BRASÍLIA - A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, declarou que “pediu calma” a Deus para comparecer à Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (2). Ela se referiu a episódio em que precisou deixar uma audiência no Senado, no final de maio, após uma série de ofensas disparadas por senadores contra ela.

Marina se manifestou após novas provocações feitas pela oposição no colegiado da Câmara. O presidente do colegiado, deputado Rodolfo Nogueira (PL-PE), chegou a questionar diretamente informações repassadas pela ministra e sugeriu que ela pudesse estar mentindo. O deputado Zé Trovão (PL-SC) afirmou que iria “desmentir” a ministra e indagou se ela tem “falta de vontade de trabalhar”.  

Já o deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), um dos autores do requerimento, abordou diferentes temas que dividem grupos políticos. Ele citou, por exemplo, a guerra que acontece no Oriente Médio. Deputados da base governista chegaram a reagir em mais de uma tentativa de proteção a Marina, mas tiveram seus pedidos negados por Nogueira.  

A ministra, então, contou: “Hoje de manhã eu fiz uma longa oração e eu pedi a Deus que me desse muita calma, muita tranquilidade, porque eu sabia que depois do que aconteceu no Senado, aqueles que gostam de abrir a porteira para o negacionismo, para a destruição do meio ambiente, para o machismo, para o racismo, depois do que aconteceu ali, iam achar muito normal o que está acontecendo aqui em um nível piorado”. 

“Mas acho que Deus me ouviu e eu estou em paz. É preferível sofrer a injustiça do que praticar uma injustiça. Quando você é injustiçado, a justiça virá. Então isso é o que me conforta”, completou. 

Em seguida, Marina citou teses de análise de comportamento para rebater deputados da oposição. Ela também disse ter se sentido “terrivelmente agredida” na situação, mas “reparada” pelo apoio de aliados. 

A ministra declarou que "a história só é enxergada por aqueles que a querem enxergar” e que “existe uma tecnologia chamada negacionismo, que não vê a história, não vê os fatos”. A fala foi feita em associação à obra da BR-319, com obras para ligação entre Manaus (AM) e Porto Velho (RO). 

A construção é defendida pelo governo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas já foi criticada por ambientalistas pelo impacto na Amazônia. Ao retomar a palavra, a oposição voltou a questionar Marina afirmou que ”não adiantar dizer que o licenciamento é do estado” para minimizar a responsabilidade do governo federal. 

“Eu fiquei 15 anos fora do governo. Por que não fizeram no governo que abriu a porteira? Deram a licença na última hora, nos últimos minutos da prorrogação. Agora criaram um bode expiatório para dizer que a culpa é do Ministério do Meio Ambiente, é minha, é não sei de quem, em relação a tudo. Eu estou muito tranquila com a minha consciência e eu posso lhe dizer, em termos de defesa do meio ambiente”, acrescentou. 

Após a manifestação da ministra, a oposição voltou a fazer questionamentos. Evair disse que ela “omite informação e constrói uma retórica para tentar influenciar” e "é tão bem treinada em repetições de ‘adestramento’ que a consegue entrar no inconsciente das pessoas e vender aquilo que acredita”. 

“Com todo respeito, eu disse que não atacaria a senhora no âmbito pessoal, mas no âmbito da sua gestão como ministra de Meio Ambiente, a senhora me perdoa, a senhora não tem nada a falar de verdades. A senhora traz só ideias, coisas que a senhora disse que fez, que vai fazer, que vocês melhoraram”, completou Zé Trovão. 

Marina Silva voltou, então, a usar a palavra. ““Quem repete mentiras não sou eu. Porque o desmatamento caiu. Faz a análise da imagem de satélite, chama uma auditoria independente, e se atenha aos fatos, e não às versões. [...] Quem defende a ciência, traga os dados. Quem disse que não existe mudança do clima, não traz os dados. Eu não tenho culpa se vocês não trazem os dados. Nós trazemos. Não para camuflar, mas para colocar a verdade”, disse. 

Ainda na audiência, a ministra falou, em direção aos deputados, sobre “forma ofensiva de se dirigir a uma mulher”. Ela frisou que não estava “se fazendo de vítima” ou dando um “show”, mas defendendo sua dignidade.  

Relembre 

Em maio, Marina Silva se retirou da Comissão de Infraestrutura do Senado em debate sobre unidades de conservação marinha na Margem Equatorial do Amapá. Em certo momento, ela discutiu com o senador Omar Aziz (PSD-MA). Os dois chegaram a bater boca fora do microfone sobre a aprovação do PL do novo licenciamento ambiental, quando Marcos Rogério (PL-RO), presidente da comissão, tentou interromper o debate. 

Marina se incomodou com a postura de Rogério e seguiu falando fora do microfone, quando o senador ironizou: “Essa é a educação da ministra Marina Silva. Mas não vou me intimidar, não”. Marina respondeu: “O senhor gostaria que eu fosse uma mulher submissa. Eu não sou”. Em seguida, Marcos Rogério retrucou: “Agora é sexismo, ministra? Me respeite. Se ponha no teu lugar”. 

Neste momento, começou um bate-boca generalizado na sala da comissão. “Ponha-se o senhor. Desrespeito com a ministra”, disse Eliziane. “Se vossa excelência está me chamando de sexista, não sou sexista. Vossa excelência veio a essa comissão para tumultuar”, complementou Rogério. 

Minutos depois, Marina discutiu com o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que já chegou a dizer que tinha vontade de “enforcar” a ministra durante uma palestra. Durante o novo bate-boca, Marina Silva se retirou da comissão antes do fim dos trabalhos.

"Com a vida dos outros não se brinca. Quem brinca com a vida dos outros ou faz ameaça aos outros de brincadeira e rindo? Só os psicopatas são capazes de fazer isso", disse.