ambientais. E a BR-367 no Jequitinhonha, que recentemente conversei pessoalmente com o presidente Lula e pedi a ele uma atenção grande para o Jequitinhonha, uma vez que eles têm lá uma maior votação, o Norte de Minas deu a maior votação ao PT, expliquei isso ao presidente e a necessidade de que a obra não seja descontinuada. Eu consegui a presença de um batalhão do Exército lá, são 150 homens, uma companhia inteira de engenharia, de um batalhão que veio do Piauí, estão trabalhando no trecho entre Almenara e isso é muito importante para a gente complementar para o Jequitinhonha essa obra. Eu estou confiante de que a gente vai entregar também essa concessão para o Estado.
Eu queria que o senhor fizesse uma avaliação geral da sua campanha para a Prefeitura de Belo Horizonte. Existe alguma lição ou alguma percepção importante dessa experiência?
O jogo político tem uma dinâmica própria. Eu tenho muita popularidade, eu sou cumprimentado nas ruas e agora mais ainda depois da eleição. Eu ando aqui por Belo Horizonte, as pessoas me cumprimentam nos pontos, nos táxis, dos ônibus, mas o gatilho para o voto é diferente da popularidade. Isso eu aprendi agora com muita atenção nessa eleição do que aconteceu. Eu continuo sendo muito respeitado e querido pela população. Mas o voto tem uma dinâmica diferente. Especialmente quando se fala em prefeito, que é um trabalho muito próximo das pessoas, ou em escolhas. Infelizmente, nós voltamos àquela questão de direita e esquerda, não é? E a direita da qual eu faço parte não conseguiu se livrar da extrema-direita. Nós ainda continuamos muito sob o espectro de um grupo chefiado pelo deputado Nikolas (Ferreira - PL). É um grupo de extrema-direita, um grupo que não tem diálogo, que quer impor às pessoas uma determinada pauta. A sociedade não é assim, a direita que eu me considero, eu chamo de direita inteligente. Nós queremos o diálogo. Eu digo que eu seria o único capaz de trazer votos de centro até de esquerda que poderiam vencer o prefeito Fuad. Mas a extrema-direita lançou a candidatura do deputado Bruno Engler, é um deputado jovem, sem experiência, nenhuma proposta, nenhum grupo de trabalho, nada. Quando chegou o segundo turno, ficou muito claro o quanto ele era vazio para Belo Horizonte. E se apegaram a uma questão de comportamento, que é um livro escrito pelo prefeito, e isso se tornou o mote de campanha. Mostrou claramente que a extrema-direita não estava preparada para poder comandar Belo Horizonte e ainda assim teve muitos votos. A gente tem que parar e pensar sobre a comunicação com o nosso grupo, especialmente com os evangélicos sobre o que está acontecendo. Não adianta nada a pessoa lacrar em rede social como eles lacram. “Ah, eu defendo a família”, nós também, todos defendemos. “Sou contra o aborto”, é um princípio básico da gente, a frente parlamentar evangélica da qual eu sou presidente no Senado, são muito claros os princípios. Agora, além disso, nós precisamos oferecer à sociedade propostas, proposta de respeito às diferenças, proposta de melhoria para a vida dos mais pobres, propostas para que a sociedade possa conviver em paz e não a imposição daquilo que eu penso que é certo ou que é errado. Tudo tem uma questão de diálogo, infelizmente, a direita acabou perdendo para um grupo de esquerda, centro-esquerda, muito bem estruturado e a máquina de campanha. A máquina de campanha faz uma diferença impressionante. Tirou o nome do prefeito do desconhecimento. Levou a uma vitória. Outro ponto importante que eu analiso também é a questão do envelhecimento da população. Nós estamos ficando mais velhos. Isso começa a fazer com que o olhar se volte com mais atenção para aqueles que ocupam cargos já na terceira idade. O prefeito Fuad mostrou que estava ali firme, disposto a trabalhar apesar da doença, apesar da idade e no meio dessa discussão nossa da direita, desse desencontro de direita, extrema-direita, nós não conseguimos levar à população as ideias com clareza. Ficou uma briga e isso acabou facilitando a reeleição do Fuad, o que, na minha opinião, no segundo turno, foi