Ao Café com Política, a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) denunciou que já enfrentou resistência no Congresso Nacional para aprovar um projeto de sua autoria, que propunha a criação do Dia da Ação Climática, devido à sua identidade de gênero. O relato foi feito ao programa do canal O TEMPO, exibido nesta quarta-feira (19 de março). 

Questionada se houve uma diminuição no preconceito dentro do Congresso desde sua chegada, Duda afirmou que a questão “não evoluiu” e relatou que, no mês passado, um projeto de sua autoria enfrentou resistências por ter sido apresentado por uma pessoa trans. “A gente foi votar, no mês passado, o nosso projeto, construído junto com o governo japonês, para criar o Dia da Ação Climática, para que as escolas, um dia no ano, apresentem protocolos do que fazer diante de uma tragédia natural, um desastre natural e para combater a crise climática. Colocar a escola no epicentro do combate à crise climática, como é feito no Japão”, iniciou o relato.  

A deputada classificou o projeto como “simples” e “pacificado”. “Quando conversaram com os líderes dos partidos, todos disseram que estavam favoráveis ao projeto. O projeto, que não tem por que uma pessoa ser contra, vai à votação. Quando entrou a votação, grupos da ultradireita tentaram bloquear o projeto e o debate do projeto e tiraram de pauta. Nós não entendemos”, prosseguiu. 

Segundo Duda, o líder do PDT procurou o líder da oposição para questionar o ocorrido, afirmando que o projeto já estava pacificado. “E o líder da oposição disse: ‘olha, nós não temos nada contra o projeto, mas muitos parlamentares da nossa base estão sendo contrários porque é uma trans que propôs o projeto”, afirmou.

A deputado destacou que houve quatro horas de discussão sobre a proposta. “O Congresso discutiu por quatro horas um projeto para que a escola apresente protocolos do que fazer quando tem um desastre natural. Por exemplo, o Rio Grande do Sul teve a tragédia climática. Para onde tem que levar as doações. Qual número ligar? Ficou quatro horas discutindo, o projeto sendo bloqueado, porque uma trans apresentou”, relatou. 

Duda Salabert expressou sua indignação diante do episódio, que, segundo ela, provoca uma “crise existencial profunda”, e lembrou de sua trajetória como a vereadora mais votada de Belo Horizonte, em 2020, e a deputada federal mais votada da história de Minas Gerais, em 2022. “Do que adianta ter cursado Letras, estar formando em gestão pública, ter feito Antropologia. Do que adianta ter dado aula durante 20 anos nas melhores escolas do Brasil? Do que adianta ter as votações? Temos votações históricas, sendo que no final, para alguns grupos, o que vai ser avaliado não é minha ideia, não é minha experiência, não é minha construção, é a identidade que eu tenho. Isso é muito ruim. O projeto foi aprovado, mas ainda há muita resistência por ser quem eu sou”, lamentou.

A entrevista foi conduzida pelas jornalistas Letícia Fontes e Cynthia Castro. Confira na íntegra abaixo:

Com redação de Salma Freua