Em Carmo da Mata

Deputado pede leitos de Covid em hospital não capacitado e é chamado de ladrão

Secretaria de Saúde diz que Santa Casa não está no Plano de Contingência para atendimento à Covid-19 por um perfil de atendimento de baixa complexidade hospitalar

Por Lucas Henrique Gomes
Publicado em 29 de março de 2021 | 17:18
 
 
 
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O deputado estadual Cleitinho Azevedo (Cidadania) fez uma transmissão ao vivo pelas redes sociais nesta segunda-feira (29) que acabou em confusão e com a presença da Polícia Militar na Santa Casa de Misericórdia em Carmo da Mata, na região Centro-Oeste do Estado. Ao cobrar a internação de pacientes com coronavírus na instituição que está vazia e entrar no espaço sem a autorização, o parlamentar foi chamado de “ladrão”, “vagabundo” e acusado de invasão pela provedora do local, conhecida como Petita. Veja o vídeo ao final da matéria.

 

Azevedo estava acompanhando de um vereador de Divinópolis, da mesma região, que esteve no local nesse domingo (28) também sem ser convidado. Por meio de nota enviada à imprensa, entretanto, a Secretaria de Estado de Saúde afirmou que o hospital visitado pelos políticos não é capacitado para receber pessoas com suspeita ou diagnosticadas com Covid-19.

 

“A gente está em uma situação de guerra, Divinópolis está com mais de 300% de ocupação, enquanto tem hospital aqui vazio. Eu vou atrás porque o governo tirou o hospital de campanha em Belo Horizonte, então vamos pegar e distribuir (os pacientes) para a região. Vamos usar aqui, vamos mostrar que tem estrutura, tem até respirador.  Por que está levando para Oliveira e não usa aqui? Não é falta de dinheiro, é de vergonha na cara.  Se aqui tá aberto e tem como receber, traz para cá”, disse o deputado no início do vídeo.

 

Um responsável pelo local impediu os dois políticos de adentrarem ao hospital enquanto o prefeito da cidade ou a provedora do hospital não autorizassem, mas Cleitinho entrou nas dependências da instituição mesmo após ser repreendido pelo diretor do hospital que o acompanhava. Após perguntar o diretor se tinha algum paciente no local e ter a resposta negativa, Cleitinho Azevedo chamou toda a equipe dele e a do vereador para  entrar também mesmo sem autorização.

 

O parlamentar estadual filmou o local após o diretor convidá-los a entrar depois de ligar para responsáveis. Ao ver macas vazias e aparelhos médicos, Cleitinho Azevedo questionou por que pessoas com Covid-19 não estão no local e teve como a resposta a ausência de infraestrutura e pessoal capacitado, além da Santa Casa da cidade não ser referência para a doença e encaminha os casos suspeitos para Oliveira e Divinópolis, cidade onde o prefeito é irmão de Cleitinho Azevedo.

 

“Aqui tem capacidade para receber 75 pessoas,  não pode ficar barato assim não porque meu irmão está sendo crucificado porque precisou fechar comércio e estão achando que ele é comunista. Você acha que meu irmão quer fechar? Mas tudo sobra para Divinópolis, é esse sistema vagabundo que não resolve as coisas, aí sobrecarrega Divinópolis, tão taxando a gente de comunista por fechar comércio”, declarou.

 

O diretor do hospital explicou para os presentes que o local é um pronto atendimento 24h de urgência e emergência e reafirmou que não há condições de receber pacientes com coronavírus. A Santa Casa de Carmo da Mata enviou, ainda, dois respiradores para Oliveira, cidade vizinha, como ajuda no tratamento de pacientes.  Cleitinho questionou então, que pacientes de outras cidades poderiam ser encaminhados ao município para realizar cirurgias, mas a Onda Roxa do programa Minas Consciente suspende a realização de cirurgias eletivas pelo Estado.

 

Minutos depois, Petita, provedora do local, chegou ao local e iniciou uma discussão com o deputado estadual. “Vocês invadiram o local, ele (diretor) não deixou entrar. A polícia está aqui, a polícia vai intervir e tirar esse moço de dentro. Moleque! Agiu como moleque e ladrão e está com medo de ser preso, tinha que ser preso mesmo, vai fazer política lá na sua terra, bando de vagabundo, cambada de ladrão”, disse a mulher.

 

O deputado não aceitou as críticas e, ao encarar a provedora, disse que poderia ser chamado de burro, mas de ladrão não. 

 

Após a chegada de outro diretor e com os ânimos mais calmos, o deputado encerrou a transmissão após ser informado, mais uma vez, que o hospital não é conveniado pelo Estado para receber pacientes com coronavírus.

 

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde afirmou que o hospital mostrado no vídeo “não está inserido no Plano de Contingência para atendimento a pacientes com Covid-19, já que tem um perfil de atendimento de baixa complexidade hospitalar” e que “essa unidade não conta com rede de gás medicinal hospitalar (que possibilita a chegada de oxigênio a pacientes, por exemplo), respiradores e monitores em quantidade suficiente”. “A unidade também não dispõe de equipes médicas para atendimento 24 horas. A disponibilidade de um leito hospitalar, seja clínico ou de terapia intensiva, especialmente para tratamento de pacientes com Covid-19, requer o cumprimento de normas técnicas e equipamentos específicos, que não são oferecidos pelo Hospital Olinto Ferreira. Apenas na macrorregião Oeste, da qual faz parte o município de Carmo da Mata, o Governo de Minas abriu 153 leitos de UTI desde o início da pandemia, passando de 109 para 262 leitos”, diz a nota.

 

Já a Prefeitura de Carmo da Mata disse que “sobre a acusação da cidade contar com um hospital vazio, mesmo com os leitos de outros municípios estarem lotados, é importante consignar as implicâncias de tais acusações”. “Mesmo com a estrutura física, a Santa Casa não possui aparelhagem, tampouco conta com quadro de profissionais suficientes para fazer atendimento de internação de pacientes com Covid-19. Para tal, além de respiradores, é preciso de um médico horizontal, ou seja, disponível para acompanhar pacientes intubados, por exemplo. Vale lembra que a Santa Casa não possui ar comprimido e oxigênio em rede, assim apenas as balas de oxigênio não suportam os respiradores. Diante da situação atual do hospital e da gravidade do que está acontecendo em nosso país, não há como manter um paciente com coronavírus apenas com o oxigênio de bala”, ponderou.

 

Já em relação aos leitos filmados vazios, o Executivo municipal afirmou que os políticos não se atentaram “em pesquisar a situação daquela unidade hospitalar” porque “se houvesse a possibilidade de internar pacientes com Covid na cidade, a prioridade seria para os carmenses, o que não é possível e pode ser observado quando Carmo da Mata possui pacientes internados em outras cidades, vitimadas pelo coronavírus”.

A reportagem procurou o deputado e aguarda retorno.

Veja a transmissão feita por Cleitinho Azevedo:

 

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