Diante das incertezas e dificuldades enfrentadas pelo projeto de “Tarifa Zero” nos ônibus de Belo Horizonte, especialista alerta que prefeitura deveria “aproveitar o momento” ao invés de repetir práticas que já se mostraram fracassadas. Para Roberto Andrés, urbanista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), é preciso medir bem os impactos positivos. Ele, que é autor do livro “Razão dos centavos — Crise urbana, vida democrática e as revoltas de 2013”, onde destaca os impactos políticos da crise iniciada com um protesto contra o aumento nas tarifas do transporte público, diz que essa dimensão não pode ser desconsiderada.
“O prefeito (Álvaro Damião) deveria perceber o impacto político positivo da medida. Ninguém está satisfeito com o transporte em BH, o transporte está uma tragédia, não tem ônibus de noite, os ônibus não passam, estão lotados”, avalia.
Atualmente, 136 cidades brasileiras já têm a Tarifa Zero como regra no transporte público e outras 27 o benefício é concedido de forma parcial, de acordo com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Juiz de Fora, na Zona da Mata mineira tem um projeto encaminhado para a Câmara e pode ser a primeira cidade com mais de 500 mil habitantes a adotar o modelo; Belo Horizonte poderia ser a primeira capital.
Com o fim dos contratos com as empresas de ônibus em Belo Horizonte, previsto para 2028, o tema tem ganhado força e pode virar realidade com um projeto que tramita na Câmara Municipal da capital mineira e conta com a assinatura de 22 dos 41 vereadores. Nesta quarta-feira (2 de julho) o projeto passou pela Comissão de Administração e Segurança Pública da CMBH e agora segue para a Comissão de Orçamento e Finanças Públicas. Mas, de acordo com apuração de OTEMPO, não conta com apoio do prefeito Álvaro Damião (União).
Um dos obstáculos seria a dificuldade de complementar os R$ 1,8 bilhão necessários atualmente para manter o sistema de transportes funcionando. Para Andrés, a questão é que boa parte desse custo já é bancado pela prefeitura, que, na avaliação dele, terá que desembolsar cada vez mais recursos se não fizer nada para fechar a torneira dos subsídios às empresas de ônibus.
“O subsídio já é de R$ 700 milhões e a prefeitura não tem nenhuma alternativa; nenhuma proposta para solucionar esse problema. O que a prefeitura vai fazer? Vai deixar o sistema de ônibus como tal ou vai tentar uma solução diferente, que já foi testada em outros lugares e que tem funcionado bem”, conclui.
Nos últimos meses, tem havido uma mobilização social para dar força à proposta. Um dos atos que chamou mais atenção foi a mobilização de artistas em um show, no último fim de semana (29 de junho), para defender a proposta.