GABINETONA

Em defesa da educação, seremos milhares novamente

Estudantes nas ruas contra desmonte proposto pelo governo

Por Cida Falabella
Publicado em 30 de maio de 2019 | 03:00
 
 
 
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Manifestantes em verde-amarelo, bandeiras na mão, aproximam-se do prédio da Universidade Federal do Paraná, onde, na fachada, uma grande faixa sustenta em letras garrafais: “Em defesa da educação”. A faixa é arrancada com fúria, para delírio dos presentes, que comemoram com gritos e aplausos, enquanto no carro de som a locutora se anima. No vídeo que circulou nas redes sociais, uma voz masculina revela o motivo da alegria: “Essa faixa não nos representa”. A ex-“faficheira” e atriz aqui não consegue acreditar nos signos dessa cena grotesca. Haja simbologia para elaborar tanta barbárie!

Em seu programa eleitoral, o então candidato Bolsonaro já indicava sua total falta de compreensão sobre a educação. Nele, ficava evidente que o que viria a ser governo considerava que eram muitos os recursos públicos destinados ao MEC e que o problema educacional do país estava no método e no conteúdo do ensino. O programa clama por “mais matemática, ciência e português, sem doutrinação e sexualização precoce”. O texto não explica, mas hoje já sabemos o que ele queria dizer com essa frase. Em um evidente alinhamento com o movimento Escola sem Partido, Bolsonaro quer convencer a população a perseguir e a odiar seus professores e professoras, especialmente os da “balbúrdia”, os das ciências humanas. Quer criminalizar a docência e os movimentos estudantis. Quer convencer o país a entregar de bandeja um dos seus mais preciosos bens: a universidade pública. Precisamos nos perguntar: quais as reais propostas desse governo para educação? O que está por trás dos cortes (sim, cortes!) de até 30% no Orçamento que afetam institutos e universidades federais, além de toda a educação básica?

“Universidade deve ser para elite intelectual”, disse Ricardo Vélez, o então ministro caricato que enviou carta pedindo que todas as escolas brasileiras gravassem seus alunos falando o slogan de campanha de Bolsonaro. Após uma sucessão de escândalos, de uma briga pública com Olavo de Carvalho e do vexame histórico diante da deputada federal Tabata Amaral (PDT), Vélez caiu. Hoje, chegamos quase a sentir saudades de sua inoperância, sintoma de estarmos sob o jugo de um governo tão tenebroso.

Abraham Weintraub é um paranoico anticomunista e olavete convicto. Não podemos encarar suas ações, no entanto, como “trapalhadas”. O discurso que, para muitos de nós, soa como absurdo e ridículo faz parte de uma retórica simples e de fácil absorção para boa parte da população, a exemplo da vergonhosa comparação dos cortes nas universidades públicas com os chocolatinhos para “explicar” porcentagem à população. O objetivo principal é causar a confusão e implementar rapidamente mudanças profundas para, em médio prazo, destruir, principalmente, a gratuidade e a democratização do acesso ao ensino universitário. Em longo prazo, pretende-se estagnar a produção científica brasileira e produzir uma mão de obra menos qualificada, impedindo o desenvolvimento do país e colocando em risco a soberania nacional. Trata-se de um projeto político privatista e entreguista capitaneado por uma cruzada contra o pensamento crítico. Tudo isso, desejam eles, com o mínimo de resistência popular.

O que eles não contavam é que seus planos nefastos seriam escancarados e enfrentados por um levante estudantil de grandes proporções que tomou as ruas nos dia 15 de maio, em todo o país. E que esses estudantes, dispostos a defender suas universidades, convocariam toda a população brasileira para a resistência democrática. De mãos dadas com estudantes e suas famílias, estão professoras, técnicos e servidores da educação, mulheres, juventude negra, povos indígenas, gente da cultura, todas nós. Hoje, seremos milhares novamente, em defesa da educação, repondo as faixas que eles ousaram tirar, pois esse governo não nos representa.

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