Câmara Municipal de BH

Comissão de Legislação e Justiça se torna mais rígida e vira motivo de disputa

Assunto voltou à tona após um recurso contra um parecer da comissão ser votado em plenário, algo que não ocorria havia oito ano

Por Lucas Henrique Gomes
Publicado em 22 de abril de 2021 | 06:00
 
 
 
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Desde o final de 2019, quando a mudança do regimento interno da Câmara Municipal de BH voltou a fazer com que a Comissão de Legislação e Justiça (CLJ) fosse um colegiado conclusivo, ou seja, com o poder de arquivar projetos de lei considerados inconstitucionais antes mesmo de chegar a plenário, muitos vereadores reclamaram. Nos últimos dias o assunto voltou à tona após um recurso contra um parecer da comissão ser votado em plenário, algo que não ocorria havia oito anos.

De lá para cá, a CLJ avaliou cerca de 350 proposições, incluindo pareceres de redação final. Na sessão do último dia 20, o grupo chegou à marca de 50 projetos enterrados ainda na comissão. Metade dos pareceres pela inconstitucionalidade foram emitidos no ano passado, e a outra metade, neste ano. Em 2021, 26 projetos tiveram o aval favorável no colegiado, ou seja, apenas um projeto a mais em relação aos pareceres negativos. A título de comparação, entre janeiro e 21 de abril do primeiro ano da legislatura anterior, quando a CLJ não era terminativa, foram 116 pareceres pela constitucionalidade e apenas 17 pela inconstitucionalidade. 

O atual presidente da comissão, vereador Gabriel Azevedo (Patriota), disse à coluna que o novo modelo significa economia de recursos públicos. “Antes da mudança do regimento, o projeto, ainda que fosse considerado inconstitucional, seguia para plenário. Se aprovado, voltava com o veto da prefeitura e era necessária mais uma reunião para decidir o veto. Desde dezembro de 2019, quando o projeto é flagrantemente inconstitucional, ele é encerrado na própria comissão, desde que haja maioria dos votos dos vereadores que integram a CLJ”, afirmou. Ele acredita que o parecer conclusivo pode ser um dos fatores que contribuíram para a diminuição do número de projetos apresentados, mas, para além disso, entende que os vereadores assimilaram que “um bom representante não é aquele que apresenta muitas propostas de lei, e sim aquele que apresenta bons projetos”. 

Recentemente, as vereadoras Bella Gonçalves (PSOL), Duda Salabert (PDT) e Iza Lourença (PSOL) criticaram o regimento. Elas afirmaram que o colegiado persegue projetos e parlamentares, além de proferir pareceres voltados ao interesse próprio. Duda, inclusive, disse que a Câmara era de vereadores, e não de juristas, ponderou que não existe um “STF municipal” em BH e insinuou que no colegiado há quem use o direito para o interesse próprio em vez de para a justiça social. Pelas declarações, os parlamentares da CLJ abriram uma representação contra ela na Corregedoria da Casa. Irlan Melo (PSD) usou o microfone para refutar as acusações e disse que, desde a legislatura passada, período em que presidiu a CLJ, nunca houve perseguição a projetos ou vereadores.
Depois, por meio da assessoria, Duda Salabert disse ao Aparte que não se trata de uma questão opinativa a CLJ ser ou não conclusiva, mas de estar no regimento da Casa. “A atuação legislativa, por natureza, é restrita e exige respeito à Lei Orgânica do município, ao Orçamento e demais regulações. Procuro focar minha atuação na escuta aos cidadãos, aos movimentos sociais e organizações civis, que nos trazem pautas que avaliamos. Sabemos que a CMBH é uma casa conservadora, então pautas mais progressistas, principalmente relativas aos direitos de minorias geram polêmica e despertam muito furor em alguns setores. Mas creio que podemos avançar nesse entendimento com mais diálogo e discussões amplas, o que sempre tento levar para debates em comissões e no plenário”, pontuou.

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