Queixas

Deputados demonstram incômodo com atuação eleitoral de secretário de Saúde de MG

Para os parlamentares, Carlos Eduardo Amaral e o secretário-adjunto da pasta, Luiz Marcelo Cabral Tavares, estariam usando os cargos de olho nas eleições de 2022

Por Pedro Augusto Figueiredo
Publicado em 11 de março de 2021 | 18:59
 
 
 
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Além do episódio envolvendo a própria vacinação e a de outros 805 servidores, as ações do secretário de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, vinham despertando incômodo de parte dos deputados estaduais desde a semana passada. O motivo é que o secretário estaria usando do cargo para obter vantagens políticas visando as eleições de 2022.

A queixa se estende também ao secretário-adjunto de Saúde, Luiz Marcelo Cabral Tavares. Os dois foram candidatos a deputado federal nas eleições de 2018 pelo partido Novo. Amaral teve 19.683 votos e Tavares, 4.772.

Segundo deputados ouvidos pela reportagem, mas que pediram para não serem identificados, os comandantes da Secretaria de Saúde estariam realizando investidas nas bases eleitorais em todo o Estado fazendo uso da estrutura da secretaria.

“Tem um certo incômodo dos deputados com investidas tanto do secretário quanto do secretário-adjunto nas bases eleitorais. Nos finais de semana estão sempre, com a estrutura da secretaria, fazendo campanha”, disse um deputado influente.

Outra queixa é em relação à utilização das redes sociais por parte de Carlos Eduardo Amaral. Durante a sabatina na última quarta-feira (10), o presidente da Comissão de Saúde, João Vítor Xavier (Cidadania), perguntou ao secretário o motivo dele terminar algumas publicações convidando os usuários a mandarem mensagem para um número de celular para receberem notícias atualizadas sobre a Covid-19. O número tem DDD 32, o mesmo de Juiz de Fora, cidade onde o secretário trabalhava antes de assumir a pasta.

“Gostaríamos de saber por que esse cadastro tem sido feito nas redes sociais do senhor e não um mecanismo público, de gestão do Estado de Minas Gerais. Gostaria de saber se esse número é do senhor, da assessoria do senhor, da Secretaria de Estado, inclusive em respeito à lei de preservação de dados. O que tem sido feito com esses dados do cidadão mineiro que se cadastra?”, questionou João Vítor Xavier.

“Minhas redes sociais são privadas. A gente tem que separar muito claramente uma coisa da outra. O que é privado, é privado”, respondeu o secretário Carlos Eduardo Amaral, na ocasião.

Embora Xavier não tenha deixado explícito, a suspeita entre os deputados é que Carlos Eduardo Amaral esteja construindo um cadastro de números de telefone para usar como base para disparos de mensagens em massa nas eleições. A legislação eleitoral permite os disparos, mas desde as eleições de 2018 é proibido que as bases de dados com os números de telefone sejam compradas. 

Desde então, os usuários têm que ceder voluntariamente seus contatos, aumentando o grau de dificuldade de obtenção desses números de telefone, o que fez com que políticos adotassem diferentes estratégias para construir as próprias listas de contato.

Para João Vítor Xavier, a linha que separa o público e o privado é tênue. “A rede social do senhor, o senhor não assina como Carlos Eduardo. O senhor assina como Dr. Carlos Eduardo, secretário de Estado de Saúde”, afirmou.

“Eu não seguia o Carlos Eduardo Amaral. Com todo respeito, eu não o conhecia. Eu sigo o secretário de Estado de Saúde. E no momento que o senhor pede para que o cidadão mineiro se cadastre, esse dado não é de uso privado do senhor. Não é o cidadão Carlos Eduardo Amaral quem está pedindo. Quem está pedindo é o secretário de Estado. Esses dados são um patrimônio da secretaria ou um patrimônio eleitoral?”, continuou João Vítor Xavier.

Como resposta a essa fala, o secretário mencionou que a Secretaria de Saúde tem um cadastro próprio, assim como grupos de mobilização. “Existe uma dissociação muito clara de uma coisa para outra, pelo menos na minha visão”, afirmou Carlos Eduardo Amaral.

A reportagem pediu um posicionamento do governo de Minas durante a tarde desta quinta-feira, mas até a publicação desta matéria não havia obtido retorno.

Sem clima na ALMG, secretário recebe respaldo de Zema e continua no cargo

Carlos Eduardo Amaral se reuniu com o governador Romeu Zema (Novo) na manhã desta quinta-feira (11). Ele foi cobrado a dar mais esclarecimentos sobre o episódio da vacinação antecipada de servidores administrativos da Secretaria de Saúde. 

Alguns integrantes do governo o orientaram a deixar o cargo. O governador também recebeu conselhos no mesmo sentido. Após a reunião, Zema foi às redes sociais e disse que determinou que os órgãos de controle do Estado investigassem se a fila da vacina foi furada.

“Reafirmei que determinei que os órgãos de controle do Executivo apurem o processo de vacinação de servidores. O secretário prestou esclarecimentos e me garantiu que todas as ações adotadas são técnicas e legais”, escreveu o governador.

Do lado da ALMG, não há clima para que Carlos Eduardo Amaral permaneça no cargo, embora os deputados façam a ressalva de que a caneta é do governador. “Não sei porque ele ainda não caiu. Muito óbvio para mim”, disse um deputado que pediu para não ter a identidade revelada. “Em condições normais já teria caído”, disse outro.

Até um integrante da base do governo considera que o secretário já deveria ter sido demitido. Pesa, até aqui, para que Zema não o demita, o fato de Amaral conhecer a fundo os problemas trazidos pela pandemia, que vive o pior momento. Integrantes do governo avaliam também que pode haver dificuldades para encontrar outro nome com o mesmo conhecimento do secretário atual e, por isso, resistem a uma troca.

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