a eleição do menos pior, mas o nome que permitiria Belo Horizonte continuar pelo menos funcionando, porque se Bruno Engler fosse eleito, a cidade ia parar porque não havia experiência, muito menos gente pra poder formar secretariado e nós teríamos a oposição muito firme dos grupos de esquerda, isso prejudicaria muito o trabalho na câmara. Outra questão é partido. Você precisa ter grupo político. Eu não tive grupo político. O Podemos é um partido que, na nacional, me recebeu e recebe super bem, mas que em Minas não me apoiou. O secretário que comanda o partido em Minas não se envolveu, não se manifestou em hora alguma. Os candidatos do partido, dos 240, seis vereadores fizeram agendas comigo, os quais inclusive sou muito grato a eles. Agradeço o apoio, mas não houve por parte do partido um apoio efetivo a minha candidatura, o que inclusive prejudicou a chapa de vereadores, porque se eu tivesse conseguido uma votação na expectativa até de um segundo turno, os votos de legenda teriam aumentado a bancada do Podemos na Câmara Municipal. Nós nos afogamos abraçados. O Podemos fez um número, inclusive, de vereadores com quase nove mil votos. São bons vereadores que não conseguiram se eleger porque não tivemos os votos de legenda que a minha candidatura poderia permitir.
O senhor vê uma necessidade de mudança no tom da articulação da direita aqui em Minas? O que o senhor acredita que seja essencial, até para a direita se comunicar com outros eleitores, como aqueles eleitores mais moderados?
Enquanto a direita estiver sendo confundida com a extrema-direita, ligada aos princípios do ex-presidente Bolsonaro, nós vamos continuar perdendo as eleições. É a minha visão. A direita precisa de um novo projeto, ou o próprio presidente Bolsonaro, se quiser voltar ao poder, precisa fazer correções nos erros que ele teve no passado. Ele precisa reconhecer os erros que cometeu e estar disposto, inclusive, a mudanças de posicionamento em algumas questões para atrair o eleitor de centro e não perder para ele mesmo, como foi no passado. Se isso acontecer, a direita pode se unir novamente e caminhar em uma onda anti-PT como foi no passado. Mas, hoje, como esse grupo que tentou a candidatura em Belo Horizonte, a eleição, eles não conversam. Essa extrema-direita é fechada nela mesma. Eu, por exemplo, que faço críticas ao trabalho, sou chamado de direita prostituta, que se vende, por aí vai. Ou seja, é uma direita que não aceita diálogo nem com os próprios da direita. Há um canibalismo aí, uma antropofagia dentro da própria questão eleitoral, o que divide no parlamento. Os deputados, alguns deles, não conseguem nem discursar com tranquilidade no parlamento porque não são aceitos, os projetos não avançam, as soluções não avançam, e a política fica somente nas questões ideológicas, comportamento de direita, esquerda. Nós precisamos de uma direita que proponha soluções. Como eu disse bem durante a campanha, nós precisamos falar com os mais pobres, nós precisamos entender a questão dos ônibus ruins, que já voltaram a ficar ruins, inclusive. Foi só a eleição terminar, a limpeza da cidade piorou, os ônibus voltaram a diminuir os horários. Só confirmar aí, você vê que tudo foi feito para a eleição, mas a direita precisa de um novo momento no país. Eu continuo sendo exatamente o que fui desde o início, mas sem radicalismo. Eu continuo defendendo a família, como evangélico, sou contra o aborto, contra o jogo, contra a liberação de tráfico de drogas, mas eu sei conversar. Eu sei buscar e entender as diferenças pra eu também ser respeitado e, hoje, a direita, se continuar, volto a dizer, sendo confundida com essa extrema-direita que tentou Belo Horizonte, chefiada pelo Nikolas. O Bruno mostrou que ele é só parte, ele não tem muitas ideias. Se continuarmos sendo confundidos com eles em rede nacional, nós vamos continuar perdendo para a esquerda nas eleições do país todo.
O senhor chegou a citar, mais cedo, que não teve apoio do partido durante a campanha eleitoral. Como está a relação do senhor com o Podemos agora, depois desse período eleitoral?
