Desde fevereiro deste ano acompanho os desdobramentos da atuação da Vale em Barão de Cocais. Realizamos, em 29 de março, audiência pública na Assembleia Legislativa para escutar a população atingida e votamos diversas solicitações e encaminhamentos a respeito.
Em abril, a Vale informou à população que construiria um muro de contenção e que contrataria as pessoas da cidade para tal construção. Nada falou sobre talude e seu comprometimento na estrutura. Não mostrou preocupação com o fato de ter construído as estruturas de exploração da mina e da barragem tão próximas, de modo que uma possa afetar a outra. Acompanhei o simulado na cidade, no último dia 18.
Com o último alerta feito pela mineradora, mais de 6.000 pessoas passarão os próximos dias à espera de uma sirene para se deslocarem para pontos de encontro, deixando para trás suas casas, suas memórias, seu modo de viver. Como já denunciei, a Vale atua livremente, determinando a vida das comunidades atingidas pela mineração, sem respeito ou zelo por nossas cidades.
Compartilho trechos da nota do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração como contribuição de espaço àqueles que a mineradora tenta silenciar: A Vale faz a população de Barão de Cocais refém de um possível rompimento de barragem nos próximos dias.Frente à expectativa de rompimento de mais uma barragem, em Barão de Cocais, exigimos transparência nas informações e prévio socorro a toda a população do município.
A Vale precisa esclarecer por que somente foi informar às autoridades a situação da mina Gongo Soco quando o talude já se movimentava a uma velocidade de 4 cm por dia e quando não havia nada a fazer para evitar seu deslizamento e, consequentemente, criar uma situação desproporcional de risco de liquefação da barragem Sul Superior.
A Sul Superior é uma barragem construída na modalidade a montante, a mesma técnica usada na construção de Fundão (em Mariana) e barragem I (Brumadinho). No dia 8 de fevereiro de 2019, cerca de 500 moradores das comunidades de Socorro, Piteiras, Tabuleiro e Vila do Gongo, localizadas na zona de autossalvamento, foram retirados de suas casas pela Vale. Essas pessoas estão há mais de três meses vivendo em casas de parentes e em hotéis.
Em 31 de março, prazo definido para as mineradoras entregarem à Agência Nacional de Mineração (ANM) os documentos que comprovassem a estabilidade de suas barragens, a Vale não forneceu os documentos referentes à barragem Sul Superior e à Sul Inferior, que fica logo a jusante da primeira.
Nós, do Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, rede formada por mais de 110 organizações, movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores, grupos de pesquisa, igrejas, movimentos indigenistas, organizações quilombolas, associações de pescadores e diversas comunidades ribeirinhas e de povos tradicionais, vimos a público exigir: que a Vale divulgue os relatórios de estabilidade de todas as suas barragens e apresente os projetos de descomissionamento de suas barragens desativadas, de forma que seja possível fazer um debate público sobre Vale apresente o cronograma de retortais projetos; que a no para casa das pessoas que vivem nas zonas de autossalvamento; que o governo federal descontigencie os recursos da ANM e do Ibama e dê autonomia e liberdade aos técnicos desses órgãos para fiscalizar e controlar as atividades de mineração e garantir a segurança da população; que o Congresso Nacional acelere e aprofunde os debates públicos sobre os projetos de lei que tratam da segurança de barragens de mineração e que as recomendações expedidas pelo Ministério Público de Minas Gerais, no dia 16.5, sejam cumpridas pela Vale”.
Até quando a população de Minas Gerais ficará refém da mineradora Vale?