Uma ação popular impetrada no último fim de semana na 4ª Vara de Fazenda do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) cobra que o governo estadual passe a cumprir a determinação legal de gastar o que arrecada com a Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Recursos Minerários (TFRM) exclusivamente com ações de fiscalização do setor.
Apesar de criada para esse fim, a verba oriunda do tributo nunca foi integralmente utilizada com esse objetivo. Nem mesmo os desastres de Mariana, em 2015, e de Brumadinho, em janeiro deste ano, ambos causados por rompimentos de barragens de mineração, foram capazes de mobilizar os gestores públicos a cumprir a lei.
Neste ano, o Estado já arrecadou R$ 131 milhões com a taxa, mas gastou apenas R$ 790 mil com ações de controle. Mesmo se levado em conta todo o sistema ambiental de Minas, o governo gastou R$ 113 milhões, abaixo do que arrecadou com a TFRM. “A taxa tem que ser específica para fiscalização de atividade minerária. Não entra nessa conta o que se gasta com fiscalização de outras áreas do meio ambiente, como Instituto Estadual de Florestas, por exemplo. Então, está claro que o Estado não está cumprindo o que determina a Constituição”, afirmou o advogado Sérgio Botinha, autor da ação.
Ele começou a acompanhar os dados fiscais do Estado, e estranhou que a TFRM gerava uma arrecadação alta perto do que o governo investia em todo o sistema de meio ambiente. Ele explicou que por se tratar de uma taxa, o Estado tem obrigação de utilizar os recursos para o que ela foi criada. “A Constituição é muito clara sobre esse tema. A instituição de uma taxa é diferente de um imposto, em que o Estado tem liberdade para gastar dentro do orçamento. Se a TFRM foi criada com a intenção de fiscalizar a atividade minerária, todo o dinheiro arrecadado com ela deveria ser gasto com esse fim”, destacou. Botinha explicou ainda que há indícios muito claros de que o governo não gasta esses recursos de forma devida. “Temos notícias de sucateamento da fiscalização da atividade minerária, principalmente após o rompimento das barragens em Mariana e em Brumadinho”, afirmou.
Pedido
A ação popular cobra ainda que o Estado informe detalhadamente onde está investindo o dinheiro da TFRM, e também quais ações podem ser consideradas de fiscalização da atividade minerária. Pede ainda que seja esclarecida a quantidade de barragens que necessitam de fiscalização em Minas e quantos fiscais existem para esse serviço. Por fim, cobra que o Estado apresente um planejamento detalhado de fiscalização da atividade minerária com a totalidade da verba gerada pela TFRM.
Questionada pela reportagem de O TEMPO sobre a ação, a assessoria de imprensa do governo estadual encaminhou a solicitação para a Advocacia Geral do Estado. Por meio de nota, o órgão afirmou que, como não foi citada na ação, não vai se manifestar.
Voluntários intensificam cobrança
A ação popular que aponta o desvio de função das verbas arrecadadas com a TFRM só foi possível graças ao trabalho de acompanhamento de políticas públicas de um grupo chamado Gabinete Paralelo. Ele é uma iniciativa da sociedade civil que reuniu voluntários para atuar com ferramentas de acompanhamento do que os governos estão realizando.
“Tivemos a inspiração do que ocorre em outros países, em que são criadas essas plataformas, com a fiscalização das ações do governo. Como fiquei responsável pela parte ambiental, pude verificar essa distorção referente a verba da TFRM”, disse o advogado Sérgio Botinha.
Relembre
Criação
A Taxa de Controle, Monitoramento e Fiscalização de Recursos Minerários (TFRM) foi criada em 2012, durante o governo de Antonio Anastasia (PSDB). Ela incide sobre o minério que sai do Estado sem nenhum tipo de beneficiamento. Na época, a ideia do governo era estimular que as empresas agregassem valor ao produto no Estado, e não exportasse apenas matéria-prima.
Mudança
Após o desastre de Mariana, em 2015, o então governador Fernando Pimentel (PT) sancionou uma lei que ratificava que os recursos da TFRM só poderiam ser utilizados na área ambiental.