Candidatos do grupo de risco para Covid-19 em MG vão adequar campanhas

Os impactos da pandemia de coronavírus nas eleições municipais deste ano serão sentidos por todos os candidatos, especialmente pela parcela que possui mais de 60 anos de idade e, portanto, está dentro do grupo de risco para a Covid-19. Como as medidas restritivas, a exemplo do distanciamento social, para essa faixa etária se fazem ainda mais necessárias, candidatos de diversos municípios do Estado já estão se planejando de forma a conciliar a corrida eleitoral com a preservação da própria saúde.

Oficialmente, segundo os dados do Tribunal Regional Eleitoral de Minas (TRE-MG) disponibilizados até o início da noite desta quarta-feira (9), dos 447 pedidos de registros de candidaturas (a prefeito e vereador), 55 são de pessoas acima de 60 anos. Como as convenções partidárias seguem até o próximo dia 15, esses números serão alterados.

Em Belo Horizonte, alguns candidatos estão dentro do grupo que mais requer atenção com relação à pandemia. Além do próprio prefeito Alexandre Kalil (PSD), que vai disputar a reeleição e tem 61 anos, há o caso do candidato pelo PT, Nilmário Miranda, que completou 73 anos em agosto. O petista explicou que desde o período de pré-campanha, iniciado em julho, e até mesmo antes desse período tem ficado em casa.

Durante a pré-campanha, Nilmário tem utilizado um espaço isolado embaixo do prédio onde mora para fazer a gravação de vídeos. A primeira saída oficial do candidato está marcada para o próximo domingo (13), quando serão entregues na sede do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG) o registro da chapa majoritária e proporcional do PT na capital e seu programa de governo.

“Vamos fazer um ato político simbolizando a entrega. Será na calçada e guardando o distanciamento”, explicou. “A partir daí vou avaliar, porque vou esperar a evolução da pandemia”, complementou, ressaltando que tem ouvido especialistas e que os profissionais dizem que é possível a realização de algumas atividades, desde que com respeito às medidas protetivas.

Aos 76 anos, Ademir Lucas (Podemos), pré-candidato à prefeitura de Contagem, disse que já realizou o teste para a Covid-19 algumas vezes e que todos deram negativo. “Não tenho aceitado convites para eventos ou visitas que podem provocar aglomeração”, informou, por meio de nota. Ele também explica que vem fazendo uso de máscara e mantendo o distanciamento em reuniões e encontros partidários.

“Na campanha, todos os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias e governamentais continuarão sendo seguidos. A ideia é fortalecer ainda mais a presença digital, com mais vídeos diretos e simples, e aumentar o número de encontros virtuais”, complementou.

O deputado estadual Heli Grilo (PSL), que tem 62 anos e vai disputar a prefeitura de Uberaba, no Triângulo Mineiro, diz que tem seguido todas as orientações científicas – recomendações essas que são reforçadas por sua mulher e seus dois filhos, que são médicos. “Estamos planejando nos reunir com dez ou no máximo quinze pessoas, em lugares abertos”, explicou, pontuando que os detalhes só serão alinhados após a convenção que vai ratificar seu nome à disputa. “Eu acho que vai trazer (risco) para todos, independentemente de ser do grupo de risco ou não”, avaliou.

Mesmo sem casos de Covid-19 em Coronel Murta, candidata seguirá orientações

Com 66 anos, Amariles Santos Lima, também conhecida como Dona Fia (PSDB), vai disputar a Prefeitura de Coronel Murta, no Vale do Jequitinhonha. Embora a cidade de 9.215 habitantes seja o município mineiro mais livre da Covid-19, sem registro de casos, a tucana ressalta que vai fazer adaptações na sua estrutura de campanha.

“Pretendemos restringir ao máximo aquele corpo a corpo e usar mais os meios virtuais porque a gente sabe que muitas pessoas hoje estão receosas de receber visitas, e com toda a razão”, explicou. Uma das estratégias será o reforço do uso das chapas proporcionais para a divulgação de sua candidatura. “Cada candidato a vereador vai fazer o trabalho dele e colaborar com a divulgação do candidato a prefeito. Isso já é uma ajuda grande”, acrescentou.

Desafio é maior para essa faixa etária, diz especialista

Na avaliação de José Mauro Nunes, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV Ebape), a pandemia trouxe dois desafios para candidatos com mais de 60 anos: além da própria restrição em função da idade de risco, o fato de as campanhas migrarem massivamente para a internet também pode dificultar a corrida eleitoral para essa faixa etária.

“As eleições já vêm sendo, nos últimos anos, muito influenciadas pelas tecnologias. A televisão e o rádio, por exemplo, nos grandes centros urbanos vêm perdendo importância em detrimento das mídias digitais. A barreira da idade não conta apenas para a questão da saúde, mas de intimidade tecnológica”, diz, avaliando que candidatos com mais de 60 anos podem ter dificuldades ao manusear as ferramentas, a exemplo da gravação de vídeos e o compartilhamento de informações.

A alternativa, segundo ele, é que esses candidatos apostem em equipes formadas por jovens para montar estratégias de comunicação digital. “É a maneira que eles têm para reduzir a vulnerabilidade eleitoral e engajar mais o eleitorado, elaborando estratégia de marketing digital que seja muito intensiva e conhecendo de maneira muito próxima o perfil do eleitor”.

Sobre os aspectos ligados à saúde, o especialista reforçou que as medidas restritivas também devem pesar contra esses candidatos. “Pesa especialmente se o eleitorado desses candidatos for da mesma faixa etária. Até porque essa eleição será mais curta, o engajamento do eleitorado vai ser menor e deve haver aumento do não comparecimento (dos eleitores com mais idade) às urnas”.