Réu por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se disse alvo de uma perseguição durante a visita a Belo Horizonte nesta quinta-feira (26 de junho). A três dias de uma nova manifestação em São Paulo por anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, ele classificou como político o julgamento em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro se referiu à denúncia oferecida pela Procuradoria Geral da República (PGR) contra ele como “falsa tentativa de golpe”. “Ninguém consegue comprovar nada disso, mas teremos um julgamento político pela frente. Acredito em Deus. O que vier a acontecer, nós suportaremos”, afirmou o ex-presidente, sem citar o ministro e relator, Alexandre de Moraes.
Bolsonaro é julgado no STF por outros cinco crimes além de golpe de estado. A PGR denuncia o ex-presidente por tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado.
Segundo Bolsonaro, só os R$ 17 milhões doados por pix lhe garantiram uma “boa defesa” no STF. “Tenho ajudado também outras pessoas, mas não vou tocar no nome de ninguém aqui. Mais da metade foi embora. Muito obrigado a todos vocês por terem me dado uma sobrevida na questão dos processos”, afirmou ele, que chegou a se referir a “lawfare” e “ativismo judicial” durante o discurso.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez coro a Bolsonaro e se referiu a tempos “extremamente complicados e difíceis”. “Não dá para brincar com o inimigo que está por aí. (...) A gente tem praticamente dois anos de pessoas presas, pessoas que estão injustamente condenadas, que nem mesmo corrupto pega nesse país”, criticou ele.
Em referência ao ex-presidente, Nikolas citou que “soldado que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde”. “Não é somente eleições, é muita coisa que está em jogo. Ano que vem, eu não tenho dúvidas que vai decidir os próximos 20, 30 anos de política no nosso país. O que está em jogo não é nome, não é status, não é voto. Desculpa o palavreado, estou cagando para isso”, frisou o deputado.
Bolsonaro chegou a afirmar que estaria “preso ou morto” caso estivesse no Brasil, e não nos Estados Unidos, em 8 de janeiro de 2023. “Faço um apelo a todos que têm um parente em São Paulo ou amigos: dá uma ligadinha, pede para que domingo apareça na (avenida) Paulista. Vai ser um grande recado, mais um nosso”, disse Bolsonaro.
Ele voltou a insistir na manifestação na Paulista no fim de seu discurso. “Vamos mais uma vez mostrar para o mundo que nós queremos liberdade. Tem gente lá fora que questiona ‘Brasil sem liberdade?’. Sim, temos o Nikolas (Ferreira) e 20 parlamentares com processo no STF por terem usado a tribuna da Câmara. O que eles querem? Tornar essa turma inelegível”, indicou.
A manifestação do próximo domingo (29 de junho) foi convocada após a proposta de anistia perder força na Câmara dos Deputados. O projeto está em segundo plano desde que o foco passou a ser o decreto editado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), derrubado pela própria Câmara nessa quarta.
Na esteira das críticas ao STF, o ex-presidente reiterou que a eleição com o “voto mais importante de 2026” é a do Senado, que tem a prerrogativa de impedir um ministro da Corte. “Nós queremos, ao fortalecer o Senado, proporcionar um equilíbrio entre os Poderes, começarmos a falar realmente sobre democracia e liberdade”, insinuou ele.
Bolsonaro ainda pediu que ao menos 27 dos 54 senadores eleitos em 2026 sejam do PL. “Um quarto ou três quartos virão de outros partidos que estão ao nosso lado. A gente muda o destino do Brasil. A gente vai deixar de ser o que somos no momento. Sem esperança, sem expectativa de nada”, criticou ele. Hoje, o PL tem 14 dos 81 senadores.
Às vésperas da manifestação da Paulista, o ex-presidente veio a Belo Horizonte para lançar uma campanha de filiação ao PL em um encontro na Casa Pampulha. Bolsonaro veio acompanhado pelo líder do partido na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ).