ELEIÇÕES

Disputa pela Prefeitura de BH atrai senador e deputados federais e estaduais

Dos 12 pré-candidatos já anunciados, oito deles ocupam cargos importantes, além da cidade de Belo Horizonte

Por Marco Antônio Astoni
Publicado em 24 de maio de 2024 | 06:00
 
 
 

Faltando pouco menos de cinco meses para o primeiro turno das eleições municipais, marcadas para o dia 6 de outubro, em Belo Horizonte, 12 pessoas já apresentaram seus nomes como pré-candidatos a prefeito. Dos 12 pré-candidatos, um é senador, dois são deputados federais, quatro são deputados estaduais, uma é secretária de Estado, um é o atual prefeito, um é vereador e os outros dois não exercem cargos públicos no momento.

Dos pré-candidatos, oito são parlamentares ou exercem cargos ligados ao primeiro escalão do governo de Minas Gerais. Por que, então, tanto interesse em um cargo municipal, ainda que como chefe do Executivo? Os motivos podem ser vários, desde a possibilidade de crescimento politico até a chance de governar uma cidade importante como Belo Horizonte, e cada candidato tem o seu.

Luísa Barreto, secretária de Estado de Planejamento e Gestão do governo Zema, é pré-candidata à prefeita pelo Partido Novo. Ela é formada em políticas públicas e gestão governamental e pós-graduada em gestão estratégica. Barreto afirma que seu interesse em se candidatar é para trabalhar por uma cidade melhor.

"Da minha parte, a busca por uma cadeira à frente da prefeitura de Belo Horizonte não visa nenhum ganho político individual ou mesmo partidário. A minha busca por uma cadeira na prefeitura de Belo Horizonte é porque eu tenho certeza que Belo Horizonte precisa de uma gestão mais séria, responsável e comprometida com o interesse dos belorizontinos. Eu entendo que falta na nossa cidade capacidade de gestão já há muitos anos para entregar o que o belorizontino mais precisa, que são serviços públicos melhores, uma cidade menos burocrática. E é por isso que meu nome está na disputa."

O jornalista e deputado estadual Mauro Tramonte (Republicanos) tem discurso semelhante. Ele afirma que conhece bem os problemas da cidade e por isso colocou seu nome à disposição do partido para ser candidato.

"Estou há 17 anos num programa de Televisão lidando todos os dias com as queixas da população e as mazelas da gestão pública. Graças a Deus estou com a vida bem equilibrada. Está na hora de eu poder retribuir, na prática, tudo que essa cidade que eu tanto amo me proporcionou. E , principalmente, retribuir a essa gente maravilhosa todo o amor, carinho e confiança que sempre depositaram em mim."

O Senador Carlos Vianna (Podemos) é jornalista com pós-graduação em gestão estratégica de marketing. Ele, que entrou no mundo político em 2018, quando foi candidato pela primeira vez, também diz que não tem projeto pessoal e que se preocupa em dar soluções para os problemas de Belo Horizonte.

"Eu não sou político, não me preocupo com ganho político, me preocupo em dar solução para os problemas da nossa cidade. As pesquisas feitas pelo Jornal O Tempo me colocam liderando a corrida em BH, então meu compromisso é com Belo Horizonte, resolver o problema das enchentes que ninguém resolveu; o problema do trânsito que está tão caótico que as avenidas têm até apelido já, Cristiano Atrasado, Antônio Caos; moradores de rua tomando conta da cidade; ciclovia espalhada a ladeira acima. Quem se preocupa com política é político. Eu me preocupo em ouvir as pessoas e resolver os problemas da cidade."

Para o professor e pesquisador da UFMG e PhD em comunicação e cultura contemporâneas, Camilo Aggio, deixar o trabalho nas esferas federal e estadual para ser prefeito de Belo Horizonte não é dar um passo atrás na carreira política. Pode ser o contrário disto.

"A própria constituição do campo político constituído, formado por profissionais da política, enxerga a atuação política numa relação hierárquica. As próprias casas legislativas possuem suas hierarquias. Então a notoriedade, o reconhecimento, a própria autoridade política, e, obviamente, a visibilidade pública e o capital político, eles advêm justamente dessa luta por galgar posições. Nesse sentido, a política não é muito diferente de outras áreas profissionais", ressalta Aggio.

O advogado especialista em direito eleitoral e analista político, Luís Gustavo Riani, acredita que o poder de tomar decisões com mais autonomia é o principal atrativo de ser prefeito de uma cidade importante ao invés de ser senador ou deputado.

