ENTREVISTA EXCLUSIVA

“Federalizar estatais agride minha inteligência”, critica Kalil, ao comentar proposta de Pacheco para a dívida de Minas

Ex-prefeito de Belo Horizonte defende que venda de empresas do Estado seria mais vantajosa do que a negociação com a União

Por Clarisse Souza
Publicado em 23 de maio de 2024 | 09:15 - Atualizado em 23 de maio de 2024 | 12:59
 
 
 

O ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-candidato ao governo de Minas Alexandre Kalil (PSD) voltou a criticar a possibilidade de que estatais mineiras sejam federalizadas como forma de abater parte da dívida pública do Estado com a União, que já ultrapassa os R$ 170 bilhões. Em entrevista exclusiva à reportagem de O TEMPO, o político afirmou que a proposta – encabeçada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de quem é correligionário – “agride a inteligência”. Na avaliação de Kalil, se for preciso abrir mão da Copasa, Cemig e Codemig, é mais vantajoso vendê-las para a iniciativa privada do que entregá-las nas mãos do governo federal. 

“Federalizar (empresas estatais) agride minha inteligência. Se é para o Estado perder (os ativos), vende, que vai achar uma proposta melhor. Mas tem que ver se dá lucro ou não. Se dá lucro, deixa comigo. Por que você vai levar a Cemig que dá lucro?  Mas se o que queremos é uma filosofia liberal e abrir mão das empresas, então, vamos colocar na iniciativa privada para ver se vai dar certo”, defendeu Kalil. 

 

Para Kalil, a transferência das estatais para a União ameaça, inclusive, a sobrevivência de empresas que prestam serviços essenciais em Minas. “Toda empresa municipal é melhor que estadual, e toda estadual é melhor federal. Então, nós só vamos sucatear ainda mais o que está precisando de muito investimento. Estou dando o exemplo da Cemig, que é uma das maiores empresas do Estado”, comentou o político. 

Não é a primeira vez que o ex-prefeito de Belo Horizonte ataca a proposta de Pacheco. Em dezembro do ano passado, Kalil já havia criticado a ideia de federalização das estatais, que faz parte de um pacote de sugestões apresentadas ao governo federal como alternativa para renegociar a dívida de Minas Gerais, sem adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. Naquela ocasião, o ex-prefeito – que não descarta a possibilidade de disputar as eleições de 2026 para o governo de Minas – declarou a  O TEMPO que a proposta do seu colega de partido era “uma aberração”. Vale lembrar que Pacheco também é cotado como um dos possíveis candidatos a governador no próximo pleito. 

Kalil também não poupou o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ao afirmar que o chefe do Executivo estadual tem falhado nas negociações da dívida pública com a União. Para o ex-prefeito, embora seja “o segundo governador mais importante do país”, Zema teria priorizado a ideia de “se lançar como liderança de extrema direita” em vez de “tentar resolver o problema sobre o qual sentou na cadeira para resolver”. 

Além disso, o ex-prefeito também disse ver com desconfiança a contraproposta que foi apresentada pelo governo federal para renegociar os passivos dos Estados. Para ele, a ideia de reduzir os juros da dívida em troca da expansão das vagas para alunos do ensino médio técnico não atende às necessidades particulares de cada unidade da Federação. “Falta um debate maior se (o que o Estado precisa) é educação, saúde, infraestrutura, se é universalizar o esgoto para a população. Acho que isso é um debate muito mais amplo para entender o que Minas Gerais precisa. É diferente do que precisa o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul, (também endividados). Não vamos uniformizar. Isso é um erro grosseiro”, criticou Kalil.

(A entrevista foi concedida aos jornalistas Cynthia Castro, Guilherme Ibraim e Thalita Marinho)

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