Das nove regionais de Belo Horizonte, o Barreiro é a que vai ter a maior representação na Câmara Municipal a partir de 2025, segundo levantamento da reportagem de O TEMPO. Os 41 vereadores eleitos foram questionados sobre onde ficam suas bases eleitorais, sendo que nove responderam o Barreiro. A regional Nordeste foi a segunda mais citada, com seis representantes; e a Norte, a terceira, com cinco.
As regiões Venda Nova, Leste, Oeste, Noroeste e Centro-Sul foram mencionadas por quatro vereadores cada; e a Pampulha, por três. Alguns apontaram mais de uma regional como base. Sete não identificaram uma região, destacando que tiveram votações pulverizadas pela cidade e dois não responderam. Os critérios usados pelos parlamentares para definir as bases eleitorais foram votação, local onde moram e trabalham e áreas onde têm mais atuação. Os vereadores ressaltaram, entretanto, que, apesar de manterem base em uma região específica, todo o território da cidade será pautado na Câmara.
Na avaliação do professor e especialista em ciências políticas Robson Souza, que trabalha na PUC Minas, especialmente em cidades grandes como Belo Horizonte, é importante ter vereadores representando uma área específica, desde que o político não transforme aquela região ou bairro em um “curral eleitoral”.
“Isso cria uma proximidade entre representante e representado. A questão territorial numa cidade é importante porque existem muitas Belo Horizontes dentro de Belo Horizonte. Agora, o parlamentar não pode pensar somente naquele grupo ou usar instrumentos e técnicas de manipulação para continuar tendo um eleitor passivo”, afirma.
Conforme o professor, as redes sociais contribuem para que vereadores deixem de representar um território somente e passem a representar causas, tendo bases eleitorais independentes de bairros e regiões. “Muitas vezes, as pessoas acabam votando em um vereador não porque ele vai representar uma região, mas porque vai representar, por exemplo, o interesse ideológico”.
Essa mudança na forma de representação não é necessariamente ruim, de acordo com o professor de ciências políticas Manoel Wanderley dos Santos, da UFMG. Ele destaca que bases eleitorais podem ser criadas a partir de pautas, como segurança pública ou educação. “A representação regional é uma parte da história; alguns vereadores apresentam votação em todas ou quase todas”, diz.
Eleitores e candidatos têm forte ligação
A maior representação do Barreiro na Câmara não é vista com surpresa, já que a população da região tem certa identificação com seus bairros e existe uma tradição de atuação política específica da regional, que é o maior colégio eleitoral de BH, com 278,1 habitantes, segundo dados do IBGE, e cerca de 235 mil eleitores, segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral.
“O Barreiro tem uma identidade, é quase uma cidade. Isso é uma questão histórica. Por mais de uma vez, o Barreiro tentou ter uma independência de Belo Horizonte, porque é mais antigo do que a cidade. Há uma fidelização grande de candidatos e eleitorado da região”, explica o professor Robson Souza.
O vereador Juliano Lopes (Podemos), que vai para o quarto mandato e disputa a presidência da Câmara, é um dos representantes do Barreiro. Ele nasceu na região e vive lá até hoje, aos 52 anos. Juliano destacou que, se o Barreiro fosse uma cidade, seria a oitava mais populosa de Minas. “O Barreiro cresceu muito, e nós precisamos olhar para isso. É preciso melhorar a mobilidade e a saúde. Os postos estão superlotados”.
Quem também destaca o trânsito é a vereadora Iza Lourença (PSOL), que mora na região e é idealizadora do projeto de educação popular Consciência Barreiro. Ela cita a necessidade de incentivar a cultura. “Existem diversos agentes culturais que são pouco valorizados. As verbas e os projetos, em geral, ficam nas regiões centrais da cidade. É necessário ainda avançar em urbanização que garanta casa para a população que vive sob riscos”, afirma.
Periferia está no foco dos vereadores para 2025
As periferias da cidade foram citadas por seis vereadores de BH. Bruno Pedralva (PT) afirmou, inclusive, que sua base eleitoral vem das vilas e favelas e que o seu principal foco de atuação será criar infraestrutura nessas regiões e melhorar o acesso da população ao restante da cidade.
“A gente luta para que o povo tenha acesso à saúde de qualidade no seu centro de saúde, mas também acessando os especialistas, as cirurgias quando necessário, assim como transporte público de qualidade. A nossa meta é implantar a tarifa zero e melhorar o acesso da população mais carente às moradias populares, com a retomada do Minha Casa, Minha Vida; além de trazer áreas verdes para as periferias”, explica Pedralva.
Outros vereadores que citaram atenção especial às periferias foram Edmar Branco (PCdoB), que defendeu obras de infraestrutura nas comunidades das regiões Norte e Nordeste, e Helton Junior (PSD), que defendeu que as comunidades que fazem fronteira com outras cidades da região metropolitana precisam de mais investimentos em mobilidade.
Iza Lourença (PSOL) também ressaltou a necessidade de melhoria do transporte coletivo para ligar áreas periféricas ao centro da cidade, além de obras de infraestrutura nas comunidades.
Na região Centro-Sul, tanto Pedro Rousseff (PT) quanto Uner Augusto (PL) destacaram o problema da desigualdade social e a necessidade de aplicar recursos nas favelas. Ambos citaram a segurança pública como um dos principais problemas e defenderam investimentos no saneamento básico nessas áreas.