Sem consenso

Bloco dos insatisfeitos: partidos e coligações entram rachados na campanha em MG

Apesar das coligações firmadas pelas diretorias e confirmadas em convenções, legendas terão que conviver com insatisfações explícitas

Por José Augusto Alves
Publicado em 08 de agosto de 2022 | 06:00
 
 
 
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Encerradas as convenções partidárias em que foram definidos os apoios - pelo menos a maioria deles, já que o registro de candidaturas na Justiça Eleitoral pode ser feito até o dia 15 e algumas mudanças ainda podem ocorrer -, os candidatos voltam suas atenções para a campanha eleitoral, que terá início no próximo dia 16. Mas nem tudo é céu de brigadeiro. Além de terem que disputar o voto do eleitor, algumas legendas ainda terão que conviver com integrantes insatisfeitos dentro do próprio partido por causa das decisões tomadas pelas diretorias e confirmadas em convenção. Em várias legendas, há blocos de "rebeldes" com os apoios firmados para formação de chapas majoritárias. E essa briga interna envolveu as principais siglas do Estado. 

Uma das mais evidentes insatisfações é dos deputados do PSD. O partido lançou a candidatura de Alexandre Kalil para governador, de Alexandre Silveira para senador e fechou apoio à candidatura de Lula para presidente. Mas a maioria da bancada de deputados federal não concordou com o acerto, pois queria apoiar Jair Bolsonaro (PL) para presidente e Romeu Zema (Novo) para o governo estadual, mas foi vencida pela Executiva do partido.

A insatisfação ficou tão evidente que nenhum dos quatros deputados federais do PSD participaram, até o momento, das agendas de pré-campanha de Kalil, que tem como vice André Quintão, do PT.  “Pelo contrário. Vou fazer minha campanha sem eles (Kalil e Lula). Fui e sou contrário à coligação que foi  fechada com o PT. Mantive a minha conduta de apoiar o presidente Bolsonaro e vou focar no meu mandato, defendendo o meu legado”, enfatizou o deputado federal Subtenente Gonzaga (PSD).

Os deputados federal Diego Andrade e Stéfano Aguiar também já tinham se declarado contrários a Kalil e Lula. 

O ex-prefeito de BH já rebateu os parlamentares, dizendo que “é um favor que eles fazem ficar do outro lado, que não farão falta nenhuma”. Já o presidente do PSD em Minas, senador Alexandre Silveira, afirmou que “é um direito deles”, se referindo à posição dos deputados. 

Quem também entra “rachado” na eleição é o Partido Liberal. A preferência dos deputados mineiros era apoiar Zema, mas foi imposta a candidatura de Carlos Viana ao governo estadual por decisão da Executiva Nacional, já que Bolsonaro não conseguiu apoio formal de Zema - pelo menos, até esta sexta (5). Com isso, Viana será o palanque do presidente no Estado. No entanto, ele não deverá contar com apoio da maioria dos integrantes do PL mineiro, que já se posicionaram a favor do atual governador. 

“O meu apoio ao Zema é incondicional, e acho que quase 90% do partido em Minas também. A candidatura do Viana não foi natural, ela veio de Brasília para cá, sem construção dentro do partido no Estado. Tenho certeza que quase todos do partido vão acompanhar o Zema. Não é por causa do Viana, mas pelo o que o governador está fazendo por Minas. Bolsonaro precisa de um palanque em Minas, e tem que ter mesmo, pela importância do nosso Estado, e, como não houve apoio de Zema para isso, decidiu-se por uma candidatura própria do partido. Somos Bolsonaro e Zema”, enfatizou o vice-presidente do PL em Minas, deputado estadual Gustavo Santana. 

Federação em pé de guerra 

Federados para caminharem juntos nas eleições deste ano, Cidadania e PSDB também travaram posicionamentos contrários. Base de Zema, os deputados estaduais do Cidadania já tinham declarado que apoiariam o governador. O Novo, sigla de Zema, convidou o jornalista Eduardo Costa, filiado ao Cidadania, para ser vice. No entanto, isso não foi possível porque o PSDB, majoritário na federação, apresentou Marcus Pestana como candidato ao governo estadual. E como os dois partidos são federados, precisam fazer parte da mesma chapa. 

Mas o apoio mútuo que se esperava de uma federação não aconteceu entre os dois em Minas. Pelo contrário: nos últimos dias, acusações de lado a lado fizeram aumentar ainda mais a tensão dentro da federação. Eduardo Costa, Paulo Abi-Ackel, presidente estadual do PSDB, e João Vítor Xavier, presidente estadual do Cidadania, trocaram acusações de lado a lado. Na convenção da federação de sexta (5), a candidatura de Pestana ao governo teve oito votos favoráveis, todos tucanos, contra três contrários - estes, do Cidadania.  

