Reforma administrativa

Dilma dá posse a novos ministros e pede que dialoguem com Congresso

Dez ministros assumem nesta segunda, como parte de reforma administrativa anunciada pela presidente na última sexta-feira; veja o perfil deles

Por Luiza Muzzi / Folhapress
Publicado em 05 de outubro de 2015 | 15:27
 
 
 
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No momento em que enfrenta dificuldades com sua base aliada na Câmara dos Deputados, a presidente Dilma Rousseff orientou nesta segunda-feira (5) sua equipe ministerial a dialogar com o Congresso Nacional.

Em cerimônia de posse de dez ministros, realizada no Palácio do Planalto, a petista afirmou que seus novos e antigos auxiliares têm o dever de manter contato permanentemente com deputados federais, partidos políticos e com movimentos sociais.

A falta de diálogo é uma das principais críticas feitas ao atual governo federal, tanto por movimentos de esquerda como por parlamentares da própria base aliada.

"A principal orientação que dou aos novos ministros, e aos ministros que continuam no governo, é: trabalhem ainda mais, com mais foco, com mais eficiência, buscando fazer mais com menos. Dialoguem muito e sempre com a sociedade, com os parlamentares, com os partidos e com os movimentos sociais", disse.

Em meio à ameaça de abertura de um processo de impeachment na Câmara dos Deputados, a petista ressaltou que seu governo irá até o final de 2018 e reafirmou que a reforma ministerial tem também como objetivo garantir "mais equilíbrio" à coalizão que a apoiou na disputa do ano passado.
"Nós temos um Brasil para governar até 2018", afirmou.

Em discurso, a petista afirmou que o corte de oito pastas e a redução dos salários de ministros é uma medida de reequilíbrio fiscal. Ela anunciou que a Comissão Permanente para a Reforma do Estado, que terá como objetivo reorganizar a administração federal, será presidida pelo ministro Nelson Barbosa (Planejamento).

Segundo a petista, o grupo será composto ainda pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda) e Jaques Wagner (Casa Civil), além de nomes de fora do governo federal que serão convidados a participar.

Bronca

No início de seu discurso, a presidente fez uma retificação à fala do chefe de cerimônia, que errou a ordem do nome do novo Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Ao anunciar a ministra Nilma Lino, que assumirá a pasta, ele citou Direitos Humanos antes de Mulheres.

"Eu queria fazer uma retificação antes de começar a falar. O Ministério é das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Nós erramos a ordem, peço desculpas", disse.

Na sequência, ao ler a lista de agradecimentos, a petista se deparou com o mesmo erro no nome da pasta e chamou novamente a atenção de sua equipe de auxiliares, o que arrancou risos da plateia.

"Errado, está vendo? Está errado. As mulheres vão entender porque insisto na ordem. É Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Eles insistem, eles insistem", disse.

Novidades

As duas principais novidades são a troca de Aloizio Mercadante na Casa Civil por Jaques Wagner (que deixa a Defesa) e a demissão do petista Arthur Chioro (Saúde) para abrir espaço para um deputado peemedebista na pasta que estava sob o comando do PT.

As duas mudanças foram sugeridas por Lula, que na quinta (1º) reuniu-se com Dilma em Brasília.
O ex-presidente sai fortalecido com a reforma, com três nomes de sua confiança no Palácio do Planalto: Jaques Wagner, Ricardo Berzoini, que assumirá a Secretaria de Governo, e Edinho Silva (Comunicação Social). Já Aldo Rebelo (PC do B) irá para a Defesa no lugar de Wagner.

Na nova configuração, o PMDB passou de seis para sete ministérios no governo -após o pedido de demissão de Mangabeira Unger da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos). Os outros peemedebistas da Esplanada serão: Eliseu Padilha (Aviação Civil), Henrique Eduardo Alves (Turismo), Eduardo Braga (Minas e Energia), Kátia Abreu (Agricultura) e Helder Barbalho (Portos).

Enquanto isso o PT, partido de Dilma, foi de 13 para nove pastas. Foi o ex-presidente Lula quem aconselhou a presidente a tirar espaço do PT e dar mais uma pasta ao PMDB, na tentativa de remontar sua base no Congresso.

PDT, PSD, PP, PR, PTB, PC do B e PRB têm um ministro cada. Outros oito ministros não têm partido.

Conheça os novos ministros

Ministério Chefe da Casa Civil – Ministro Jaques Wagner

Jaques Wagner nasceu em 16 de março de 1951 no Rio de Janeiro. Estudou no Colégio Militar do Rio de Janeiro e cursou engenharia na PUC do Rio de Janeiro. Vive em Salvador desde 1974, onde iniciou sua carreira profissional na indústria petroquímica. Foi governador da Bahia por dois mandatos consecutivos (2007-2014), ministro de Estado (2003 a 2006) e deputado federal pelo estado em três legislaturas (1990-2002). Durante o governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, foi Ministro do Trabalho e Emprego (2003), da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (2004/2005), e do Ministério das Relações Institucionais (2005/2006).

