Denúncia

CPI da Cemig levanta suspeita de que deputados tenham sido grampeados

Comissão aprovou requerimento para ter acesso a contrato firmado pela Cemig com empresa internacional de investigação

Por Thaís Mota
Publicado em 02 de agosto de 2021 | 18:04
 
 
 
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A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga possíveis irregularidades da gestão da Cemig retomou suas atividades nesta segunda-feira (2) com a suspeita de que deputados que integram a CPI estejam sendo investigados por uma empresa privada internacional chamada Kroll, contratada pela estatal de energia no último mês de abril.

A suspeita foi apresentada pelo deputado Professor Cleiton (PSB), que integra a comissão e foi o autor do pedido de abertura da CPI. “Queremos saber o que essa empresa faz na Cemig. Ficamos sabendo que os deputados dos blocos independente e os de oposição estão sendo investigados por essa empresa, bastante conhecida por grampear telefones. Assessores de gabinete também estão recebendo telefonemas anônimos, mas isso não vai nos intimidar. Podem investigar minha vida pois não tenho nada a esconder”, denunciou.

A declaração motivou uma proposta do relator da CPI, deputado Sávio Souza Cruz (MDB) de acionar a Polícia Legislativa e pedir uma varredura em todos os telefones dos gabinetes da Assembleia Legislativa e também nos celulares dos deputados para que seja levantado se há algum grampo. No mesmo sentido, o presidente da CPI, deputado Cássio Soares (PSD), afirmou que é preciso assegurar a “soberania constitucional” dos parlamentares de apurar denúncias.

Na sessão desta segunda-feira, os deputados aprovaram um requerimento pedindo cópia de vários contratos firmados pela Cemig sem licitação, entre eles o contrato firmado com a Kroll. “Chegou uma denúncia de que essa empresa - e aí não posso afirmar, pois ainda vamos apurar - estaria fazendo uma investigação clandestina dos deputados membros da CPI”, disse Cássio Soares. 

Em entrevista ao jornal O Tempo, Professor Cleiton disse que fez a denúncia para alertar a Cemig, caso a informação seja verdadeira. “É uma suspeita que foi levantada de que a Kroll, que é uma empresa que trabalha para a Cemig e trabalha com dados, estaria nos investigando e investigando nossa assessoria. Eu recebi essa informação até sigilosa, mas publicizei porque, se isso estiver acontecendo, é bom que eles [a Cemig] tenham conhecimento que a gente está atento”, afirmou.

Ele já tinha denunciado em suas redes sociais no mês de julho que teve seu celular grampeado.  “As ameaças anônimas dos últimos dias não irão me calar!  O meu celular monitorado não irá me fazer recuar! As grandes forças não me amedrontam. Não tenho nada a esconder!  Continuarei firme no propósito de defender os interesses do povo mineiro, principalmente os mais frágeis!”, escreveu o deputado. Ele informou ainda que já acionou a Polícia Federal, que está investigando o caso.

A Kroll é uma empresa sediada em Nova York e está presente em 30 países. Entre suas atividades estão investigação, compliance, gestão de risco e segurança, segurança cibernética e auditorias financeiras e contábeis (due diligence). O contrato com a Cemig foi firmado por inexigibilidade de licitação no dia 23 de abril deste ano, conforme publicação no Diário Oficial de Minas Gerais. O valor é de R$3.476.042,92 por um ano e o objetivo são “serviços técnicos especializados de assessoria forense e econômico-financeira”.

A Kroll, que no Brasil tem sede em São Paulo, depois de informar que não iria se manifestar, enviou nota à redação às 21h. (Confira o posicionamento da Cemig e da Kroll ao final da reportagem)

CPI também aprovou convocação de 12 pessoas 

Ainda na sessão desta segunda, os deputados aprovaram requerimentos para a aprovação de 12 pessoas, sendo 11 delas funcionários ou ex-funcionários de altos cargos da Cemig, como gerência, diretoria e superintendência. O único que não é ligado à estatal é o advogado Florivaldo Dutra de Araújo, doutor em Direito, procurador da Assembleia Legislativa e que tem experiência com contratos sem licitação. O calendário dos depoimentos ainda deve ser divulgado posteriormente.

Também foram aprovados requerimentos para solicitar informações à Diretoria Estadual de Combate à Corrupção (Decor) da Polícia Civil e ao Ministério Público relativas a investigações realizadas envolvendo contratos e irregularidades na Cemig. 

Posicionamento da Cemig

"A Cemig esclarece que realizou a contratação da empresa de investigação forense Kroll, dos escritórios Sampaio Ferraz e Terra Tavares Ferrari Elias Rosa, no Brasil, e Paul Hastings, em Nova Iorque, para, dentro dos estritos limites de sua atuação corporativa, proceder a investigação independente de denúncias recebidas do Ministério Público do Estado de Minas Gerais.

A Cemig tem ações listadas nas bolsas de valores de São Paulo (B3), Nova Iorque (New York Stock Exchange - NYSE) e Madri (Latibex) e está sujeita às normas anticorrupção dos Estados Unidos da América (Foreign Corruption Practices Act), razão pela qual denúncias como as recebidas do MPMG, por sua amplitude e possíveis desdobramentos, devem atender também aos padrões de investigação exigidos pelas autoridades norte-americanas.

A Cemig informa ainda que adota regras rígidas de compliance e as melhores práticas de governança e transparência em suas ações."

Posicionamento da Kroll

A Kroll atua com investigação forense há quase 50 anos, sendo pioneira e líder mundial em serviços de governança, risco e transparência em mais de trinta países.

A empresa integra o time de investigação independente contratado pela Cemig para apurar denúncias recebidas pelo Ministério Público de Minas Gerais. A Kroll atua estritamente dentro da lei e não tolera qualquer tipo de atividade ilícita, assim como não admite afirmações levianas e incorretas sobre sua atuação.

Atualizada às 21h40

 

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