A eleição do secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac, como porta-voz nacional da Rede aprofundou a influência do grupo da ex-senadora Heloísa Helena (AL) em relação ao da ministra de Meio Ambiente, Marina Silva, em Minas Gerais. Eleito com 73,5% dos votos, Lamac, que, hoje, está à frente tanto do diretório estadual quanto do diretório municipal da Rede em Belo Horizonte, assumirá a Executiva nacional após ter emplacado sucessores locais.
Até maio, a princípio, Lamac dará lugar como um dos porta-vozes estaduais da Rede ao atual coordenador de Formação Política, Paulo Roberto Miranda. Apesar de ter sido eleito há três meses em uma chapa construída consensualmente com o grupo de Marina, cuja expoente em Minas Gerais é a deputada estadual Ana Paula Siqueira, Paulo Roberto é aliado do secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte.
Em uma conferência prestigiada pela própria Heloísa, atual porta-voz nacional da Rede, o grupo da ex-senadora emplacou 25 dos 30 delegados de Minas Gerais designados para votar na eleição nacional realizada no último domingo (13 de abril). Já o de Marina, cinco. Os aliados da deputada estadual apoiaram a candidatura de Giovani Mockus, ligado à tendência de Marina. Coordenador nacional de Organização, Mockus teve apenas 26,5% dos votos.
Um mês antes da conferência estadual, Lamac já havia sido eleito um dos porta-vozes da Rede em Belo Horizonte. O encontro ainda alçou a ex-vereadora Professora Nara, primeira suplente da chapa do partido na cidade, como a outra porta-voz do diretório - como é praxe interna. Embora não tenha sido reeleita para a Câmara Municipal, onde ocupou um mandato tampão entre março e dezembro de 2024, Nara foi apoiada por Lamac nas eleições passadas.
Ana Paula nega qualquer desconforto com o aumento da influência do grupo de Lamac. “Não é uma questão de conforto ou desconforto, e o resultado que a Rede tem em Minas tem o meu legado. O que a gente tem que avaliar é a construção efetiva que eu dei para o partido. (...) O resultado que a Rede tem em Minas passa pela minha participação no partido como porta-voz”, afirma a deputada, que acrescenta que segue ao lado de Marina “pensando a sustentabilidade, construindo, inclusive, com outros mandatos”.
Dois dos quatro prefeitos eleitos pela Rede em todo o país em 2024 tiveram a bênção de Ana Paula. A deputada se envolveu diretamente nas campanhas de Txai Costa e Sidinei Resende, vitoriosos em, respectivamente, Nova Era, região Central de Minas Gerais, e Coronel Xavier Chaves, Campo das Vertentes. Txai e Sidinei foram os únicos prefeitos eleitos pela Rede no Estado nas últimas eleições municipais.
Reflexo das disputas internas anteriores à eleição de domingo, Ana Paula, que vai concorrer à reeleição como deputada, deve deixar a Rede. A ex-secretária de Participação Popular de Belo Horizonte está próxima do PT, partido em que deve chegar pelas mãos do ex-deputado e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado Durval Ângelo, com quem milita no Movimento Fé e Política. A migração partidária ainda envolveria uma dobrada com o deputado federal Miguel Ângelo (PT), também candidato à reeleição.
A avaliação entre interlocutores de Ana Paula é que a migração da Rede para o PT dará maior competitividade eleitoral para a parlamentar, reeleita há três anos com 33.621 votos, 5.500 a mais do que o primeiro suplente da federação Rede-PSOL, Dr. Roberto Britto. Enquanto o PT elegeu 11 deputados estaduais, a Rede fez apenas dois - além da ex-secretária de Participação Popular de Belo Horizonte, o partido elegeu Lucas Lasmar.
A fratura entre as tendências de Ana Paula e Lamac foi exposta no ano passado, quando tanto a deputada estadual quanto o secretário chegaram a lançar a pré-candidatura à Prefeitura de Belo Horizonte. Apesar de a Rede ter abandonado a candidatura própria e apoiado o deputado federal Rogério Correia (PT), Ana Paula e Lamac mantiveram posições opostas. A deputada trabalhou por Rogério, mas o secretário coordenou a campanha do ex-prefeito Fuad Noman (1947-2025).