Movimentos suprapartidários criados nos últimos anos pelo descontentamento com as ações dos partidos tradicionais conseguiram se destacar na eleição de 2018 ao eleger seus representantes. Mas para ser candidato, claro, há necessidade de se filiar a alguma legenda. É neste momento que começa o problema dos autointitulados “independentes” – como são vistos por alguns partidos. A tendência era de que os conflitos internos aumentassem por causa das diversas opiniões e decisões durante o mandato dos eleitos. Pelo que se vê até aqui, foi o que aconteceu.
O caso mais recente envolve a deputado federal Tabata Amaral (PDT-SP), que está sob ameaça de punição e até expulsão da legenda por ter votado a favor da reforma da Previdência, contrariando orientação do partido.
Para especialistas ouvidos pela reportagem, o caso de Tabata foi isolado. Ao mesmo tempo, integrantes de movimentos suprapartidários questionam a falta de democracia dentro dos tradicionais partidos políticos e, por isso, defendem candidaturas avulsas, ou seja, sem ligação partidária, para as próximas eleições no Brasil. Estes desentendimentos e a proposta de candidatura sem ligação partidária são vistos com cautela por especialistas.
“Sem se filiar a nenhum partido, há um lado perigoso, porque você, em um primeiro momento, pode enfraquecer os partidos, mas pode, por um outro lado, fazer com que os partidos sejam obrigados a ter bandeiras mais claras e permissíveis a características diferentes de candidatos e políticos”, defende o professor do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) Glauco Peres.
Uma solução apontada por Peres é fortalecimento e uma maior transparência dentro dos partidos. “Temos que tentar criar regras que façam com que os partidos se tornem mais claros para o eleitor do que representam, que ideais defendem”, afirmou o professor.
Carlos Ranulfo Felix de Melo, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), diz não acreditar que o caminho seja o abandono das candidaturas via partidos políticos.
“Não resolveria. Alguns países têm. No Chile você pode ter candidato avulso. Mas chega no Congresso, ele não vai fazer nada, porque o Congresso é dirigido pelos partidos. Candidato avulso vai ficar perdido. O partido é o espaço do poder”, cita.
Ranulfo também lembra que os novos políticos, que tentam se desprender de legendas, vão acabar sofrendo durante seus mandatos. “O pessoal que for eleito vai ter que entrar por algum partido e vai sempre sofrer esse tipo de problema. É da política. Partidos tem hora que precisam atuar como partidos. Tem que ter disciplina”, ponderou.
Roberto Romano, professor aposentado do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp), avalia que os grupos suprapartidários colaboram para piorar a política com pensamento de candidatos avulsos.
“Se você já tem partido político desacreditado, esses grupos estão colaborando para piorar a situação e não melhorar”, avaliou. Para Romano, os grupos deveriam criar novos partidos. “Essas pessoas, que não se coadunam com partidos, que criem grande movimento nacional e desse movimento surja um partido ou vários partidos”, concluiu.
‘Não há democracia nos partidos’
Vereador em Belo Horizonte, Gabriel Azevedo (sem partido) defende as candidaturas avulsas. Professor do RenovaBR, Azevedo diz que hoje não há democracia dentro das legendas. Segundo ele, a independência dos candidatos seria um passo importante para consolidar a democracia.
“Acabaria com a oligarquia partidária. Não conheço nenhum partido democrático. Colocam barreiras para candidatura dentro das legendas. A obrigação de se filiar gera um problema”, afirma o parlamentar.
Ainda segundo ele, o RenovaBR, por exemplo, que leciona política aos interessados em ingressar no mundo político, deve aumentar para as eleições municipais do ano que vem. “Tivemos 31 mil interessados e selecionamos 1.500. E dos 33 partidos, hoje, 30 se interessaram”, afirmou.
Mestre em história pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Eduardo Lima também defende mudanças na forma de candidatura nos processos eleitorais. “Há que se rever a questão de se eleger só por partido político. Podemos começar a pensar em candidatos a partir de movimentos”, cita.
Lima também defende que mandatos sejam ligados a associações. “Há necessidade de revisão de que os mandatos pertencem aos partidos. Poderia pertencer a associações”, afirmou. (HM)