Aqui no Estado, sem qualquer diálogo ou conversa, uma vez que não houve da parte do Podemos estadual reciprocidade no acordo. Eu cumpri a minha parte, fiz a licença, meu suplente assumiu, o que nunca assumiria na vida se não fosse por uma boa vontade da minha parte, eu cumpri o acordo. Mas, nacionalmente, continuo conversando com o partido e em breve, acredito que com a minha volta dia 18, nós vamos sentar eu e a presidente (Renata Abreu), vamos fazer uma avaliação do que foi a campanha e eu vou colocar, com toda a clareza, o que aconteceu aqui em Minas Gerais. Já tivemos uma primeira conversa, eu coloquei para ela quais foram os pontos falhos, principalmente. Quer dizer, nós já arrancamos com discussões internas, a comissão municipal que foi tirada, foi trocada sem me avisar, isso tudo gerou muita debilidade na campanha e para o partido, porque hoje, no meio político, o Podemos é um partido que não cumpre acordo. Isso, infelizmente, é muito ruim para a imagem do Podemos em Minas Gerais e eu achei que há realmente uma rejeição muito grande na política ao Podemos hoje no estado, e eu vou conversar com o partido sobre quais as decisões que eles querem tomar. Não vou tomar nenhuma decisão de imediato sobre troca de partido, nada disso, eu vou conversar e levar isso. Fui muito bem recebido no Podemos e quero dar minhas contribuições para melhorar a imagem do partido em Minas Gerais. É muito ruim um partido como o Podemos, no nosso estado, ser hoje considerado um partido em que as pessoas não têm confiança de que não cumprem acordos. Eu, da minha parte, o que depender de mim, eu tento mudar isso e ajudar a melhorar.
Então, o senhor descarta a saída do Podemos, a princípio?
Não está nos planos por agora. Primeiro, vamos fazer uma avaliação nacionalmente se eu tenho condições ou não de colaborar com o partido em Minas. Quem sabe nós podemos entrar em uma nova fase no partido dentro do Estado.
Senador, estamos caminhando para o final da nossa conversa e eu queria encerrar perguntando sobre os seus planos na política em 2026. Nós vamos ter novas eleições. O senhor tem em vista algum cargo na próxima disputa? Pretende continuar e manter o foco no Senado? O que podemos esperar do futuro do senhor na política?
Eu vou caminhar para tentar a reeleição ao Senado, se for continuar na política, porque a decisão de me candidatar, novamente, ainda não está tomada, eu preciso conversar com a minha família sobre isso, porque quando vim, a proposta era ficar apenas 8 anos e depois dar sequência nos meus negócios, na minha vida particular. Mas o meu grupo, nós temos hoje 150 cidades em que eu tenho alguma atuação, 450 com algum projeto. Estes prefeitos têm me visitado constantemente e têm me incentivado a candidatar à reeleição, uma vez que eles reconhecem que eu sou o senador que mais atuou por Minas Gerais nesses últimos anos. Não há um senador que tenha feito o que eu fiz na questão das concessões, da melhoria do Norte de Minas, na melhoria da geração de renda no Jequitinhonha, o meu trabalho é muito reconhecido nessas regiões. Então, a minha ideia, se me candidatar novamente, será candidatar ao Senado. Eu vou trabalhar para que eu possa buscar essa reeleição e mostrar para as pessoas que Minas tem senador. Eu, ano passado, fui eleito o melhor senador do Brasil. Nós temos aqui aqueles que me acompanham em rede social e eu convido as pessoas a isso, no @carlosviana, vocês vão ver, hoje, se nós temos cinco concessões, metrô, 040, 262, 381, a 367 andando, foi trabalho meu em Brasília. Se nós temos, hoje, um Norte de Minas que conseguiu superar aquela questão de carros-pipa, foi um trabalho meu em barragens, em geração de renda, em apicultura, em agricultura familiar, isso tudo eu fiz. Agora é preciso mostrar isso para a população. Eu percebi, nessa campanha, que a maioria não conhece nem o que faz um senador, muito menos o meu trabalho. Então, o meu desafio é mostrar para as pessoas que os 3,5 milhões de votos que eu recebi, eu trato com muita responsabilidade e que tem dado muito resultado em Brasília e nós vamos trabalhar mais.