“Quero registrar que nós entendemos que essa manifestação contrária (à candidatura de Pestana), embora democrática, aceitável e que nós respeitamos, é uma dissidência a favor de outro candidato que não é o oficial da federação”, disparou Abi-Ackel. 

Um dia antes, João Vítor Xavier, havia dito que “a preocupação do PSDB nunca foi com a candidatura do Pestana, que foi leiloado durante todo o processo”. “O que o partido tentou foi uma vaga na chapa majoritária, mas ninguém quer ficar ao lado do PSDB. O isolamento é tão grande que o PSDB teve que ficar com o Ciro Gomes (PDT), historicamente conhecido como desafeto de Aécio Neves”, afirmou. 

Após a convenção da federação, o Cidadania anunciou apoio informal a Zema. 

PDT e PSB também tem rachaduras 

O PDT, que apoiou a candidatura do tucano Pestana ao governo, também tem em seus quadros insatisfeitos. A vereadora de BH Duda Salabert manifestou-se contra o apoio do PDT ao PSDB e afirmou que não vai pedir votos para Pestana. “Eu entendo que é um erro político o partido apoiar a candidatura do Pestana, do PSDB, por causa dos escândalos. Não é só uma posição minha, mas também de uma ala importante do PDT. Mas eu entendo também que é uma definição que não cabe somente a mim, mas, sim, à maioria dos que compõem a Executiva. O PDT é um partido democrático, e a democracia tem opiniões divergentes. Mas eu não vou pedir votos pro Pestana, uma figura que de quem eu tenho e guardo grande respeito por sua trajetória e vida política. A minha crítica é que, por ele, a turma do Aécio voltará”, disse. 

Perguntada se pode pedir votos para Kalil, Duda, que foi uma das vereadores aliadas do ex-prefeito na Câmara de BH, não quis cravar. “Nosso maior objetivo é vencer Zema, que é um braço do bolsonarismo em Minas”, afirmou. 

Quem também entra em clima de desavença por causa de apoio é o PSB. Os deputados estaduais do partidos queriam apoiar Zema, mas tiveram que se dobrar ao acordo da diretoria, que decidiu por Kalil. Inclusive, na convenção estadual da sigla, no último dia 31, os três deputados estaduais saíram da mesa da convenção após discursarem e antes da chegada de Kalil. Na hora de votar pela aprovação de apoio da chapa, apenas Bernardo Mucida levantou a mão. Neilando Pimenta e Gustavo Mitre não se manifestaram. 

O caso do PSC também é emblemático. Apoiadora do governo Zema desde o início, a legenda se viu, na última semana, envolvida com o PL. Na terça (2), Cleitinho, nome da sigla para o Senado, aceitou o convite de Bolsonaro para ser candidato na chapa de Viana. O deputado declarou que vai apoiar o nome do PL ao governo. Mas, na convenção, o PSC não anunciou apoio a nenhuma chapa para o Executivo e liberou seus filiados. 

Partidos rachados em eleições não é novidade. De acordo com o cientista político e professor do Ibmec Adriano Cerqueira, vários fatores exemplificam as insatisfações dentro das legendas. “Como é praticamente obrigado a fazer alianças, essas podem ser não exatamente aquilo que o deputado queria”, afirma. “Por outro lado, outros nomes do partido podem se beneficiar ao serem citados e acompanhados pelo principal candidato ao cargo majoritário (governador ou presidente). Mas cada caso é um caso”, ponderou. 

Outra questão levantada pelo especialista é que, mesmo não apoiando o candidato a governador do partido, muitos políticos já têm sua base consolidada, o que não faria com que fossem tão prejudicados na hora de receber voto. “O apoio a um deputado na sua região de atuação independe, muitas vezes, da ajuda do candidato a governador. A base regional é muito importante, o apoio de prefeitos”, disse. 

Por fim, Cerqueira enfatiza que, dificilmente, o eleitor é impactado pela divisão dentro dos partidos. “O eleitor, como um todo, não percebe isso. Quem percebe são aqueles mais atentos, mais militantes partidários e ligados na disputa. O eleitor fica mais preocupado em quem ele vai votar para presidente e governador. Já para deputado, geralmente, a maioria do eleitorado não tem tanta mobilização e, quando vota, vota por causa de um amigo, parente e por ser uma pessoa importante na região onde o cidadão mora. Então, o eleitor não percebe essas divisões partidárias”, finaliza o cientista político.

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