Peão boiadeiro

Cidade de Barretos dá título de cidadão honorário a Jair Bolsonaro

Vereadores do município paulista querem fazer entrega da honraria no dia principal da Festa do Peão Boiadeiro

Por Folhapress / Marcelo Toledo
Publicado em 19 de agosto de 2023 | 13:06
 
 
 
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 A Câmara Municipal de Barretos, cidade do interior paulista que recebe em agosto o mais importante rodeio do país, deu ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) o título de “cidadão honorário” e quer fazer a entrega da honraria em plena arena de rodeio, no dia do aniversário da cidade, momento principal da festa.

A decisão gerou críticas de oposicionistas do ex-presidente e a entrega do título na arena ainda não foi confirmada pelos organizadores do evento.

Hussein Gemha Júnior, presidente da fundação “Os Independentes”, responsável pela Festa do Peão de Barretos, disse à Folha que soube da entrega do título a Bolsonaro por meio dos jornais e que a associação tem por hábito convidar apenas governadores e presidentes no exercício do cargo.

Ele afirmou que Lula foi convidado, mas não confirmou presença, e que há uma pré-confirmação do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) no dia 25, justamente a data em que aliados querem que Bolsonaro receba a honraria.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) também é esperado no evento, assim como o ministro de Relações Institucionais do governo federal, Alexandre Padilha (PT), que é sócio honorário da associação organizadora da festa. O secretário de Governo de Tarcísio, Gilberto Kassab (PSD), participou da abertura da festa na quinta (17), e foi saudado durante a primeira noite de montarias.

O PSOL  publicou comunicado repudiando a aprovação da honraria. "É motivo de profunda tristeza constatar que os 16 vereadores presentes votaram a favor da escabrosa proposta", diz a nota.

O texto cita ainda que, em memória de familiares e amigos mortos durante a pandemia não será esquecida "a política genocida de Bolsonaro que, deliberadamente, provocou o atraso nas vacinas e incentivou o negacionismo científico, espalhando pânico entre nossos familiares".

O rodeio e os políticos

A aceitação de Bolsonaro no setor de organização de rodeios no Brasil após ele ter anunciado no estádio de rodeios da Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos, em 2019, um decreto que flexibilizava a legislação sobre os eventos em todo o país e, na prática, dificultava ações judiciais de entidades de proteção animal contra os rodeios.

Bolsonaro tomou duas medidas em relação aos rodeios. A mais importante para o setor foi o decreto, que definiu que compete ao Ministério da Agricultura avaliar os protocolos de bem-estar animal elaborados pelas organizadoras de rodeios. As associações que fazem festas do gênero viram a medida como positiva por limitar, mas não eliminar, ações judiciais contra a realização dos eventos.

"Esse momento em que tantos criticam as festas de peões ou as vaquejadas quero dizer que, com muito orgulho, estou com vocês. Para nós, não existe o politicamente correto, faremos o que tem de ser feito", disse Bolsonaro ao anunciar a flexibilização na arena de Barretos.

O ex-presidente também instituiu o Dia Nacional do Rodeio, a ser celebrado em 4 de outubro, data em que se comemora o Dia de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. A medida foi criticada por associações de proteção.

Bolsonaro não foi o primeiro político a acenar e visitar o principal evento do gênero no país, nem o único a ter tomado medidas que beneficiassem os rodeios, mas é o mais assíduo dos ex-presidentes a participar de Barretos, que realiza a festa deste ano até o dia 27, e o mais alinhado com a organização do evento. Esteve em todas as edições desde 2017.
No ano passado, durante a tentativa de reeleição, foi apresentado na arena como um misto de herói e salvador, andou a cavalo e sua presença motivou o locutor Cuiabano Lima, seu fiel seguidor, a comandar um Pai Nosso.

Antes de Bolsonaro, outros governantes já atuaram favoravelmente aos rodeios. Em 2001, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) sancionou lei que transformou o peão de rodeio em atleta, com garantia de seguro de saúde e previdência social e, no ano seguinte, assinou lei que regulamentou rodeios e estabeleceu normas sanitárias para proteger os animais.

Dilma Rousseff (PT), em 2011, sancionou uma lei que deu a Barretos o título de "capital nacional do rodeio". O projeto de lei tinha sido apresentado dois anos antes pela então deputada federal Luciana Costa, que é da cidade, e aprovado pelo Congresso.
Já o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é visto com ressalvas por membros da organização do evento. O petista obteve 37,2% dos votos válidos no segundo na cidade, ante 62,8% de Bolsonaro.

O decreto legislativo aprovado na Câmara é do vereador Paulo Correa (PL), que alegou que o currículo de Bolsonaro, por si só, já justificaria a honraria e que "nada mais justo que o diploma de cidadania, por ser motivo de orgulho, de toda a sociedade barretense".

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