Belo Horizonte

Frente Cristã quer um Pelo para ressuscitar Escola Sem Partido

Bancada religiosa articula a apresentação de proposta que exige mais votos para ser aprovada, mas que não precisa do aval do prefeito Alexandre Kalil

Por Lucas Henrique Gomes
Publicado em 10 de agosto de 2020 | 03:00
 
 
 
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A Frente Cristã da Câmara Municipal de Belo Horizonte pode adotar um “plano B” para aprovar um projeto semelhante ao Escola Sem Partido na Casa. As conversas de bastidores apontam que a bancada religiosa pode optar por um caminho que demanda mais votos, que é a Proposta de Emenda à Lei Orgânica (Pelo) 6/2017, que tramita no Legislativo e está parada desde setembro do ano passado.

Apesar de precisar de 28 votos em vez dos 21 do projeto de lei comum que atualmente tramita em segundo turno nas comissões e resta passar por apenas mais um colegiado antes do plenário, as propostas de emenda à lei municipal não dependem de aval do prefeito. Alexandre Kalil (PSD) já deu diversas declarações criticando o projeto, que chegou a adjetivar de “idiota e inútil”. Por isso, há o temor entre os vereadores de que a discussão possa ser em vão com um veto do chefe do Executivo. Atualmente, a bancada religiosa conta com 28 membros e, eventualmente, o apoio de outros políticos a depender do projeto.

Para entrar em vigor, uma Pelo aprovada em dois turnos pelos vereadores da capital depende apenas de elaboração da redação final, promulgação e publicação. 

O presidente da Frente Cristã, vereador Autair Gomes (PSD), confirmou as conversas de bastidores e reafirmou a tramitação “mais rápida” da Pelo. “Estrategicamente, você tem um caminho mais rápido. Quando é Pelo, você não tem o prefeito para se manifestar. O projeto da Escola Sem Partido é tensionado inclusive judicialmente. A Pelo não passa por esse questionamento porque é muito específica”, afirmou.

Sobre a tramitação do projeto de lei, Gomes se mostrou contrário ao texto neste momento eleitoral. “Não acho que tem que colocar ‘batata quente’ na mão de prefeito, por isso a Pelo é mais objetiva. Pode ser objeto de ADIn (Ação Direta de Inconstitucionalidade), mas aí é o assunto que vai ser discutido, discutido, discutido e todo mundo perde”, analisou.

Questionado se o projeto poderia ser discutido mesmo durante a pandemia e com a Câmara de portas fechadas ao público, Gomes afirmou achar não ser prudente discutir o tema agora por um acordo feito com a presidente Nely Aquino (Podemos), que teria pedido para “dar um tempo” nos projetos tidos como polêmicos, já que a Casa não pode receber a sociedade. 

Gomes, entretanto, disse que o petista Pedro Patrus tem estimulando a bancada cristã por falar do projeto em público. “Ele está nos provocando a discutir o assunto”, declarou. 

Nely Aquino afirmou que “o assunto tem grande impacto na cidade e merece uma discussão ampla com a sociedade”. Questionada se a proposta corre o risco de não ser discutida em 2020, ela disse não ter previsão, mas que “no cenário de pandemia não será discutida”. 

Já Pedro Patrus rechaçou a hipótese de estar provocando os membros da bancada religiosa. “O Autair deve estar alegando (isso) porque está sofrendo pressão eleitoral da bancada cristã que quer ser eleita e quer votar projetos que já estão mortos no STF para fazer propaganda política. É uma desculpa”, disparou. O petista é o relator da proposta na Comissão de Direitos Humanos, colegiado no qual o Escola Sem Partido aguarda o parecer.

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