"Eu penso que o Executivo sempre é mais atrativo, porque é o Executivo que tem a caneta, é ele que nomeia, é ele que faz as obras, é ele que organiza a cidade. Então penso sim que o Executivo é mais atrativo que o Legislativo. Sem dizer o próprio nome, o poder Executivo, é um poder que executa e ele executa o que? Ele executa exatamente as determinações que são as leis feitas pelo Legislativo, então assim as pessoas às vezes não nem compreendem muito também este poder né, que é o poder Legislativo, é este poder que fala o que que se é executado e quem faz as execuções é o poder executivo", afirma Riani.

Para o professor Camilo Aggio, Belo Horizonte tem grandes atrativos que estimulam um parlamentar deixar seu cargo para disputar a prefeitura da cidade.

"Belo Horizonte é a sexta maior cidade em termos de população do Brasil e a segunda cidade mais rica, então tornar-se o prefeito de Belo Horizonte significa ter bastante recurso para poder fazer coisas além de obviamente ter esse grande benefício de ser uma capital dessa relevância dentro da região Sudeste que, em geral, acaba gozando de maior visibilidade política midiática. Portanto, as vantagens são essas, executivas das próprias capacidades orçamentárias de fazer coisas. E a própria é catapulta da visibilidade pública de um determinado político. Então eu acho que Belo Horizonte, por essas características, acaba se tornando obviamente atrativo para todo e qualquer profissional", pontua o professor.

O advogado Luís Gustavo Riani afirma também que o poder do cargo e a influência direta na vida das pessoas faz com que ser prefeito é mais estimulantes para o político do que ser parlamentar.

"Os ganhos políticos são justamente estes. É quem executa, é quem coloca o asfalto na porta da sua casa, é quem coloca o esgoto na sua casa, é quem te dá o remédio, é quem te leva à saúde, como também os grandes problemas também sobrecaem sobre o executivo. Então, eu acho que o grande ganho de se governar numa cidade como BH é o ganho político mesmo de projeção nacional. É uma das principais capitais do país. Então, a projeção política nacional nota-se, assim, que você percebe que, por exemplo, a gente teve casos aí de prefeitos que foram prefeitos, ou foram candidatos a prefeitos, logo depois tornaram-se candidatos a governador, ou governador do estado. Isto tem uma alavanca na carreira política das pessoas", finaliza Riani.

Prefeito e presidente da Câmara também estão na disputa

Duas figuras que foram protagonistas na vida política de Belo Horizonte nos últimos anos também já se declararam pré-candidatos a prefeito. O atual comandante do Executivo da capital mineira Fuad Noman (PSD) e Gabriel Azevedo, que é presidente da Câmara Municipal. Os dois inclusive tiveram vários embates públicos.

Para Gabriel, estar na prefeitura significa poder contribuir mais para a cidade do que é possível como vereador já que, segundo ele, o papel dos vereadores é limitado. O presidente da Câmara também aproveita para cutucar o prefeito Fuad Noman novamente.

"A função de vereador é limitada, mas tudo que eu pude fazer por Belo Horizonte eu fiz, ao contrário de outras pessoas que só resolveram lembrar da cidade agora. Assinei mais de cem proposições que trouxeram mudanças significativas para a vida na cidade. Só de transporte público, foram oito. Entre elas, a que instituiu pagamento complementar ao sistema e exigiu, em contrapartida, tarifa zero em vilas e favelas e compra de mais de 600 ônibus novos. O fato da disputa contar com muitos candidatos que já possuem cargos políticos e que são conhecidos na televisão não diz muita coisa e não me assombra. Importa conferir as entregas já feitas, as propostas à frente da prefeitura e o amor por esta cidade. Vai me dizer que o prefeito, que está a frente do Poder Executivo, possui entregas relevantes, por exemplo? Nada… As obras eleitoreiras anunciadas por ele, em sua maioria, são herdadas de prefeitos anteriores e ainda assim não ficarão prontas tão cedo. A disputa está mais difícil para o prefeito que precisa convencer a cidade de que tudo está bem, enquanto todos os demais candidatos mostrarão a realidade: a gestão é péssima. E o debate pode ser mais qualificado se, além de críticas, forem feitas propostas como solução para cada um dos problemas, para além dos discursos vazios", afirma Gabriel.

A assessoria do prefeito e pré-candidato Fuad Noman não enviou as respostas aos questionamentos até o fechamento desta edição.

A reportagem entrou em contato com demais pré-candidatos que ocupam cargos públicos estaduais ou federais. Os deputados federais Rogério Corrêa (PT), Duda Salabert (PDT) e os deputados estaduais Bruno Engler (PL), Ana Paula Siqueira (Rede) e Bella Gonçalves (PSOL) não enviaram resposta nem retornaram as ligações. Paulo Brant (PSB) e Indira Xavier (UP) não ocupam cargos públicos, por isso não foram procurados.

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