Ministério da Defesa – Ministro Aldo Rebelo

José Aldo Rebelo Figueiredo nasceu em Viçosa (Alagoas), em 23 de fevereiro de 1956. Escritor e jornalista, foi eleito seis vezes deputado federal por São Paulo, sempre pelo Partido Comunista do Brasil. Iniciou sua vida política como diretor do Centro Acadêmico da Universidade Federal de Alagoas e foi presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). Com mais de 30 anos dedicados à trajetória política, Rebelo foi líder do governo e do PCdoB na Câmara, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, ministro da Coordenação Política, presidente da Câmara dos Deputados e ministro do Esporte. Integra, atualmente, o conselho do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). Foi ministro do Esporte em 2011 e desde dezembro de 2014, era ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Ministério da Educação – Ministro Aloizio Mercadante

Nascido em Santos (SP), no dia 13 de maio de 1954, o ministro Aloizio Mercadante é graduado em Economia pela Universidade de São Paulo (USP), mestre em Ciência Econômica e doutor em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professor licenciado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e da Unicamp. No estado de São Paulo, foi eleito deputado federal em dois mandatos (1991-1995 e 1999-2003) e senador da República (2003-2011). Foi ministro da Casa Civil; de Ciência, Tecnologia e Inovação; e da Educação. Entre os livros publicados, destacam-se: Brasil: A Construção Retomada (2010), Observatório: Coletânea de artigos sobre a evolução do Brasil nos últimos anos (2009) e Brasil: Primeiro Tempo – Análise comparativa do governo Lula (2006).

Ministério do Trabalho e Previdência Social – Ministro Miguel Rossetto

Sociólogo, gaúcho, 53 anos, Miguel Rossetto é um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Eleito deputado federal em 1994 pelo PT, foi vice-governador do estado do Rio Grande do Sul no período de 1999 a 2002. Assumiu o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em 2003, onde permaneceu até 2006.  De 2008 a março de 2014 foi presidente da Petrobrás Biocombustível. Em 2014 voltou ao MDA onde permaneceu até assumir a Secretaria-Geral da Presidência da República.

Ministério da Saúde – Ministro Marcelo Castro

Médico formado pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e com especializações em psiquiatria, Marcelo Castro está no quinto mandato de deputado federal pelo PMDB do Piauí. Nasceu no dia 09 de junho de 1950, em São Raimundo Nonato (PI). Já foi deputado estadual, secretário da Agricultura do Estado do Piauí e presidente do Instituto de Assistência e Previdência do estado.

Ministério das Comunicações – Ministro André Figueiredo

Advogado, economista e empresário, André Figueiredo nasceu em 10 de novembro de 1966, em Fortaleza (CE). Está no terceiro mandado de deputado federal pelo PDT do Ceará. Já foi presidente do Sindicado dos Economistas do Ceará; subsecretário de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente; e secretário do Esporte e Juventude do estado.

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação – Ministro Celso Pansera

Celso Pansera é deputado federal pelo PMDB do Rio de Janeiro, eleito para 55ª Legislatura (2015 -2019). O novo ministro da Ciência e Tecnologia e Inovação nasceu em São Valetim, no Rio Grande do Sul, no dia 04 de outubro de 1963. Formado em letras/português pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e pós-graduado em Supervisão Escolar. Foi presidente da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) por sete anos, levando mais de 280 mil vagas profissionalizantes gratuitas por ano à população.

Secretaria de Governo da Presidência da República – Ministro Ricardo Berzoini

Ricardo José Ribeiro Berzoini nasceu em 10 de fevereiro de 1960, em Juiz de Fora, MG. Bancário, ingressou no Banco do Brasil em 1978 e a partir de 1985 iniciou a carreira sindical em São Paulo. Foi eleito quatro vezes Deputado Federal pelo PT: em 1998, 2002, 2006 e 2010, mandato em que foi presidente da Comissão de Constituição, de Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados. Ocupou na Administração Federal os cargos de ministro da Previdência e Assistência Social (2003-2004); ministro do Trabalho e Emprego (2004-2005); ministro Chefe da Secretaria de Relações Institucionais (2014) e ministro das Comunicações (2015).

Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos – Ministra Nilma Lino

Natural de Belo Horizonte (MG), Nilma Lino Gomes é pedagoga, mestra em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP) e pós-doutora em Sociologia pela Universidade de Coimbra. É docente do quadro da UFMG e pesquisadora das áreas de Educação e Diversidade Étnico-racial, com ênfase especial na atuação do movimento negro brasileiro. Foi a primeira mulher negra a chefiar uma universidade federal ao assumir o cargo de reitora pro tempore da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB) em 2013.

Peemedebistas mineiros se mostram contentes com reforma

Membros da bancada mineira do PMDB na Câmara dos Deputados demonstraram satisfação com o espaço do partido após a reforma ministerial. O PMDB passou de seis para sete pastas, mesmo com a redução do tamanho da equipe. Newton Cardoso Jr., que chegou a ser cotado para assumir uma pasta na Esplanada, mas acabou ficando de fora, avaliou positivamente as mudanças, ressaltando que a participação do PMDB já estava sendo discutida há alguns dias, por iniciativa da própria presidente.

FOTO: Alex Ferreira/Camara dos Deputados – 22.5.2015
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Opinião. Newton Cardoso Jr. avaliou positivamente as mudanças

“Há muito tempo a bancada não tinha condições de indicar um deputado ou representante para participação no governo pelo qual nós fomos eleitos. Então, essa mudança nada mais é do que uma atualização da situação, que entendo ser positiva, apesar das fragilidades que o governo vem enfrentando”, ponderou.

Já o deputado Rodrigo Pacheco ressaltou que, mais importante que a contemplação do partido, foi o enxugamento “considerável” de ministérios. “Era uma bandeira que a gente estava defendendo, inclusive através de Proposta de Emenda à Constituição (PEC), justamente para que houvesse corte de gastos. Ainda dá para reduzir mais, mas esse já foi um gesto importante nesse momento de crise do país”, afirmou o parlamentar.

Enquanto isso, o deputado Mauro Lopes disse não saber se as mudanças contemplaram os anseios do PMDB, destacando apenas que acompanha o líder do partido em suas decisões. 

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