Belo Horizonte

Câmara aprova repúdio à Netflix por especial do Porta dos Fundos

O texto, de autoria da bancada evangélica e da base do governo, foi amplamente criticado por vereadores de esquerda

Por Thaís Mota
Publicado em 11 de fevereiro de 2020 | 20:55
 
 
 
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A Câmara de Belo Horizonte aprovou nesta terça-feira (11), em votação simbólica (sem registro no painel), uma moção de repúdio à Netflix por causa do especial de Natal do grupo humorístico Porta dos Fundos, chamado de “A Primeira Tentação de Cristo”.

O texto, de autoria da bancada evangélica e da base do governo, foi amplamente criticado por vereadores de esquerda. 

Segundo Cida Falabella (PSOL), o debate sobre o tema já foi superado, e a questão passa pelo respeito à liberdade de expressão. “A arte, o cinema e o humor tratam de uma maneira, e as pessoas podem ver ou não. Quando se começa a proibir filmes e queimar livros, depois termina queimando pessoas”, argumentou.

Além disso, ela destacou que há uma diferença no tratamento dado pelos parlamentares da Câmara quando não se trata de uma religião de origem cristã. “Quando terreiros de candomblé são atacados, quem vem aqui reclamar e dizer que não é aceitável?”, questionou.

Durante os debates, Arnaldo Godoy (PT) chegou a sugerir a retirada do crucifixo que ornamenta o plenário da Câmara, bem como que não fossem mais lidas as “sagradas escrituras” antes das votações. “Queria ver se essa bancada cristã sabe que o Estado é laico”, provocou o parlamentar.

O texto também foi criticado pelo vereador Gabriel Azevedo (sem partido). “No futuro, quando alguém se perguntar como, no ano de 2020, 41 vereadores, diante da tragédia que a cidade vive, passaram a discutir a censura ao grupo de humor, eu quero aqui registrar que eu estava do lado certo da história, do lado da liberdade de expressão”, afirmou. 

Já o vereador Autair Gomes (PSC), presidente da frente cristã da Câmara, relembrou que a moção foi apresentada ainda no ano passado, quando a capital mineira ainda não enfrentava os problemas das chuvas. “Não estamos discutindo ódio, estamos defendendo nossa fé, que foi ultrajada”, argumentou Gomes. 

O pastor Wesley da Autoescola (PRP) acrescentou ainda que, se não fosse um pedido de impugnação apresentado pelo vereador Pedro Patrus (PT), a moção teria sido encaminhada à Netflix em dezembro do ano passado, sem necessidade de votação.

No início do ano, a polêmica em torno do humorístico foi parar na Justiça, quando a associação católica Centro Dom Bosco de Fé e Cultura pediu a suspensão da exibição do vídeo pela Netflix. Na ocasião, o Justiça do Rio concedeu liminar favorável ao pedido, mas a decisão foi derrubada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli. Também por conta do especial, a sede do Porta dos Fundos, no Rio, foi alvo de um ataque a bombas na véspera do último Natal.

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